Capítulo 4 - De Dezesseis a Vinte e Seis

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 We were in screaming color
And I remember thinking

Capítulo 4
De Dezesseis a Vinte e Seis

Uma vez, Leanne me perguntou por que eu passava tanto tempo lendo. Ela simplesmente não conseguia entender como eu tinha paciência para ficar mergulhando em outros mundos. Lembro muito bem que expliquei como era incrível me sentir na personagem, ter os problemas dela, me apaixonar com ela, fugir da minha própria vida.

Ela revirou os olhos para mim.

Eu dei de ombros.

Tudo bem. Ela não precisava entender. Seria difícil mesmo imaginá-la parada por tempo o suficiente para ler um livro, sempre fora muito inquieta. Além do mais, ela continuou me dando livros de presente, mesmo sem entender a raiz do meu amor. E eu continuei me afundando em histórias interessantes e envolventes durante aulas chatas, intervalos em que precisava esquecer da existência de Max e Tony e férias solitárias em Rosedale, quando ela viajava para o outro lado do país.

Lado agora em que vivia.

Esses eram meus maiores tesouros. Empilhados no canto do meu quarto, cada livro era um pedacinho de mim, um mundo bem mais bonito que aquele em que eu vivia. E o pior de tudo é que eu cheguei a me perguntar várias vezes como seria se a minha vida fosse também descrita como um livro.

Pois eu passei os últimos dias praticamente lendo sobre ela e preciso admitir que não foi a coisa mais legal do mundo.

Diferente de todos os outros livros que eu já tinha lido, não me sentia na personagem, e era exatamente quando precisava me sentir. Via fotos, bilhetes, cartas, e nada me fazia sentido. Reconheci meu rosto, minha letra, aprendi como ela teoricamente mudou durante os anos, e ainda assim não conseguia ver nela minha identidade. Nem na minha assinatura, que fui obrigada a aprender, porque, aparentemente, agora as pessoas entregam o que você quiser em casa, e você precisa assinar um papel para isso.

Li também sobre casos nos quais eu participei, relatórios que eu mesma tinha feito e minha tese da faculdade. Nem os cartões postais da suposta última viagem que fiz com meu noivo eram familiares.

Mas, nesse caso, talvez Max fosse o maior dos problemas.

Minha primeira noite em casa foi bem estranha. Primeiro, o apartamento era enorme, digno de alguém que teria pagado pelo quarto de hospital no qual fiquei. Mas o pior de tudo foi perceber que não tinha nada meu ali em seus milhares de cômodos.

Quer dizer, segundo Max, tudo era meu. Eu que tinha escolhido junto com um designer de interiores. Mas nada me era familiar. Tudo era limpo demais, arrumado demais. Nada de pôsteres, glitter ou estrelinhas que brilhavam no escuro. Nada realmente colorido.

Tudo cinza ou branco. Tudo metálico.

Ele era bem bonito, na verdade. Mas adulto demais para eu até começar a desejá-lo no futuro, quanto mais no presente.

Mas ele era meu, da Bridget de noventa e nove. Pena que nada ali me ajudou a recuperar minha memória.

O quarto principal era maior do que a sala da minha antiga casa, e cabia nós dois na cama. Mas simplesmente não consegui deixar que Max dormisse ali comigo. Na verdade, até me ofereci para ficar no quarto de hóspedes, - quem tem quarto de hóspedes dentro de um apartamento? - mas ele insistiu que eu merecia ficar na minha cama, provavelmente esquecendo que aquela cama era tão familiar para mim quanto o sofá da sala.

Achei que isso fosse ajudar bem, mas, toda manhã, ele ia até lá para chegar ao closet e se trocar. Tão habituado que nem percebia que eu tinha que me esconder embaixo das cobertas quando ele começava a se trocar.

Uma década em uma noite  [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora