Capítulo 12 - Segredos Acidentais

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Remember when you hit the brakes too soon?
Twenty stitches in the hospital room

Capítulo 12
Segredos Acidentais

Eu podia ouvi-los falando comigo. A mulher que tinha me empurrado, um guarda qualquer, um médico que tinha presenciado tudo. Eles falavam. Ao mesmo tempo, intercalado, sobre mim, comigo. Eles esperavam uma resposta, perguntavam meu nome e tanta coisa, que eu não conseguia registrar. Não sabia quanto tempo fazia que estavam ali, nem quanto tempo desde que eu tinha me levantado. Eu tinha me levantado? Não sabia quem tinha chegado por último, se era o mesmo médico, o mesmo policial, aquele era o motorista? Eu conhecia algum deles? Estava bem? Tinha me machucado? Precisaria limpar o braço, tinha raspado no chão, estava sangrando. Moça, você está me ouvindo? Moça?

Como eu poderia estar ouvindo? Quando a noite que mudou a minha vida passava em minha cabeça como um filme?



Era dia dezenove de fevereiro. Adrian tinha feito um discurso no escritório, declarando sem qualquer pudor o quanto ele precisava fazer sua ex-mulher sofrer. Eu não me lembrava das palavras. É engraçado o que um trauma pode esconder, que tipo de peça sua memória prega em você. Não conseguia visualizá-lo na minha frente, nem quais palavras tinha usado. Mas sentia em meu peito o desprezo que tinha criado por ele naquele dia. Sentia como uma chama me queimando e me mostrando tudo que eu odiava em minha vida.

Sem dar qualquer satisfação para meus colegas, meus chefes ou até minha secretária, eu tinha ido embora, deixado o trabalho no meio da tarde e caminhado até o bar mais próximo. E foi lá que eu o encontrei algumas horas depois.

Ou melhor, ele me encontrou.

Eu o notei assim que entrou. Tentei me ajeitar, arrumar meu cabelo e minha roupa, mas de adiantava? Não o via há tanto tempo, por que me importaria com sua opinião? Principalmente quando tinha acabado de admitir para mim mesma que tudo em minha vida estava errado.

Queria conseguir me lembrar do que veio antes desse dia, queria respostas para tantas perguntas, mas só conseguia sentir o que senti naquela noite. O peso em meus ombros, a sensação de que vivia em uma perpétua tristeza acomodada e desconfortável. E então ele apareceu, me olhou de esguio, como quem precisava ainda decidir se devia vir falar comigo.

Eu tentei sorrir. E ele se aproximou.

Insistiu em me pagar uma bebida, eu recusei, depois aceitei. A cada drink, a cada risada, fosse trágica ou genuína, tudo ia ficando mais fácil, mais leve, mais claro. Era isso que estava errado. As pessoas à minha volta, os lugares onde eu ia, as escolhas que fazia. Eu precisava recomeçar, ele disse. E eu podia recomeçar.

Não seria tão fácil assim.

Não, concordou. Claro que não. Seria muito difícil. Seria péssimo de vez em quando, mas seria o caminho certo. Nunca era tarde demais para começar do zero, nenhuma situação era ruim demais para que eu tentasse outra vez. Eu só precisava ir atrás do que me fazia feliz.

Ele me fazia feliz. Thomas me fazia feliz.

Nunca tinha sido impulsiva. Fui naquela noite.

Me levantei com ele, dançamos em um bar que mal tinha espaço. E então ele me beijou. Tão dolorosamente familiar, que senti como se levasse um soco na minha barriga.

Não naquela noite. Agora, que estava sendo levada para dentro do hospital para que me examinassem.

"Ela está em choque," alguém falou.

Uma década em uma noite  [COMPLETO]Where stories live. Discover now