Capítulo 2 - Coisinha Brilhante

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You took a polaroid of us
Then discovered

Capítulo 2
Coisinha Brilhante

"Como ela está?" O choque que levei ao ouvir sua pergunta foi quase tão grande quanto minha felicidade ao vê-la.

Por que ela não estava falando diretamente comigo? Era eu, sua filha, lacrimejando com a garganta apertada, esperando o momento em que ela sentaria na minha frente e poderia me abraçar. O que ela estava esperando?

"Pergunte a ela," a enfermeira falou.

Os olhos bastante enrugados da minha mãe me miraram só por um segundo antes de voltar a ela.

"Mas ela se lembra de mim?"

"Sim!" Eu mesma respondi, quase a alarmando.

Mas foi o suficiente para que finalmente andasse até mim, franzindo suas sobrancelhas como se tivesse medo de me olhar duro demais e me quebrar. Ela claramente tinha envelhecido, o que me deu um aperto no coração. Sabia que era por causa de uma década que eu não lembrava de ter vivido, mas só consegui sentir que era por estresse e isso era terrível. Não queria que ela sofresse assim, que envelhecesse assim.

"Ah, Bridget," ela segurava várias coisas e as deixou todas no pé da cama para chegar até mim e me abraçar.

Respirei bem fundo para inalar o máximo de seu perfume. Era doce, enjoativo, mas terrivelmente familiar. Pelo menos isso, ela não tinha mudado.

Assim que me soltou, minhas bochechas já estavam molhadas.

"Mãe, eles falaram que eu perdi minha memória," reclamei, meu nariz entupido do choro deixando minhas palavras soarem como uma birra.

Mas falar aquela frase em voz alta e logo para a minha mãe fez tudo ficar ainda pior. Se antes eu chorava, agora senti vontade de soluçar.

"Eu sei, querida," ela me puxou de novo para a abraçar pela cintura e apoiar minha cabeça na sua barriga. "Mas vai ficar tudo bem."

"Não, não vai! Eu perdi dez anos! E ela disse que eu posso nunca mais recuperar!"

A enfermeira, que estava de pé do lado da porta, levantou o rosto para mim, mas não respondeu.

"E se eu nunca recuperar?"

Meus olhos lacrimejavam tanto, que mal conseguia ver o rosto quase estranho da minha mãe. Mas ela se sentou à minha frente, afastando minha bolsa para lhe abrir lugar, tirou um lenço do seu terno que só podia pertencer aos anos oitenta e limpou cada uma das minhas bochechas.

"Dez anos nem é tanto tempo assim," ela disse, me fazendo bufar uma risada engasgada e dolorida. "Como sabem que foram dez anos?"

"Ela acha que estamos em oitenta e nove," a enfermeira respondeu.

"Ah, sim," minha mãe voltou a mirar meus olhos. Parecia ter uma certa dó de mim, enquanto também sentia um pouco da minha dor.

Mas não era dor que eu sentia. Era medo.

"O que aconteceu nesses dez anos?" Olhei para as minhas próprias mãos. "Onde nós estamos? Cadê o papai?"

"Nós estamos em Nova York, querida," ela colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

E não respondeu minha segunda pergunta, o que ajudou a fazer meu coração encolher dentro de mim.

"Mãe," chamei, minha voz bem mais grave. Ela até parecia estar evitando meus olhos de propósito. "Cadê o papai?"

Uma década em uma noite  [COMPLETO]Where stories live. Discover now