Capítulo V

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Naquela mesma noite acordei de um pesadelo horrível envolvendo minha mãe. Em poucos minutos, Dimitri e Harry apareceram armados, e quando não acharam nada, Henrietta me preparou um chá de camomila. Quando quase adormeci, percebi que Dimitri havia entrado para, o que me parecia, cuidar de mim.

— Vá dormir, Valora — falou, fechando as cortinas da sacada —, amanhã será um dia cansativo.

Não queria dormir, não queria vê-la numa poça de sangue. Mas acabei dormindo, assim que o ouvi cantar em alemão, algo que me pegou despreparada. Logo, tudo ficou escuro.

Acordei com um barulho incômodo no quarto, e assim que abri os olhos, pude ver Henrietta tirando algumas roupas do roupeiro branco.

— Henrietta? O que diabos está fazendo? — perguntei, normalmente acordava de mau humor quando barulho exteriores me acordavam.

— Senhor Velichkov não lhe contou? — perguntou de volta. Balancei a cabeça negativamente. — Ele não me explicou os motivos, mas em duas horas partirão para Paris.

Minha boca se abriu em um grande O. Porque diabos iríamos para Paris? Henrietta continuou a guardar roupas na mala, enquanto em me levanta silenciosamente, iria descobrir o motivo da viagem. Andei em silêncio até o que havia sido descoberto como seu escritório, no dia anterior. A casa estava toda fechada, alguns móveis cobertos com lençóis brancos.

Quando cheguei até a porta de seu escritório, ouvi que Dimitri falava com alguém no telefone, em russo. Abri levemente a porta, e mesmo assim, não havia lhe chamado a atenção. Andei até sua mesa e o esperei em pé, até que desligasse. Encarei por alguns segundos seu perfil, com alguma esperança de que me ele notasse ali.

Cinco minutos depois, Dimitri se virou, colocando o telefone no gancho, mas tomou um leve susto ao me ver ali.

— Valora... o que aconteceu? — perguntou, ajeitando a gola da camisa.

— Por que vamos para Paris? — perguntei, cruzando os braços.

— Bem, porque Schwarz sabe que você está aqui. E comigo — falou, tomando um pouco de ar. — E para o plano de salvar sua mãe, não podemos deixá-lo pensar que vamos ajudá-la.

— Por quê? Ela vai pensar que eu a abandonei! — falei, quase gritando.

— Valora, se acalme — pediu. Não queria saber que ela havia morrido sem saber que eu tentei algo. Dimitri logo segurou meu rosto, me fazendo encará-lo. — Nós vamos tirá-la de lá, ok? Tenha um pouco de fé.

— Não quero perdê-la, Velichkov — falei, olhando em seus olhos azuis. — Se ela morrer, você morre — o ameacei, da forma mais infantil possível. Mas naquelas palavras eu estava lhe prometendo matá-lo caso ela morresse.

— Combinado — respondeu, me fitando sério. — Bom, vá se trocar, Valora. Está frio para usar camisolas de seda pela Rússia — falou, com um sorriso torto no rosto.

Quando olhei para o meu corpo, Dimitri me empurrara delicadamente até a aporta, e só percebi isso quando ele a fechou. Corei, ficando tão vermelha quanto meu cabelo, e vi Henrietta dando uma risadinha.

* * * * *

— Que tal você me explicar poque diabos estamos casados? — perguntei, vermelha de raiva.

— Ninguém pode saber quem você é e seus rastros, e assim também fica menos estranho — explicou, dando de ombros e logo pegando em minha mão, entrelaçando nossos dedos.

— Como assim "estranho"?

— Ah, se não fica parecendo que você é minha put- — falou, mas logo parou, e seus olhos se arregalaram.

Soltei minha mão da dele, abrutamente. Poderia não ter dito nada, se fosse para falar isso.

— Merda, merda, merda, V, me desculpe —gritou, andando até mim. — Eu não pensei nisso!

— Me deixa em paz, Velichkov! — falei, tentando me desvencilhar de seus braços.

— Eu não quis dizer isso! — falou, me segurando firme.

— Então quis dizer o quê?! — gritei dessa vez, não me contendo. — Você como se eu tivesse tido escolha! No primeiro dia, falou como se eu quisesse!

Dimitri me puxou contra seu peito, e logo fechou os braços ao meu redor, e me deixou chorar ali, novamente. Não me importei com que ele me fizesse cafuné, algo para me acalmar.

— Me desculpe, me desculpe... — falou, como um mantra.

O meu problema era que eu queria acreditar que ele me considerava sua puta. Seria mais fácil lidar com qualquer desilusão que eu tivesse com ele. E no fundo eu sabia que ele não iria me ver assim. O abracei pelo pescoço, me sentindo segura mais uma vez.

— Onde é o hotel? — perguntei, me separando de seu abraço.

— Acredito que você irá gostar de lá — respondeu, abrindo um sorriso com seus dentes brancos.

Dimitri me puxou pela mão pelas ruas de Paris, um pouco movimentadas. Estávamos a uma semana do Natal, pelo o que Harry havia me dito no voo para cá. Quando descobri que nossa suíte tinha vista para a torre Eiffel, deixei Dimitri no saguão do hotel fazendo check-in e sem os cartões do quarto, e corri para o elevador e fui até o 16º andar. Quando abri a porta, nem liguei para o fato que teríamos que dormir juntos, ou que teríamos que fazer nosso próprio café da manhã.

— A vista anula minha babaquice de mais cedo? — perguntou, parando ao meu lado na janela.

— Talvez — brinquei. Dimitri realmente sabia impressionar quando queria.

— Hoje a noite termos um jantar — explicou, se sentando na beira da cama.

— Sem problemas — falei, ainda admirando Paris. Nunca pensei que pararia lá. — Podemos ir até Londres um dia desses?

Dimitri sorriu novamente, e concordou com a cabeça. Descobri que Harry e Henrietta pegaram um outro voo para irem de férias até a Califórnia, nos Estados Unidos.

— Nossa janta será entre nós dois e Gene Lucchese, ele veio da Itália até aqui porque devia isso ao seu pai, Valora — falou, enquanto soltava seus cabelos,

— Quem ele seria?  — perguntei, me sentando ao seu lado.

— Seu pai realmente não queria que vocês soubessem — Dimitri comentou, mais para si mesmo do que para mim, enquanto brincava com a borrachinha para os cabelos. — Quem me dera se o meu também não tivesse me contado desse mundo.

Não entendi com o que queria dizer, apensar segurei sua mão e tentei fazê-lo se sentir seguro.

Eu era sua esposa, afinal de contas.

Velvet Crowbar #1 | ✔️Where stories live. Discover now