Sombra Morta

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  O tiro fora certeiro?
  Seu estrondo ecoou e foi seguido de um grito cortado.
- Minho...? - Chamou o intruso novamente, dessa vez mais baixo. O corpo caindo de joelhos.
- Quem é você? - A voz era de Kathy, toda ameaçadora.
- Minho, sou eu, Thomas!
  Por um momento, muito breve, só houve silêncio. Então uma pancada foi ecoada contra as paredes, gritos de frustração acompanharam tudo. Sons vindos de Minho.
- Que mértila! Não acredito nisso! Thomas é você? - Ele se aproximou da pessoa abaixada. - Kathy, ligue essas luzes!
  A janela foi fechada e as luzes ligadas. Todos piscaram atordoados, mãos eram erguidas para protegerem os olhos.
- Você tentou me matar. - Ofegou Thomas se levantando. Olhou ao redor até achar um furo, acima de sua cabeça, na parede. Deu um sorriso aliviado.
- Não brinca? - Tomado por uma emoção, Minho abraçou o amigo. - Se alguém atirar em você um dia, e te acertar, eu mato o sujeito a socos! - Ele riu e se afastou, dando tapinhas no ombro de Thomas. - Armas na minha mão, nunca mais!
- Concordo! Você atira como uma garota!
  Eles riram e foram interrompidos por um som de metal cortando o ar. Minho viu o outro garoto erguer uma das mãos e tocar uma área próxima a orelha. Pequenos fios de cabelo caíram no ombros e grudaram na palma de Thomas.
- O que disse? - Perguntou Kathy deslizando uma das facas pelos dedos.
- Quem é ela...? - Sussurrou Thomas.
- Deixe essa mértila de apresentações pra mais tarde. Onde estão os outros? - Minho sorria. Kathy é realmente louca, pensava ele.
- Na rua, escondidos. Um dos garotos disse que viu você em uma janela desse prédio, antes da tempestade começar. Tive de escalar até aqui... - Explicou Thomas.
- Podemos nos reunir aqui. É seguro. - Minho já se encaminhava para a janela.
- Calminha aí, chefe. - Kathy se pôs em seu caminho. - Quando foi que eu liberei minha casa para um bando de garotos estranhos? Não ouvi você pedir...
- Sério? Eles são meus amigos! - Argumentou ele.
- Estou esperando. - Disse ela.
  Ficaram um tempo se olhando. Pareciam casados por muito tempo. Kathy séria e Minho surpreso, chocado, irritado...
- Por... Favor... - Murmurou ele. As palavras vazando por entre os lábios apertados.
- Eu... Bem, eu acho que não ouvi... - Ela inclinou o ouvido mais perto da boca do garoto. Um pequeno arrepio passou por ela quando a respiração dele varreu sua bochecha e nuca.
- Por favor. - Repetiu mais alto e mais irritado.
- Ótimo. Eu vou buscar seus amiguinhos.
- Quê? Não, não vai, não! - Minho agarrou o braço dela.
- É perigoso você andar no deserto agora... - Interveio Thomas.
- Minho, me largue. - Kathy disse e se voltou para Thomas - É perigoso para você. Nem sei como está vivo até agora. Escalar o prédio foi uma ideia ridícula. - Se soltou de Minho, preparou as facas e se encaminhou para a entrada do segundo andar. - Eu vou lá.
- Kathy... - tentou Minho.
- Olha, se quiser que cada um deles escale as paredes, como macacos, por mim tudo bem. Mas espero que esteja pronto pra perder muitos deles. Se eu for, trago todos vivos.
  Não esperou resposta. Sumiu em meio a escuridão que emanava da escada do primeiro andar.
- Kathy? - A voz de Thomas tinha um tom de riso. - Ela é meio louca, não?
- É... Bastante. Mas ela salvou minha vida ontem, tantas vezes seguidas que nem sou como agradecer ela. É inteligente, intrigante, interessante.
- E atira bem melhor que você! - Ele olhou para a faca presa na parede. - Ah, só uma coisa... - Deu um pequeno giro, até ficar de frente com o outro. - Ela é gostosa? - Thomas deu uma risada pequena.
  De repente o momento na Clareira voltou na mente do Corredor, lembrando do dia em que conheceu Thomas. Estava sentado no chão, se recuperando de uma longa corrida, quando perguntou aquilo sobre Teresa. Não pode evitar o sorriso.
- Você, fazendo esse tipo de piada? - Provocou Minho.
  Os dois riram, mas logo tudo voltou ao silêncio. A Clareira voltando para seus pensamentos em segundos. Minho agitou a cabeça e andou até a janela por onde Thomas havia entrado. Abriu uma fresta, enviando um facho de luz para a parede do prédio à frente, e espiou a escuridão no lado de fora. Poucas pessoas se atreviam a andar na rua cheia de lama. Uma delas era Kathy, caminhando apressada até um grupo na porta de um prédio a esquerda de Minho.
  Pareceu conversar com algumas das pessoas que estavam ali. Uns se afastaram, outros a enfrentaram, mãos eram erguidas e apontadas para Kathy. Estavam discutindo.
  O brilho das facas de Kathy surgiram. Não feriram ninguém, mas apontavam para o prédio onde Minho estava em segurança. Havia uma insistência no posicionamento dela. Mas Kathy não iria convence-los.
  Com um empurrão, impensado, Minho abriu a janela assim que viu Kathy apontar em sua direção outra vez. Sua sombra se formando na parede oposta.
  Pessoas nas ruas próximas e nas calçadas apontaram para cima, chocadas.
- Minho! - Um sussurro gritado veio de suas costas. A sombra de Thomas apareceu e se foi, assim que a luz foi interrompida, quando ele bateu a janela.
- Eles não iriam vir com ela! - Se explicou Minho.
- Bom, talvez metade dos Cranks que estão lá embaixo venham com ela, agora. - Respirando fundo, colocando as costas na janela, Thomas olhou para o quarto todo. - Vocês estão ficando loucos. Como acharam este lugar?
- Foi ela. - Respondeu Minho sentando no chão. - Acho que é onde ela mora...
  Os dois vagaram os olhos por todo o recinto. Minho levantou, vendo os quadros nas paredes. Todos tendo como tema flores, campos, oceanos, árvores. Parecia que Kathy queria lembrar de como a Terra era antes de toda a confusão em que estava agora. O único que não seguia essa linha, era o quadro mais afastado.
  No canto, escondido e empoeirado, estava guardada em uma moldura em madeira a foto de uma família. Os dois adultos e, abraçados a eles, um garoto e uma menininha. A pequena estava no coloco do jovem e os dois sorriam. Sua mente vagueou para si próprio vendo aquilo. Não sabia quem eram seus pais, se tinha irmãos ou irmãs... O estômago embrulhou. Tinha prometido mentalmente que não se importaria mais com aquilo, já que não sabia o motivo de estar trancado naquele inferno indecifrável. Imaginou algumas vezes que havia sido posto ali pela familia. Mas, vendo os Cranks e o todo o estado em que o deserto se encontrava, tinha uma ideia do que havia ocorrido a sua família.
  Tomado pela dor da verdade, ergueu a mão direita para tocar aquela imagem. Então um pequeno brilho cruzou seu caminho.
  Uma pequena faca.
- Não toque nisso! - Berrou Kathy chegando ao segundo andar, acompanhada por um grupo de pessoas.
  Todos jovens, todos conhecidos. Guiados por Newt e Caçarola.

EM REVISÃO • Deserto MortalWhere stories live. Discover now