Pensamentos atordoados

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Assisto Pietro sair e fico parada olhando para porta por um tempo, suspiro. Decido que preciso fazer alguma coisa, não aguento mais pensar nisso. Na verdade, não consigo acreditar que me envolvi em tanta confusão nos últimos tempos, isso era para ser o recomeço, onde eu faria tudo certo, tomaria as decisões mais sensatas e não me envolveria nesse tipo de coisa. Suspiro de novo. Acho que não dá para evitar a confusão, é parte de nós e sempre nos faz crescer.

É pensando nisso que decido que está na hora de voltar para casa e enfrentar os fantasmas que deixei para trás. Se tem uma coisa que aprendi, é que nada se soluciona se você fugir, o problema continua lá, ignorado, mas em algum momento, ele vem à tona novamente e não há escolha a não ser lidar com ele. E é preciso muita coragem para isso.

Quando me levanto para arrumar a mala, meu celular apita com uma mensagem de Analu:

> Lia, a mãe do Pietro teve uma intoxicação por remédios, ela teve que fazer uma lavagem estomacal, mas tá bem agora. Além disso, os médicos descobriram que ela não tava tomando os remédios :/

> Você foi com eles? - Pergunto.

> Sim, Pietro disse que seria bom pra Beca.

Apesar de saber que Pietro precisa de um espaço agora, uma dorzinha aperta meu peito por não estar lá também.

> Os médicos descobriram sobre os remédios ou Pietro contou?

> Como contou? Lia, se ele soubesse, nada disso teria acontecido.

Ai. "Se ele soubesse, nada disso teria acontecido". Não, isso não foi sua culpa, Marília, não foi.

> Ele descobriu agora há pouco.

> Como assim, Lia??

> Eu já sabia disso.

> O quê???? Como?

> Eu vi. Mas ela me implorou pra não contar e eu não sabia o que fazer. Por favor, não me julgue.

> Não vou julgar. Você vai contar pra Beca?

Penso em dizer que não, não tem porque Beca saber, mas o que eu estava falando sobre problemas mesmo? Ah é, não adianta fugir deles. Sem omissões dessa vez. Respiro fundo antes de digitar:

> Vou. Assim que eu a vir pessoalmente.

> Vai ficar tudo bem, Lia.

Eu realmente espero que sim, Analu.

Faço a minha mala e vou até a rodoviária, entro no ônibus pensando em como fugir é mais fácil que enfrentar o que tiver de vir. Eu fui embora de casa sem ter uma conversa decente com a minha mãe e mal conversei com meu pai e meu irmão desde então. Por mais que eu esteja com medo de voltar para casa, sei que precisa ser feito.

Obviamente, assim que meus olhos encontram os olhos castanhos escuros da minha mãe, minha coragem desaparece e eu tenho vontade de fugir de novo.

— Marília. – Ela me cumprimenta.

— Mãe. – Respondo, encarando-a numa tentativa de dizer "eu não tenho mais medo de você" ou "você não me controla mais". Certeza que acabou saindo como o oposto.

— Liaaaaa! – Meu irmão pula em mim, me abraçando tão forte que quase me sufoca.

— Oi, Cé! Como você está? Saudade, coisinho.

— Lia, como você cresceu! – Papai brinca e eu rio. Claro, porque pessoas de dezoito anos crescem muito em algumas semanas.

Quando entramos, a casa está igual, tirando uma coisa ou outra na decoração, que minha mãe ama mudar. Meu quarto está intacto e, apesar das promessas de César de roubar minha escrivaninha, nada mudou.

As Duas VersõesWhere stories live. Discover now