Capítulo Treze

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   Eu só saí do meu transe momentâneo ao ouvir a porta bater e não ver mais as costas de Júlio.

—Se eu for atrás dele agora, —comecei quando olhei para Henrique, que olhava preocupado para porta. —Você vai me impedir?

—Não, —ele disse dando sorriso, que até pareceu incentivador para eu ir. —Quem sou para impedir a pessoa que vai ajudar o meu amigo...

—Obrigada! —eu agradeci a ele, vendo que ele se preocupava com Júlio tanto quanto eu estava preocupada. Também por tudo até agora.

   A última coisa que vi quando atravessei a porta foi Henrique levar mão direita a cabeça como se me cumprimentasse como um soldado. Não duvidaria se ele já tivesse estado no exército...

   Deixei de pesar em Henrique quando me vi no hall da entrada e não via a sombra de ninguém. Nem a recepcionista e nem mesmo os seguranças. Sem ela lá não tive tempo de ficar procurando o meu sobretudo, então sem pensar corri para fora. Os saltos nos meus pés não ajudavam na minha pequena corrida. Ao chegar no patamar das escadas pude ver Júlio se aproximar de seu carro estacionado. Ainda não pensando muito bem desci rapidamente as escadas e corri desajeitadamente em sua direção. Não sei como não caí e não acabei quebrando meu tornozelo, mas consegui chegar no carro de Júlio antes dele arrancar. Sem cerimônia alguma entrei no banco do passageiro.

—Seja lá para onde você está indo... —eu disse quando feche a porta. —eu irei com você!

   Assim que afivelei meu cinto olhei para ele, que não olhou para mim, somente apertou os olhos fechados antes de abri-los e pisar no acelerador sem a menor sutileza.

   Assim que já não se via os portões daquela maldita casa pensei que a tensão que irradiará do corpo de Júlio, antes mesmo de entramos nesse carro, diminuiria. Mas eu estava enganada. A tensão misturada com a sua raiva, que eu via ser demostrar em eu aperto no volante e até mesmo no acelerador, junto com seus olhos duros presos na estrada; me diziam que esse encontro com Alberto o deixará perto de um abismo longo e escuro em sua mente. Mesmo não sabendo o que fazer para melhorar aquilo que o afligia, prendi meus olhos nele e permaneci calada. Sabia que ele sentia meus olhos nele, como eu sempre sentia quando seus belos olhos estavam presos em mim. Essa era a minha forma de mostrar que eu estava ali e não sairia até que ele estivesse bem novamente. Mas também eu não estava ali só porque uma culpa entrava em mim, pois ele estava assim por minha causa, mas também porque eu sentia uma preocupação vinda do meu coração para com ele.

   Permaneci quieta mesmo tendo um incomodo friozinho na barriga a cada aumento de velocidade do carro e a cada curva fechada. Não tive em nenhum momento medo real de que Júlio fosse fazer algo, mesmo quando as coisas ao redor da estrada se tornaram cada vez mais escuras e fechadas com árvores e pinheiros altos. Parecia até mesmo os arredores da casa de Henrique, mas a paisagem mesmo sendo parecida, não era a mesma. Pois não tinha nenhum sinal de casa por aquela estrada completamente silenciosa e vazia. Nem mesmo tive medo quando Júlio parou o carro quase que bruscamente perto de um penhasco aberto, que se encontrou ao final de uma curva bem fechada. Isso explicitava o quanto eu já confiava nele. Não poderia me ver há dois meses atrás num lugar como esse com qualquer homem perto...

   Fiquei pelo menos um minuto sentada extremamente parada quando Júlio saiu do carro batendo a porta. Olhei sua figura ir até a parte onde havia o acostamento de vigas de madeira naquele curto pedaço de terra antes de um penhasco imenso parecer se abrir. Novamente evitando pensar tirei os maléficos saltos dos meus pés antes de sair do carro. Assim que pisei meu pé descalço no chão e bati a porta delicadamente do carro, senti o frio da noite bater em meus braços descobertos e despreparados. Estava relativamente muito, muito, frio esta noite. Não sabia que horas eram neste momento, mas a lua prateada grande e redonda no meio do céu azul límpido, me fez pensar que talvez fosse depois da meia-noite. Não estava necessariamente muito claro, mas eu conseguia ver algumas coisas em volta por causa da bela lua cheia.

Perdendo-se pelo CaminhoWhere stories live. Discover now