truth

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Já havia se passado um mês desde os eventos na festa de Louis. Zairah e Liam pareciam estar cada dia mais próximos. Os dois conversavam todos os dias sem falta e se encontravam sempre que conseguiam tempo livre, mas a mulher ainda tinha suas reservas para ir para a cama com ele, o medo de rejeição falava sempre mais alto.

Não era como se ela não desejasse Liam, porque, céus, nos últimos dias ela só conseguia pensar no quão deliciosa seria uma transa com o castanho. Mas tinha medo. A maior parte de suas experiências com homens não lhe traziam boas lembranças, por isso na maior parte das vezes se sentia mais confortável se relacionando com mulheres, costumavam ser mais receptivas, mas obviamente que haviam suas exceções dos dois lados.

Era um sábado, Zairah e Liam tinham combinado de almoçarem juntos. Payne havia "desafiado" a mulher a ir buscá-lo de carro pois ele nunca tinha visto ela dirigindo. Os dois já estavam perto do restaurante quando o celular da mulher tocou, era sua mãe.

— Oi mãe, fala rápido que eu estou dirigindo.

— Você dirigindo? – a mulher riu – Tu vai demorar muito? Estamos te esperando.

Zairah arregalou os olhos e olhou para Liam a seu lado parecendo totalmente preocupado em ficar mexendo nos botões do rádio que tocava baixinho.

— Putz, eu tinha esquecido completamente disso. Eu vou desligar para estacionar aqui, rapidinho. Já te ligo de novo.

Liam a encarou confuso quando ela estacionou o carro em uma vaga na rua e o olhou desligando o carro.

— Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou.

— Na verdade aconteceu, eu esqueci completamente que hoje minha mãe tinha marcado um amoço em família onde eu já estava com a presença confirmada.

— Oh, entendi. Tudo bem, eu volto para casa de táxi.

— Não quer ir junto? Quero dizer, eu sei que é meio íntimo demais mas não queria te deixar almoçando sozinho. – Zairah esticou o braço para acariciar a nuca do homem.

— Se você não se importar. – Liam disse sorrindo antes de se inclinar para beijar os lábios da mulher.

— Então vamos. – ela disse quando eles se afastaram. Ligou para a mãe avisando que levaria visita antes de ligar o carro.

Os dois foram em uma conversa animada sobre suas famílias até a casa de Trisha. Zairah ficou sabendo que a mãe de Liam tinha uma saúde muito frágil e que o castanho fazia viagens de última hora para Wolverhampton para visitá-la quando a saúde de Karen piorava. Ao estacionar na frente do condomínio onde sua mãe morava, Zairah puxou a bolsa para retocar o batom vermelho. Os dois caminharam lado a lado concordando que mãos dadas soaria demais como namorados, tanto Zairah quanto Liam se sentiam um pouco constrangidos com a situação. Trisha os saudou animada e logo eles estavam sentados na mesa envoltos em uma conversa confortável, o fato da família de Zairah não querer se meter na vida de ninguém sem serem convidados deixava tudo mais tranquilo.

O ambiente agradável não durou muito. Depois que todos terminaram a refeição e foram até a enorme sala de estar conversando sobre amenidades até que a campainha tocou. Trisha sorridente foi abrir a porta, mas ao se deparar com a irmã mais velha ali deixou a expressão morrer.

— Ótimo saber que a família se reuniu e eu não fui chamada. – falou. Trisha respirou fundo antes de forçar um sorriso. Sabia que isso não iria acabar bem.

O fato de Zileh não aceitar Zairah havia afastado as irmãs por muito tempo mas aos poucos Trisha tentava restabelecer o relacionamento com a irmã, sempre deixado a filha fora de foco nas conversas ou evitando que as duas se encontrassem mas sabia que não conseguiria evitar isso para sempre.

— Entre. – falou simpática mas o nervosismo parecia lhe consumir.

Ao entrar na sala com um sorriso na sala Zileh viu a sobrinha lhe olhar com os olhos arregalados, Liam que estava de braços dados com a mulher a olhou preocupado. Zileh abriu um sorriso maldoso e cumprimentou todos na sala parando apenas em frente a Zairah e observando a mulher com desdém. É claro que Zileh não perderia a chance de perturbar a sobrinha.

— Zayn! Quanto tempo querido. – Zairah pode sentir um calafrio atravessar todo seu corpo ao ouvir aquele nome depois de tantos anos.

— Meu nome é Zairah.

— Oh não é não, eu estava lá no dia que você nasceu, amor, sua mãe sempre te chamou de Zayn.

— O que ela faz aqui mãe? – a voz da mulher já vacilava. O nome lhe trazia péssimas memórias.

— Eu também sou parte da família. Não é porque você se transformou nessa coisa nojenta e inaceitável que eu vou ser obrigada a não conviver mais com meus familiares. Você já separou demais a sua própria família, não acha?

— Não tenho culpa se você é uma intolerante. Eu nasci assim. Nunca procurei por nada disso.

— Zileh! Zairah! Parem com isso, por favor. – Trisha suplicou.

— Como se sente sabendo que seu pai teve tanto nojo de você que foi embora? Que você acabou com a vida da sua mãe mas ela continua te apoiando. Você é desprezível. – Zileh nunca tinha superado a separação da irmã, ela e Yaser costumavam ser amigos próximos mas depois de tudo perderam contato.

Zairah com lágrimas nos olhos só saiu em direção a rua enquanto lágrimas silenciosas, andando em passos rápidos até seu carro ignorando os chamados de sua mãe. Se permitiu desabar ao entrar no veiculo com soluços doloridos. Sempre doía demais quando o assunto era seu pai. Jamais se perdoaria pela separação de seus ter ocorrido por sua causa. Jamais conseguiria lidar com as palavras duras que seu pai lhe disse tantas vezes e mesmo depois de anos permaneceram ecoando em sua mente.

— Zairah? Está tudo bem? – Liam perguntou a entrar no carro.

A mulher o encarou assustada, havia esquecido completamente da existência dele naquela situação toda. E, merda, agora ela lhe devia explicações sobre a cena que teve que presenciar. Se recompôs rápido se concentrado o máximo para evitar que as lágrimas voltassem.

— Estou bem. – disse sorrindo para o homem.

— O que aconteceu lá dentro? – perguntou preocupado.

Zairah ponderou por alguns segundos se perguntando como falaria aquilo de maneira sutil mas não encontrou então resolveu ser direta.

— Eu sou uma mulher trans, Liam.

— O quê? 

— Nasci com o sexo masculino, mas me identifico com o gênero feminino. Basicamente sou uma mulher com um pênis se isso não ficou claro.

— Wow, muita informação para processar. – falou olhando para a frente.

— Não ficou bravo?

— Não, por que eu ficaria? Só estou muito surpreso. Nunca tinha imaginado isso, mas explica muita coisa.

— Eu deveria ter te contado antes mas eu tive medo, minhas experiências com homens não costumam ser muito agradáveis.

Liam não respondeu nada apenas ficou olhando para frente, na mente dele um turbilhão de pensamentos pareciam gritar. O homem nunca tinha se imaginado em uma situação como aquela, não é como se ele achasse que era algo ruim, apenas novo.

Zairah percebendo que não teria uma resposta ligou o carro é dirigiu até o apartamento de Liam. Pela primeira vez desde a primeira vez que saíram juntos não se despediram com um — ou mais — beijo. Foi apenas um adeus antes de sair do carro dizendo apenas um adeus antes de caminhar para dentro sem olhar para trás.

Chateada e irritada a mulher seguiu para casa, tudo que precisava agora era de um banho quente, sua cama com um cobertor fofinho e Soph deitada consigo enquanto assistia um filme bobo o suficiente para distraí-la.

-x-

N/A desculpem a demora de novo, até logo (eu espero), beijinhos.

If I Lose Myself || ZiamOnde histórias criam vida. Descubra agora