Capítulo I - Annemarie (REEDITADO)

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- Então é isso? Acabou tudo mesmo?

- Não se trata de acabar ou não. Já deu o que tinha que dar Marie! Olha, não é você...

- Eu fui descartada que nem um palito de sorvete e você vem me dizer que "deu o que tinha que dar"? Nunca mais olha na minha cara, Felipe. Esquece que eu fiz parte da sua vida, aconteça o que acontecer daqui por diante. - Annemarie saiu correndo de perto do ex. Poderia ter contado que a transa boba dera resultado, que ele ia ser pai. Descobrira no dia anterior, a menstruação atrasada dois meses e seis exames de farmácia positivos. Não havia chorado no banheiro do colégio onde estudavam, ficara assustada demais com as linhas duplas em cada tira-teste que atestavam sua gravidez. Fora ingênua em ter aceitado fazer sexo sem camisinha, mais ainda em ter aceitado a pressão que o rapaz fizera na ocasião. Ter perdido sua virgindade com Felipe não tinha sido a maravilha que pensara que seria, mas engravidar de primeira? Deus, que surreal.

Estava tudo tão confuso naqueles meses que ela nem mais sabia se queria ter contado. Não cabia a ela julgar se Felipe seria um bom pai. Dezoito anos era uma idade complicada. Já era dona de seu nariz e não era coisa nenhuma. Maria Cecília, a tia que a criava, colocava freio em tudo o que ela queria fazer ou ser. Esperava que sendo maior de idade a rédea afrouxasse, mas que nada! Apenas piorara o aperto. Fugira para a casa de Felipe todas as tardes, quando deveria estar estudando no Centur, fora longe demais no namorico e, com licença da expressão, dera para o rapaz e engravidara por pura burrice. "Burra!" Gritar consigo mesma não ia adiantar nada. Ela tinha que ficar calma e pensar numa solução. Estava com muito medo de tudo, dos tios, das irmãs, das amigas, do falatório que aquela gravidez iria gerar, do tempo que estaria perdendo por causa daquele bebê.

E não era culpa daquela criança. A sorte desta era Annemarie ser contra o aborto, a violação máxima à vida. Ela entrou em casa, muda e chorosa. A irmã do meio, Anna, vendo-a naquele estado, começou a perguntar, mas Marie foi taxativa:

- Não quero papo, Anninha... Me deixa em paz, ok?_ a menor ficou olhando para a irmã sentindo-se magoada. O que tinha feito?

Nada.

Nada ia mudar aquela situação, uma vez que tirar seu bebê estava fora de cogitação. De externo, nada mudara também, continuava a mesma garota alta de cabelos escuros e olhos verdes, branca como papel, nenhum sinal de barriga, nem nada que denunciasse a gravidez. Mas por dentro... Por dentro já se sentia mãe, em todos os sentidos. Já tinha alguma experiência cuidando das irmãs menores, já notava como partes de sua anatomia estavam ficando rijas demais. Seus seios estavam sensíveis, alguns cheiros, que antes a incomodavam levemente, estavam lhe dando ânsias de vômito, sua alimentação mudara algumas semanas atrás. Por um momento, quis que fosse apenas imaginação dela, que nada havia de errado. Seu relógio biológico e sua intuição diziam o contrário. As poucas lágrimas que lhe sobraram foram parar no travesseiro, soluços angustiados foram abafados pelo mesmo. Quando cansou de chorar, ela arrumou o rosto bagunçado e decidiu que ia à luta.

Ia fugir de casa?

Não exatamente.

Tinha a opção de sair amigavelmente de lá. Agora que era maior de idade, seu pai tinha deixado essa escolha ao encargo dela e das irmãs assim que a mãe delas morrera. Tônia seria um porto seguro no meio de toda essa loucura, Annemarie tinha certeza de que a mãe a entenderia e apoiaria. Ao cabo de que nada estaria acontecendo se Tônia não houvesse morrido. Poucos dias antes da notícia da morte da mãe, Maria Cecília e ela já haviam discutido por vários motivos, seu namoro com Felipe sendo o principal deles. Os dias que a adolescente rebelde chegava tarde em casa pela noite, os dias que faltava às aulas, as notas que só baixavam e aquele garoto irritante o tempo todo rondando a menina, todas essas coisas geravam muitas discussões em casa e sua tia começara a proibi-la de tudo. Seu maior medo era que Annemarie se perdesse e se arrependimento matasse...

O beijo do italiano - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora