Foram Buscar Lã e Saíram Tosquiadas

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Se houve alguém que quisesse servir a D. Quinquina ou se foi ela mesma quem pôs

a carta anônima no bolso da jaqueta de Augusto, é coisa que pouco interesse dá; o certo é

que o estudante, indo tirar o lenço para assoar-se, achou o interessante escritinho; então

correu logo para um lugar solitário, e só depois de devorar o convite sem assinatura foi que

lembrou-se que ainda não se havia assoado e que o pingo estava cai não cai na ponta do

nariz; enfim, ainda com o lenço acudiu a tempo, e depois entendeu que, para melhor decidir

o que lhe cumpria fazer naquela conjuntura, deveria avivar o cérebro, sorvendo uma boa

pitada de rapé. Portanto, lançou a mão ao segundo bolso de sua jaqueta, e eis que lhe sai

com a caixa do bom Princesa um outro escritinho como o primeiro.

- Bravo! exclamou o nosso estudante; temíveis mãozinhas seriam estas, se se

dessem ao exercício não de encher, mas de vazar as algibeiras da gente.

E sem mais dizer, abriu e leu o escrito.

"Senhor: - Uma moça, que nem é bonita nem namorada, mas que quer interessar-se

por vós, entende dever prevenir-vos que no banco de relva da gruta não achareis ao

amanhecer uma incógnita, porém sim conhecidas, que pretendem zombar de vós, porque

esta mesma noite jurastes amar a cada uma delas em particular. Não procureis adivinhar

quem vos escreve, porque, apesar de ser vossa amiga, serei por agora - Uma incógnita"

- Muito bonito! muito bonito!... disse Augusto beijando o bilhete; estou exatamente

representando um papel de romance! mas quem sabe se ainda acharei mais cartas?...

E nisto pensando, foi correndo um por um todos os bolsos dos seus vestidos, sem

esquecer o do relógio, e até passou os dedos por sua basta cabeleira, presumindo que talvez

introduzissem algum no enorme canudo de cabelo que lhe escondia as orelhas.

Porém, nada mais havia; também duas cartas tão curiosas já eram de sobra em uma

só noite.

O estudante pensou no conteúdo de ambas e ainda reflexionava se lhe cumpria fugir

ou aceitar um certame com quatro moças, que ele adivinha quais eram, quando a primeira

rosa da aurora se desabriu no horizonte. Augusto correu para a gruta encantada.

Chegando ao pé, foi de mansinho se aproximando, sentiu o rumor e ouviu que

alguém dizia em tom baixo:

- Oh! se ele vier!

- Ei-lo aqui, minhas belas senhoras, exclamou o estudante, que entendeu não lhes

dever nunca dar tempo a tomar a ofensiva; eis-me aqui!...

As moças, que estavam todas sentadinhas no banco de relva, como quatro pombasrolas

enfiladas no mesmo galho, ergueram-se sobressaltadas ao ver entrar inopinadamente o

estudante; era isso mesmo o que ele queria, pois continuou:

- As senhoras vêem que acudi de pronto ao honroso convite e que me entusiasmo

vendo quatro auroras, em lugar de uma só! Belo amanhecer é este, sem dúvida... mas,

A moreninhaWhere stories live. Discover now