Capítulo quarenta e cinco - Narrado por Caíque

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Estou imóvel, pasmo, boquiaberto e mais um montão de coisas.

De todas as coisas que poderia acontecer, essa com certeza foi a mais improvável.

Não faço ideia de como descrever a situação.

-Não - é tudo que meu pai consegue dizer.

-Sinto muito, Carlos - não há nenhum vestígio de dor na voz de Marcos. - Quem diria que a Daniela fosse capaz de fazer algo desse nível...

-Meça suas palavras ao falar da minha mãe - ordeno, meus olhos queimando de ódio. - Seu...

-Olha a boca, garoto.

Sinto uma necessidade enorme de partir para cima de Marcos e ensina-lo uma lição de uma vez por todas, mas me dou conta de que Rafael também está entre nós.

-Eu tenho um irmão - ele murmura, como se ainda não acreditasse. - O Dani... Ele também é meu irmão - seus olhos erguem-se e fulminam Marcos. - Você sabe o quanto desejei ter um irmãozinho, e nunca me contou! NUNCA!

-Um verme como você não aceitaria meu amor pela Daniela - ele suspira, e fico indignado pelo modo que trata seu filho. - E ninguém poderia descobrir nosso romance.

-Chama isso de amor? Tem certeza? - Rafa questiona, com desdém. - Pelo que me lembre, ela sempre esteve ao lado do Carlos.

-Porque este imbecil a corrompeu até não sobrar mais nada! - ele aponta o indicador para meu pai.

E então, tudo se encaixa como em um passe de mágica.

Marcos não armou tudo isso só para ficar com a empresa. Ele não queria só o nosso dinheiro.

Queria vingança.

Vingança por minha mãe sempre escolher meu pai, vingança por ela ter escondido que Daniel era seu filho.

Fico me perguntando se ela teria nos contado a verdade caso estivesse viva.

-Já chega - meu pai levanta as mãos algemadas. - Você vai entrar naquela maldita sala e vai doar sua medula ao meu filho. E vai fazer isso agora.

-Acho que não - Marcos balança a cabeça. - Foi escolha de sua mulher manter Daniel longe de mim... bom, que assim seja, então.

-Ela deve ter feito isso porque sabia como você costuma tratar seu filho! - meu pai olha para Rafael, e ele se encolhe como uma criança indefesa. - Certamente não seria diferente com Daniel.

-É, talvez... - Marcos diz, dando de ombros. - Bom, minha presença aqui já deu o que tinha de dar, não é mesmo? - ele começa a se dirigir à saída, mas é impedido por Rafael.

-Não - pela primeira vez, ouço sua voz firme diante de seu pai. - Você não vai a lugar nenhum.

-E é você quem vai me impedir? - ele ergue as sobrancelhas, na tentativa de esconder a surpresa em sua voz.

Acho que Rafael nunca enfrentou seu pai, pelo menos não de verdade. Deve ser por isso que ele limpa discretamente uma gota de suor que cai de sua testa.

-Se for preciso, sim - sua voz vacila um pouco.

-Ora... Saia já da minha frente, garoto estúpido.

-Não - Rafa insiste, e percebo que a cada segundo que passa fica mais difícil para ele.

Hora de interferir.

-Rafael...

-Para, Caíque - ele me olha rápido, mas volta a encarar seu pai. - Você foi a pior pessoa que eu já conheci na minha vida inteira, sempre me tratou como um lixo e deixou claro que minha vida não valia mais que a sua. Nunca valeu.

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