-Já estamos chegando, Memelha. Preparada para o seu primeiro dia de aula?
-Não... E meu nome é Amélia, mãe! - fiz cara feia. Minha mãe insistia em me chamar assim desde que me entendo por gente, mesmo sabendo que eu detesto esse apelido.
Graças ao chato do meu irmão Alan e ao seu maldito curso de Medicina que ficava no Ceará, nos mudamos para Fortaleza. Meus pais me fizeram largar tudo: minha cidade natal, meus amigos e minha outra escola, para vir morar nesse lugar, mesmo eu tendo implorado para ficar em Minas. E aqui estou eu, indo para o primeiro dia de aula, será que tinha como piorar?
-Sorria filha, essa é sua chance de fazer novos amigos!
-Não, obrigada. Estou muito satisfeita com os meus, que por sinal não os verei por um bom tempo, não é? - reclamei.
-Ah, larga de ser dramática! Você já tem 16 anos e precisa se acostumar. Seu irmão está tão feliz com a mudança... Você deveria ficar também.
-Ah, claro. Não conheço ninguém e estou prestes a andar sozinha pelos corredores até o fim do ano - fiz drama.
-Não exagere. Você é linda e por incrível que pareça, simpática. Vai se sair bem - por mais que ela tentasse fazer eu me sentir melhor, não estava funcionando. Por dentro, eu continuava insegura.
Cruzamos uma rua e o carro percorreu mais uns duzentos metros aproximadamente.
-Pronto. Está entregue.
Já estava abrindo a porta.
-Ei.
-Que foi? - coloquei a bolsa nos ombros.
-Vai sair assim? - ela estava olhando para meu cabelo.
-O que é que têm? - perguntei, confusa.
-Ele está meio armado, não acha?
Fiz uma careta.
-Bom, pensei que no seu primeiro dia você iria querer caprichar, uma chapinha quem sabe...
-Sinceramente, não estou nenhum pouco afim de caprichar - detesto quando reclamam do meu cabelo, parece até que preciso alisá-lo para ficar bonito. - E nós duas sabemos que chapinha nenhuma resolve isso! - apontei para meus cachos grandes e volumosos.
Na verdade, nunca fiz questão de usar chapinha ou fazer alguma química, sempre me senti bem assim.
-Se você diz...
Fecho a porta do carro e começo a andar.
-Filha? - minha mãe quase grita. - Boa sorte!
Hoje definitivamente não era o meu dia.
Ela foi embora e eu fiquei ali, na porta do meu novo colégio. Pessoas estavam entrando e pais saindo, provavelmente para deixar os filhos nas salas. Na visão que eu tinha, era tudo bem grande e bonito também. Entrei pelo grande portão de ferro recém pintado de azul e fui procurar a minha sala. Acabei indo para o pátio. Muito grande por sinal. Dei meia volta e subi as escadas com seus corrimãos da cor do meu esmalte azul e andei até o primeiro corredor que encontrei, com mais ou menos uns dois metros e meio de largura. Esse colégio é enorme. Portas por todos os lados e ao lado de cada uma delas, tinha os números das turmas. Só queria encontrar o número 3 junto com a letra B, essa era a minha sala.
Várias pessoas já tinham chegado e estavam encostadas na parede fria do corredor, alegres, conversando com seus amigos.
E eu sozinha.
YOU ARE READING
A Última Aposta
RomanceCaíque, um típico adolescente de dezessete anos, filho de um famoso empresário e irmão de Daniel, que está diagnosticado com leucemia desde os quatro anos de idade, era louco por uma aposta. Amélia, nascida em Minas Gerais, é obrigada a se...