Sonhos Mortos

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  O Homem-Rato parou. Suas roupas brancas eram ridículas para Minho.
- Não é necessário que estudem esses... Mapas... - Disse ele com ironia. - Nenhum de vocês irá sair deste lugar.
  Silenciosos, os garotos se ergueram. Um por um, ficaram de pé. Olhavam para Janson como se fosse o próprio Diabo.
- Você...! - Minho deu um passo para ataca-lo.
  Newt segurou no braço de Minho. Agitou a cabeça negativamente, quando o moreno olhou furioso para ele.
- É bom ver vocês de novo. - Janson abriu os braços.
- Seu...! - Minho tentava se soltar do aperto de Newt. - Me larga, Newt!
  Janson deu um sorriso provocativo, cravado de sarcasmo. Minho o odiou mais. Queria poder socar aquela cara de rato até ela virar um bolo de carne moída.
  Foi quando guardas armados com Lança-Granadas invadiram o lugar. Apontavam para os jovens gritando palavras de ordem. Fizeram todos se afastarem dos mapas de Kathy e os pegaram.
- Aproveitem sua estadia, meninos! - Disse Janson, saindo com seus brutamontes. Os mapas indo junto, trancafiados ao passaram por uma porta invisível.
  Olharam para o lugar. Depois um para o outro. Pararam em Thomas, esperando que o Líder desse uma ordem ou algo do tipo.
- Temos de dar um jeito de sair. - Disse Minho.
- É, mas sem os mapas, como pretende fazer isso? - Newt cruzou os braços sobre o peito.
- Diga você, já que Kathy lhe contava tudo! - Minho não aguentou. Toda a pressão psicológica, as coisas das quais ele tanto fugira, parecia que tudo iria prensa-lo e esmaga-lo. Não aguentava mais fugir. Estava cansado de correr.
  Newt ficou rubro, coisa que era difícil de acontecer. "Ele entendeu tudo errado..." pensou ele.
- Em vez de ficar brigando aqui, deveríamos achar um meio dr fugir. - Thomas falou. - Deixem isso para depois.
  Começaram a tramar uma fuga.
  Mas Minho não estava participando. Ao contrário, estava longe dali. Sua mente vagueando no sonho, ou lembrança, que tivera.
  Madison. E a garota que estava ao lado. Lily.
  Quem eram elas? No sonho, Madison havia feito um Verdugo em massa de modelar. Seria ela criadora daquelas coisas? Impossível. A menina parecia ter seus 8 ou 9 anos...
  Vasculhou em sua fraca memória o sonho. Tentou lembrar do que vira sobre a mesa de Lily. Sabia que eram coisas estranhas... Lembrava que eram criaturinhas assustadoras...
  Sofreu um choque ao se dar conta do que eram. Lily tinha em seus desenhos, que por acaso eram muito bem feitos, os pequenos Besouros Mecânicos.
  Na mesa de Minho, Labirintos. De Lily, Besouros Mecânicos. Madison, Verdugos.
  Entendeu. Aquilo eram os testes, as aptidões que cada um tinha de melhor. Janson, no sonho, mencionara uma Segunda Fase e chamara escolhidos. Provavelmente aquilo servia para saberem quem mandariam para o Labirinto e quem ficaria criando os brinquedos mortais do CRUEL.
  O que mais o chocava, era que só eram crianças. Tanto ele, quanto as garotas ao seu lado, assim como todos os outros.
  Tentou não pensar naquele fato. Se prendeu nas garotas, tentando de todo modo descobrir quem eram elas.
  Lily parecia muito apegada com ele. Madison, embora nao tivesse conseguido ver seu rosto pois acordara no momento em que ela ergueu a cabeça, havia o chamado de amigo. Talvez fossem amigos.
  Respirou fundo. Odiava o fato de não poder lembrar. Talvez ele pudesse...
  "Prometa que não vai tirar o Dissipador..."
  Era uma promessa. Não podia quebra-la. Ainda mais depois do que houve.
  Frustado, resolveu prestar atenção em Thomas. Ele parecia incrivelmente animado com a fuga. Transpirava em excitação. Falava rápido e andava de um lado à outro.
- Vamos andar em todos os dutos, se for preciso, mas vamos sair daqui! - Ele terminou de falar.
- Por mim, está ótimo. - Minho colocou a mochila nas costas, pronto para partir. - Nada aqui me interessa, então vamos!
  A porta se abriu outra vez.
- Pessoal, pessoal... - O Homem-Rato entrou outra vez. Deu uma pequena olhada em um relógio de pulso e olhou para os garotos. - Já se passaram vinte minutos desde que entrei aqui. Bem, vamos mover vocês para um lugar mais confortável. Minha assistente virá até aqui daqui a pouco.
  Saiu. Ninguém entendeu nada.
- Maluco. - Newt murmurou irritado.
  "Você é um maldito Privilegiado sortudo" a frase era de Madison, no seu sonho... Mas ele já tinha ouvido aquilo antes.
"É o melhor dos Labirintos"
"Você vai e eu não"
  Onde...? Onde!?
- Kathy... - O nome escapou de sua boca antes que pudesse entender.
- Minho, ela... - O loiro disse e mordeu o lábio. - Ela...
- Não, Newt, não é isso. - Minho cortou o garoto. Não queria ouvir aquilo. - Eu vi! Vi ela!
  Os garotos deram passos para trás, se afastando de Minho.
- Acho que alguem tá maluquinho. - Caçarola comentou.
- Não, gente. Ontem, depois de tudo aquilo... - Respirou fundo duas vezes antes de continuar. - Uma lembrança, eu, eu tive uma lembrança.
  Minho gaguejava e articulava os braços em todas as direções. O rosto estava distorcido em confusão.
- E daí? - Resmungou Newt.
- Eu lembrei de como nos escolheram para aquela mértila de Labirinto. Nós eramos criança e vi Thomas, Newt, Teresa... E tinham duas meninas, uma loirinha, Lily e a outra...
- Era Kathy? - Interrompeu Thomas.
- Não, era Madison. - Concluiu Minho. - Sei que pode não fazer sentido, mas era... Era ela.
- Tem certeza? - Newt tocou o ombro do amigo.
- Não pude ver o rosto dela. Só supus que era pela maneira de falar. Talvez tenha sido apenas um sonho... Não sei.
  Um silvo baixo da porta se abrindo chamou atenção dos garotos. Por ela passou uma mulher. A cintura em curvas perfeitas eram vistas pelo vestido listrado em preto e branco. Os saltos vermelhos batiam suavemente contra o piso, e ela se equilibrava perfeitamente bem. As pernas torneadas e firmes. Vinha de cabeça baixa, o rosto escondido pelos fios castanhos. Nas mãos um pequeno aparelho eletrônico com o qual ela se entretia.
- Quem é ela? - Disse, um muito interessado, Caçarola.
- Se trabalha para o CRUEL, não queria saber dela nem se fosse minha mãe. - Revirando os olhos para longe, Minho disse.
- Não seja ridículo. - Disse a mulher. - Se fosse sua mãe, você iria querer vê-la. Mesmo se ela fosse uma fera diabólica.
  A mulher moveu o pescoço. Ficou ereta, uma postura impecável. Os braços passados pelo aparelho eletrônico, que era encostado em sua cintura. Embora os garotos não tenham tido muita experiência com isso, eles sabiam que palavra usar para descreve-la.
  Era ela sensual.
  No rosto não haviam marcas. De um branco limpo e liso. Os olhos castanhos varriam o quarto, passando de garoto em garoto. Nos lábios, um tom de vermelho escuro que realçavam seu sorriso cínico. Nas bochechas se viam dois pequenos furinhos, covinhas, que a deixavam mais linda. Mais provocante.
  Minho olhava para a mulher chocado. A boca estava aberta, assim como os olhos. Tinha a sensação de que o sangue havia fugido de seu rosto. O ar faltava em seus pulmões. O coração batia como na noite em que ficara preso no Labirinto.
  Ela, finalmente, olhou diretamente para ele.
  Suas mãos tremeram violentamente. Os espasmos subindo por seu corpo. Debaixo do olhar da mulher, ele se sentia tão... Ridículo.
  Não conseguia acreditar. Com a mente girando naquele sorriso dela, cambaleou se apoiando em Thomas.
  Pensou em uma pequena frase que Newt dissera naquela noite dos Lobos de Ferro:
  "Kathy é uma ótima atriz."

EM REVISÃO • Deserto MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora