Capítulo 9 - Trilha Sonora

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When we decided
To move the furniture so we could dance

Capítulo 9
Trilha Sonora

Assim que o condutor avisou que a próxima estação era Rosedale, senti meu estômago embrulhar.

Não sabia quantas vezes nessa última década eu tinha feito esse caminho, mas no resto da minha vida, o resto do qual conseguia me lembrar, só tínhamos pegado o trem umas três vezes. E, mesmo assim, conforme via a paisagem passar pela janela, a sensação de que eu voltava no tempo ficava cada vez mais forte.

Eu voltava para casa. Só por uma noite, talvez nem isso. Mas, ainda assim, voltava para casa. E talvez tivesse bem mais naquele retorno para me deixar nervosa do que eu queria admitir.

Olhei por cima do ombro outra vez, buscando nos rostos dos passageiros os olhos azuis de Thomas. Quando ele tinha dito na terça que viria para Rosedale no final da sexta-feira para pegar outros CDs para me emprestar, prontamente me voluntariei para encontrá-lo lá. Nem sabia direito o que tinha me dado, mas só a ideia de estar longe de Nova York, longe da minha vida em noventa e nove, nem que fosse só por uma noite, parecia terrivelmente atrativo. Era como meu pai tinha dito, eu precisava voltar para casa, precisava de um tempo de folga. E tinha me convencido de que era por isso que estava tão nervosa. Não sabia o que esperar, se me sentiria finalmente melhor, como se pudesse, depois de três semanas, me sentir livre do peso de minha amnésia e voltar a respirar normalmente, ou se só descobriria que estava mesmo perdida.

Respirei fundo ao sentir o trem desacelerar. Não podia criar expectativas, precisava me deixar levar. Era o único momento que tinha para isso. Precisava deixar minhas dúvidas para trás, como tinha deixado minha aliança de noivado.

Ao pensar nisso, senti com os dedos o lugar onde ela costumava ficar. Max estava cada dia mais satisfeito de como, em sua cabeça, nós estávamos mais próximos. Apesar de eu ainda praticamente me esconder no escritório, com ou sem relatórios extras para fazer, o pouco que nos vimos essa semana, depois de sábado, era o suficiente para ele ter certeza de que tudo estava indo muito bem. Eu tinha adiado para a semana que vem todos os últimos preparativos para o casamento e não demonstrava absolutamente nenhum interesse naquele assunto, mas ele não parecia se importar.

E isso era o que mais me incomodava, como ele nunca parecia ver em meu rosto o quão indiferente eu continuava sendo em relação a ele.

Não sabia o que pensaria quando encontrasse a aliança, mas sabia que tinha tomado a decisão certa. Nunca devia ter voltado a usá-la, nem para evitar que meus colegas de trabalho especulassem demais sobre nosso relacionamento, nem por sentir que era minha obrigação ao dividir um apartamento pelo qual não tinha pagado. Era pressão demais em cima de nós, principalmente em cima de mim, pressão para acompanhar um noivado do qual nem me lembrava, e eu estava feliz de a ter tirado de meus ombros.

O trem finalmente chegou à plataforma de minha cidade natal, brecando tão forte que tive a sensação de que nunca conseguiríamos parar. Mas, então, parou. E eu tive que respirar fundo antes de me levantar.

Eu só voltava para casa. Não precisava ficar tão nervosa. Era só Thomas que eu encontraria, o irmão da minha melhor amiga, que sempre tinha sido apaixonado por mim.

Não. Era outro Thomas que eu encontraria. O irmão da garota que já nem me respondia, nem depois de eu desabafar em sua secretária eletrônica; o médico que parecia ser o único a conseguir me fazer sorrir de verdade, me fazer esquecer de toda a confusão de ter perdido uma década da minha vida, transformando toda essa experiência em uma aventura única; e, seu último título, mas nem um pouco menos importante, o responsável pela minha trilha sonora.



Uma década em uma noite  [COMPLETO]Where stories live. Discover now