Capítulo III - Agridoce (INÉDITO)

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Annemarie não fazia ideia de como conversar sobre todos os últimos acontecimentos da sua vida com Lúcia, mas a prima parecia decidida a colocar toda a história em pratos limpos. Quando chegou do studio de ballet, onde lecionava a modalidade clássica para meninas de até doze anos, pediu para conversar direito com ela, dando-lhe apenas tempo de almoçarem e Marie tomar um banho rápido, já que a viagem e o fuso horário haviam bagunçado todo o relógio interno da garota. Dando um beijo na prima, Marie sentou com ela na cama de casal do quarto de hóspedes, onde Lúcia a esperava com duas taças de tiramisù.

- Nossa, isso é bom demais! – provou a sobremesa, fechando os olhos com prazer.

- Achei... – Lúcia parecia um pouco perdida, sem saber como começar. – achei que o doce nos deixaria mais à vontade, mesmo que o assunto seja um pouco amargo. – aquela frase tirou todo o prazer de Marie em continuar devorando tudo. – Marie... A gente precisa conversar sobre isso tudo... Sobre a sua gravidez, sobre o pai do bebê... Eu preciso entender toda essa história. – Annemarie suspirou, resignada. Depois de um silêncio incômodo, onde procurava as palavras certas, começou:

- O nome dele é Felipe. Nós estudamos juntos quase a vida toda, até o último ano do ensino médio e eu namorei com ele desde os quatorze anos até... um mês atrás. – olhos baixos e murchos, ela remexia o conteúdo da taça com a colher, sem se atrever olhar para Lúcia. – Ao contrário do que todo mundo em Belém pensa, nós... eu nunca... eu nunca tinha transado com ele, não antes dos dezessete anos, ele sempre me respeitou. Mas a mãe do Felipe nunca me suportou, sempre quis que ele me deixasse. – Lúcia tinha um enorme "PORQUE?!" estampado na cara, mesmo que não tenha dito uma palavra. Annemarie deu de ombros, explicando. – Felipe é metido a rico, sabe? A mãe dele era uma daquelas debutantes da Assembleia Paraense, na época dela, virou uma dondoca da sociedade com o casamento. O pai dele é empresário, cheio da grana... Eu não tô no top 10 das famílias mais ricas de Belém, então a dona Marta nunca engoliu bem nosso namoro... – fez uma pausa sentida porque doía. Doía muito lembrar do amor que tivera, já que quatro anos não eram quatro dias. E sim, o amara nesse tempo todo, muito mais do que pensava, de fato. E entregara a ele mais do que sua virgindade: tudo o que tinha de melhor dentro do relacionamento, toda a dedicação de uma mulher desabrochando. Todas as primeiras experiências, risos e lágrimas, e esse sentimento todo não podia ser desligado a seu bel prazer. Annemarie tinha certeza de que enquanto o amasse, doeria e sangraria. E se tivesse continuado no Brasil... Deus, seria tão mais difícil! Sacudiu a cabeça, espantando os devaneios. Lúcia perguntou:

- Então você contou que estava grávida e ele te dispensou?

- Ele nunca chegou a saber. – sua voz estava gelada. Ter de falar daquilo, do porquê fugira, era doloroso. Mas a revolta era maior. – Uma vez eu estava na casa dele... na verdade, eu sempre ia quando a mãe dele não estava, não por medo dela, nem nada do tipo, Lú, mas para evitar atrito com a dona Marta, sabe? – Lúcia anuiu, fazendo um sinal para que ela prosseguisse. – Nesse dia ela cancelou um compromisso no meio do caminho e voltou mais cedo. Acabamos nos encontrando e eu meio que dei uma desculpa pro Felipe e disse que ia embora... mas ela começou a falar com ele, antes que eu chegasse na porta, um monte de coisas, insinuando que eu era uma aproveitadora barata, que ele não estava pensando direito, enfeitiçado pelo sexo... como se eu fosse algum tipo de puta, sabe? Ela fingiu não me ver ainda na casa, esperou apensa eu sair das vistas dele, mas falou alto o suficiente para eu escutar, pra me atingir... me magoar de propósito. – Lúcia tinha as mãos no rosto, chocada. 

 

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O beijo do italiano - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora