Mensagem Morta

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  Durante o almoço, o lanche que era servido à tarde e agora, durante o jantar. Todo o tempo em que podiam sair do quarto, Minho aproveitava para procurar Madison.
  Não via a jovem desde a noite anterior. Se bem que nem mesmo havia entendido aquela noite. Mas sentia, em algum lugar, que algo estava terrivelmente errado.
  Todas as vezes que alguem entrava no refeitório ele erguia a cabeça. Em nenhuma das vezes era ela.
  Perdeu as esperanças quando viu Janson entrar no recinto. Ele mesmo carregava seu aparelho eletrônico, o qual Minho descobriu que se chamava WorkPad.
- O que houve com ela...? - Perguntou a ninguém.
  Newt o encarou. Deu suspiro pesado. Revirou os olhos e continou a comer a sopa que fora servida.
- Já lhe disse pra esquece-la. - Resmungou parecendo um tanto irritado.
- Não falei com você, maricas. - Retrucou Minho.
- Ótimo. - Newt deu de ombros. - Vá atrás dela, então. Mas depois não chore perto de mim, ou vou matar você.
  Todos olharam para o loiro. Embora devessem parecer brincadeira, as palavras pareciam muito reais. Como se Newt realmente quisesse matar Minho.
  O loiro deu de ombros e os outros esqueceram o assunto. Enquanto Minho nem mesmo o ouvira, preocupado demais com o que quer que tivesse acontecido com Madison. Outra vez, decira que acreditaria na garota. Em parte dela, ao menos. Daria um jeito nisso depois.
  Lembrou do sangue escorrendo por seus antebraços até os cotovelos. "Ela tentou se matar... Será que ela...". Ofegou, agitou a cabeça negativamente. Tentou afastar aquele pensamento.
- Ih... Que houve, Trolho?
  Olhou ao redor e encontrou Caçarola o encarando. Tinha até esquecido da existência do cozinheiro. Nem mesmo tinha consciência de que ele havia vindo na incursão.
- Por acaso isso é saudade de minha comida? - Sorriu e apontou para a sopa que Minho deixou intacta.
- Sinceramente? - Falou Newt. - Preferia comer dez pratos da comida ruim do Caçarola, a ter que comer isso.
- E eu nunca pensei que diria isso, mas... - Caçarola suspirou e remexeu com a colher a sopa. - Saudades da Clareira...
  Um silêncio se instalou na mesa dos jovens. De repente todos se lembraram dos outros que deixaram no Berg. Winston ferido, Jeff, Jackson... Egoísmo era a palavra que rodeava a mente dos jovens. Tanto dos que estavam presos na Sede, como os que ficaram na aeronave.
  Voltaram para o quarto ainda em silêncio. Alguns, dos mais jovens, choravam sem emitir nenhum som. Desolados.
  Como nos outros dias, as luzes foram apagadas. Todos quietos. Isso até Thomas limpar a garganta alto depois de dez minutos.
- Já chega! - Disse ele. Todos perceberam que o Líder estava de pé no quarto escuro. - Vamos embora.
  Alguns Clareanos já se levantavam. Palavras de apoio foram ouvidas. Sussurradas de modo sigiloso. Não queriam ser descobertos.
- Não sei para onde, só não quero mais ficar aqui! - Dizia Thomas de modo entusiasmado. - Caçarola? Tem a mochila?
- Aqui! - O cozinheiro puxou o objeto de debaixo da cama.
- Lanterna e rádio? Estão aqui? - Perguntou Thomas pegando e abrindo o zíper.
- Guardadinhos em segurança! - Confirmou Caçarola.
  Um click baixo foi ouvido e o facho azulado cruzou o quarto. Todos os jovens já estavam de pé ao redor de seu Líder.
- Não aguento mais ficar comendo essa comida com gosto de privada. - Thomas sorriu. - Vamos usar o antigo plano de Kathy! Newt, leve alguém com você. Tente achar uma saída através dos dutos.
- Sei exatamente quem. - Murmurou o loiro. - Minho, vamos!
  A luz foi apontada para todos os lados, procurando o asiático em meio ao círculo. Não o acharam. Em seguida para a cama. O beliche que era dividido entre Thomas e Minho estava vazio. Chamaram por ele e vasculharam o quarto. Não estava em nenhum lugar.
- Ah, mas que... - O loiro grunhiu e correu para debaixo do terceiro beliche.
- Newt, pirou? - Indagou alguem.
- Aquele maldito... - Murmurou Newt saindo com as mãos cheias. Nelas estava o gradeado de proteção do duto de ar. - Ele foi atrás dela.

  Estava ficando bom naquilo. O corpo deslizava mais rápido pelos canos frios. A sensação de claustrofobia já havia sido dominada.
  Queria saber onde estava Madison. Tinha de saber. Sentia que morreria se não soubesse.
Alguns gemidos de agonia escapavam de seus lábios. Se espremia entre as placas ignorando a dor nos ombros, joelhos e cotovelos. Tinha de ir vê-la.
  Deu grito e empurrou a grade com toda a força. Saiu cambaleante e chamando por Madison. Ouvia a própria voz ecoando pelo espaço vazio.
  Vazio, sim vazio. O lugar estava sem ninguém. Como se nunca tivesse sido habitado.
- Madison...? - Sussurrava Minho.
  Cansou de procurar a garota. Já estava convencido do pior quando sentou na borda da cama. Algo escorregou pelo tecido da colcha e bateu contra a coxa de Minho.
  Era o pequeno aparelho eletrônico, o WorkPad, que Madison carregava para todo lado.
Nunca fora educado. E não foi difícil ligar o dispositivo. Logo estava vasculhando-o todo. Parou na segunda tela que lhe foi exibida. Um ícone de vídeo era exibido e seu título era "Minho".
- Se tem meu nome, é meu. - Pensou alto e abriu o vídeo.
  Madison. Seu rosto pálido, quase esverdeado, brilhando de suor. Olhos vermelhos lacrimejantes. Lábios tremendo e pronunciando as palavras de forma arrastada e engasgada.
  "Mais uma vez... Outra vez... Minho, como sempre, estraguei tudo. Perdão. Eu, provavelmente, não lhe contei toda a verdade. Preste atenção: o CRUEL não nunca vai deixar você, ou seus amigos, livres. Sempre vão querer mais e mais. Como parasitas, sempre e sempre, até que morram.
  "Estou divagando, gastando o tempo que não tenho..."
  Madison começou a murmurar coisas do tipo "Eles estão vindo". Uma risadinha histérica escapou dela. Piscou algumas vezes e sacudiu sua cabeça de um modo brusco.
  "Peço perdão pelas coisas terríveis que fiz. Mas vou pagar, estou pagando, pelos meus pecados. Antes de tudo, tenho que lhe contar: Minho, você sabia disso antes do Labirinto mas, desde que nos encontramos no Deserto... Você nunca pensou no motivo da minha presença ? Talvez você pense que o CRUEL me enviou ali por acaso. Bem, deixe-me te dizer, antes de ir para aquele inferno, eu soube que todos iriam passar por ali. Decidi que ajudaria vocês. Tudo de longe, claro. Se precisassem eu atiraria algumas facas naqueles malucos."
  Outra vez ela começou a rir. Seu rosto queimava em um tom de vermelho vivo. Então ela gritou. Lagrimava, gargalhava e gritava.
  "Meu Deus..." Sussurrou ela respirando ofegante. "Quando achei vocês naquele dia, não acreditei. E então VOCÊ voltou e ficamos JUNTOS!"
  Ela olhou para as próprias mãos. Os olhos esbugalhados. Tossiu, sorriu e voltou a falar. "Então eu contatei o CRUEL. Disse que estávamos juntos. Você acordou tarde naquele dia. Eu tinha dito a eles. Logo eles me deram a localização daquele prédio. Fomos para . E quando vocês todos dormiram, fui vasculhar os outros andares e achei as armas. Não sei por quê as deixaram para trás. Talvez tivessem esquecido... Lembrei do Berg que eu havia roubado. Criei o plano em minha mente. Para me vingar do CRUEL!!"
  De repente, Madison ficou triste. As palavras saíram tão cheias de dor que Minho sofreu com ela.
  "Duas semanas antes de nos encontrarmos, me jogaram no Deserto. Como se eu fosse um animal com o qual eles brincaram o quanto quiseram e depois descartaram... Eu os odiava... Tudo por eu não ser como você... Fiz tudo por eles e eles..."
  A garota olhou diretamente para a câmera. A cabeça pendendo para o lado. Piscou lentamente.
  "Eles me jogaram no inferno por eu não ser uma maldita sortuda Imune."

EM REVISÃO • Deserto MortalWhere stories live. Discover now