Sorriso Morto

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         Todo o espaço ficou em silêncio, quebrado apenas pelas batidas nas portas de metal na entrada do ginásio.

  Isso até a menina se curvar para frente, enquanto seus ombros balançavam. Então um som saiu de sua garganta rouca. O som que a jovem fez não foi muito diferente do que as pessoas doentes que ficaram para trás fizeram.

— Ei? — Chamou Minho — Você está bem?

  Ainda que não admitisse em milhão de anos, ouvir aquilo foi assustador. Estar no escuro com uma completa desconhecida era muito assustador. Mas, é claro, aquilo não era muito para alguém que havia passado uma noite no labirinto. Se aproximando com cautela, ele tocou em um dos ombros da jovem. Minho estava disposto a fazer o que fosse necessário, contudo se afastou ao constatar o que acontecia com ela.

— Não acredito... — Disse ele com um olhar afetado. — Você... Você tá rindo?

— Claro que estou! — A garota soltou uma risadinha e logo em seguida tossiu — Minho? Que droga de nome é essa? — Riu novamente, mas sem emoção. Ele teve a impressão de que ouviu ela dizer seu nome uma outra vez, mas também achou que poderia ser só mais um dos sons estranhos que ela estava fazendo após a corrida. Respirando fundo, a moça endireitou sua postura e resmungou: — Nome ridículo. — Sem esperar uma resposta, começou a andar se afastando.

  Minho, parado olhando ela se afastar, agradeceu pela pouca luz e por ela não olhar para trás. Seu rosto tinha uma cor vermelha de vergonha e raiva. Sim, raiva. Raiva por... seu nome? Pelas risadas desconexas dela? Por estar em um lugar que não tinha nenhum controle sobre nada?

Ele não sabia dizer, mas sentia a frustração correr por suas veias.

— Ah, nossa! — Disse enquanto jogava as mãos para o alto do modo mais Minho que podia. — Sério, mesmo? Não me venha com essa merda sem sentido, garota!

— Kathy. — Sua voz foi quase um sussurro. — Meu nome é Kathy, não me dê apelidos. — Sentenciou ao arrumar a mochila em suas costas.

  Minho estava prestes a iniciar uma discussão com aquela metida a besta quando um estrondo os fez saltar de susto e virar em direção as portas. O som de algo pesado arrastado em cimento encheu o ar.

— Que mértila é essa!? — Berrou Minho acima do som.

  O armário que estava impedindo a abertura das portas tombou. Um "bam!" que estremeceu o chão e ecoou infinitamente pelo espaço amplo. E então, silêncio. Nada além das respirações rápidas e irregulares dos dois jovens, assustados e parados no meio do lugar. Nenhum movimento, nada... Até que...

— Ei! Quem tá aí? — Gritou Minho.

Kathy quase berrou ao ouvir a voz de seu acompanhante rasgar o ar com tanta violência.

— Idiota! — A menina se jogou sobre ele, trancando os lábios de Minho com suas mãos. — Cale essa maldita boca! — A pressa em seus cochichos 

  E então os dois viram dois vultos passando rapidamente por um vão na entrada. As sombras tomaram rumos opostos e sumiram sem eixar rastros. Foi como se tivessem sido nada mais do que uma impressão... Kathy, que estava sobre as costas de Minho, sabia que não era mera alucinação. Ela sabia que eles estavam ali. Sua mão posicionada contra os lábios de Minho perdeu a força e caiu. Todo seu corpo parecia pesado, sem força, até mesmo seus dedos tremiam! Kathy queria poder sair desse inferno, queria que tudo fosse um pesadelo do qual pudesse sair ao acordar. Kathy queria muitas coisas, mas seus pensamentos se embolaram quando um dos vultos surgiu novamente. Um deles, uma pessoa doente, uma coisa que a assustava estava ali, correndo a sua direita e se escondendo onde ela não podia ver. Sim, aquilo que a apavorava estava ali e estava muito perto deles.

EM REVISÃO • Deserto MortalWhere stories live. Discover now