"And suddenly I become a part of your past, I'm becoming the part that don't last..." (E de repente, eu me torno parte do seu passado, eu me torno a parte que não dura...) - Over my head, The Fray.
Reencontros são sempre imprevisíveis, mesmo que você saiba que está prestes a encontrar alguém do passado, nunca dá para saber quais serão os frutos daquilo; mas é um pouco pior quando você não tem nem ideia de que um reencontro está prestes a acontecer...
Naquela tarde, eu e minha namorada havíamos combinado de sair, eu estava indo em direção à sorveteria, local onde nosso encontro estava marcado, quando avistei Marília do outro lado da rua, ela carregava um bando de sacolas e estava vindo em minha direção. Não sei explicar o que senti quando a vi atravessar aquela rua movimentada da antiga escola onde estudávamos, tudo parecia acontecer em câmera lenta e acho que eu segurei o ar por longos segundos. Marília não tinha me visto ainda e, apesar da minha consciência me dizer que eu deveria ignorar aquilo tudo e ir encontrar a minha namorada, eu sabia que ficaria ali até que Lia finalmente me visse. E ela viu.
Com uma expressão de alívio, Lia chegou na calçada onde eu estava. Nossos olhares se cruzaram por meio segundo, ela demorou um tempo para me encarar novamente, enquanto eu me perguntava o que estava passando em sua cabeça. Foi então que uma das sacolas caiu de sua mão, tive de segurar um risinho, afinal, não era como se nós ainda fossemos íntimos. Dei alguns passos em sua direção e me agachei para ajudá-la a pegar o material que caíra da sacola, a primeira coisa que notei foi seu All Star azul, "será que ainda é o mesmo que ela usava quando estávamos no segundo ano do ensino médio?", eu me perguntei.
— Oi. - Eu disse um pouco inseguro.
— Oi. - Lia me respondeu no mesmo tom.
Então eu me levantei e ofereci a minha mão, para que ela se levantasse também. Não sei se eu deveria ter feito aquilo, mas a presença de Lia provocava sensações estranhas por todo o meu corpo e isso me impediu de pensar racionalmente sobre minhas ações. Ela pegou a minha mão e me abraçou, eu a abracei de volta e tudo que consegui sentir foi o seu cheiro de morango, o mesmo cheiro de anos atrás... Senti um aperto no peito, o qual eu acho que pode ser chamado de saudade, ou nostalgia.
— Eu sabia que você gostava de Transformers, mas não achei que chegasse ao ponto de comprar um estojo do Optimus Prime. - Eu falei, ao me afastar. É claro que dizer isso foi uma ideia bem idiota, mas o fato é que eu precisava me afastar.
— Você não mudou nada. - Lia disse abrindo um sorriso e a sensação de nostalgia pareceu sambar em meu peito. Eu olhei para os seus pés, e não contendo o ímpeto, perguntei:
— É o mesmo?
— Quanto mais surrado melhor. - Lia disse, após uns segundos de reflexão.
— Quanto mais surrado melhor. - Eu falei apontando para meus próprios pés, também estava usando meu All Star preto, o mesmo daquela época. Eu me lembro muito bem que eu costumava dizer que a música All Star, do Nando Reis, era nossa música e Lia ria, afirmando que faltava o cano alto no meu tênis para que aquela canção pudesse ser considerada como "nossa".
Eu a encarei por longos instantes, seus profundos olhos negros pareciam estar longe dali, como se ela pensasse em outra coisa. Seu cabelo estava mais comprido que o usual, mas ele agora possuía uma franjinha...
Senti meu celular vibrar em meu bolso e logo o toque ecoou pelos meus ouvidos. Era Gabriela, minha namorada, de quem eu havia me esquecido completamente assim que vi Lia atravessar a rua.
Eu atendi e disse para Gabi que estava a caminho, me despedi de Lia, mas então me lembrei de uma coisa:
— Ah, Marília! Você ainda gosta de One Direction? - Eu perguntei, enquanto um sorriso sacana brincava em meus lábios.
— Faz muito tempo que não escuto as músicas deles! - Lia respondeu, me mostrando a língua.
— Sabe, eles nem eram tão ruins, mas eu gostava de te irritar. - Falei rindo, era engraçado como a Lia ficava facilmente irritada, o que sempre rendia umas "lutinhas" de brincadeira entre nós... Me virei completamente e fui ao encontro de Gabriela.
Ao chegar na sorveteria, vi Gabi me esperando com uma expressão impaciente.
— Por que demorou tanto? - Ela perguntou, ao me dar um selinho. Aquele definitivamente não era o momento ideal para encontrar com ela, eu tinha acabado de encontrar a primeira garota por quem eu me apaixonei e aquela sensação era muito nova para mim. Era óbvio que eu ficaria um pouco mexido com aquele reencontro.
— Pietro? - Gabi me perguntou, chacoalhando as mãos na frente do meu rosto.
— Ah... Eu só... Só encontrei uma pessoa na rua. - Falei, vagamente. Por sorte ela não fez mais perguntas sobre aquilo.
Após pegarmos nossos respectivos sorvetes e nos sentarmos em uma mesa qualquer, senti meu celular vibrar no bolso. Era uma mensagem de um grupo no whatsapp, como o clima com a Gabi estava meio estranho, resolvi ver o que era.
"Reencontro do 1º ano azul", era o nome do grupo. Eu, particularmente, adoraria rever o pessoal do colégio, após o intercâmbio, eu nunca mais voltei para lá. Li algumas informações e digitei rapidamente "Podem confirmar minha presença".
— O que é isso? - Gabi me perguntou, apontando para a tela do meu celular.
— Vai ter um reencontro da minha turma do primeiro ano.
— Sério? Que legal! Eu posso ir também? - Ela me perguntou e eu fiz uma careta, não é como se Gabi tivesse estudado na minha sala naquela época, não fazia sentido que ela fosse. — Ah, vamos lá, qual é o problema? Daqui a pouco você vai mudar de cidade e nós mal vamos nos ver, temos que aproveitar o tempo que temos juntos. - Ela completou.
— Olha, Gabi, desculpa mas não faz sentido você ir...
— Essa história de nós só sairmos com amigos em comum é ridícula, sabe disso, né? Nenhum casal tem esses "mimimis" que você tem. - Ela disse, revirando os olhos. Eu sempre adorei a Gabi, mas às vezes ela é tão... Imatura.
— Eu só acho que não faz sentido você... - Comecei a falar, mas ela me cortou.
— Às vezes eu acho que você não gosta de mim de verdade. Você tem certeza que superou a sua ex? - Ela falou e uma sensação ruim se espalhou pelo meu corpo. Talvez eu não devesse ter contado para a minha atual namorada sobre a minha história com Marília...
— Quer saber? Você pode vir comigo. - Eu disse, me rendendo. Ou talvez fosse um certo sentimento de culpa me corroendo mesmo. Mas eu não precisava me preocupar tanto com isso, levar ela comigo iria contra os meus princípios em relacionamentos, mas não era como se eu fosse encontrar Marília por lá, ela nunca foi muito fã das pessoas da nossa sala.
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Hello!
Está aqui a versão do Pietro sobre o reencontro com a Lia, espero que vocês gostem! E me digam: deu pra entender um pouquinho o que se passa na cabeça dele? E o que acharam da Gabriela?
Vocês preferem mais um capítulo na versão do Pietro pra semana que vem ou um novo da Lia mesmo?
É isso aí, até semana que vem! Bjbj.
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As Duas Versões
Teen FictionSe a vida de Marília fosse um livro, ela certamente saberia qual a versão de Pietro sobre aquele reencontro; saberia o que se passou na cabeça dele no momento em que a viu atravessar a rua movimentada da escola onde estudaram e saberia como ele se s...