Capítulo XXII

209 7 1
                                    

Acordei em uma cama, mas não era uma de algum hotel que Dimitri havia reservado de última hora. Dessa vez ele havia comprado jato particular de última hora. Como? Não sei. O quarto era ótimo e me lembro de ter me jogado na cama quando a vi. Quando acordei, percebi que Dimitri ainda me segurava contra ele, beijando meu pescoço.

— Bom dia - falou com a voz ainda rouca.

— Bom dia - falei, me espreguiçando ainda no aperto de seu abraço.

Nós ainda não havíamos discutido o fato de meu tio ser um rato, eu já tinha uma ideia do que aconteceria com ele quando Dimka o encontrasse, eu apenas não queria pensar nisso. Eu havia recém ganho uma parte da minha família de volta.

— Matvey e Sophie estão indo para São Petersburgo também, eu e Matvey vamos cuidar das coisas... - explicou.

— Enquanto eu e Sophie fazemos as unhas? - perguntei com humor.

— Se quiser, fique a vontade - riu, dando uma leve mordida no meu ombro.

— Hm, acho que vou usar o tempo para aprender a patinar...

— Desde que você não invente de ir atrás de Christian ou Sigmund, estou bem com isso.

— Então este será meu programa, se precisar de mim - disse, me virando para encarar o seu rosto.

O momento entre eu e Dimitri havia sido interrompido pelo e-mail de Borya, mas nada podia tirar o sorriso do meu rosto. Eu nunca pensei que poderia ser possível e conseguir dormir com alguém depois do que eu havia passado com Klaus e seus homens. Mas Dimitri nunca me empurrou para isso, esperando eu estar mais confortável ao seu redor.

Eu ainda não havia visto muito de São Petersburgo, já que havia ficado pouco tempo quando estava na casa de Dimitri. Ao menos teria Sophie para me levar a algumas lojas e passear pela cidade, já que não me lembrava de nada.

Quando aterrissamos, umas duas horas mais tarde, Matvey já estava nos esperando, com uma cara inquieta.

— Mítia, ocorreram algumas mudanças... — explicou.

— Como o quê? — falou, com uma leve carranca.

— Acho que seria melhor se vocês vissem.

Dimitri não olhou para mais ninguém, mas ainda manteve nossas mãos juntas. No carro a caminho de sua casa, nenhum de nós falou, Matvey digitava ao celular, Dimitri ficava mais emburrado e eu olhava a paisagem. Eu não fazia ideia do que poderia ser essas mudanças, mas esperava que não fossem tão horríveis.

Na frente da casa, Henrietta e Harry nos esperavam. Quando saímos do carro, corri para Henrietta, ela havia se tornado família para mim ao decorrer dos meses.

— Valora, que bom te ver! — falou, me abraçando.

— Sim, você também — falei.

— Quais são as mudanças? — Dimitri reclamou.

Harry deu uma tossida, não querendo responder, sobrando para Matvey.

— Seria melhor se nós entrássemos — explicou.

Andei até Dimitri, e segurei sua mão, esperando que isso o impedisse de tirar a arma do coldre e matar a todos.

Andamos até o hall de entrada da casa. Fazia tempo que eu vira aqui todo revirado, pensando que todos haviam me abandonado novamente.

Na sala, meu coração parou e eu quase me desfiz em lágrimas. Eu não olhei para mais ninguém desde que eu vi seu cabelo, um soluço escapou de mim e eu corri até ela. Nenhum abraço supera um abraço de mãe. Quando a abracei, ela estava magra, pensei que eu pudesse quebrá-la, e chorei mais. Eu nunca havia chorado tanto de alegria. Era minha mãe ali e ela estava de volta.

— Valora... — ela sussurrou para mim.

— Mãe, você está viva — chorei.

Ela balançou a cabeça, nem ela acreditava.

Me separarei um pouco dela, olhando seu rosto magro agora.

— Henrietta cuidará de você — eu sorri. — Ela faz o melhor apfelstrudel que já comi.

Ela sorriu, e eu sabia que ela gostara da ideia. Ela amava apfelstrudel.

— Cassandra? — a voz do Dimitri falou.

Minha mãe o reconheceu imediatamente, e foi o abraçar também. Todos estávamos olhando minha mãe. Quando ela abraçou a Dimitri e Matvey, ficamos em silêncio.

— Gabriel não quer nada Dimka, ele só quer quitar uma dívida com você — Matvey falou.

— Dê isso a ele — Dimitri disse.

Eu olhei Dimitri, que mal falara. Eu sorri para ele, ele havia prometido minha mãe de volta e ai ela estava. Eu até duvidei que ele fosse conseguir, mas ela o fez. Quando vi, eu o abracei, escondendo o rosto em seu peito. Ele depositou um beijo em minha cabeça, abraçando-me de volta.

— Danke — murmurei.

Senti um leve sorriso em seu rosto, e o segurei mais contra mim.

— Senhor, creio que posso levar a senhora Morgenstern ao quarto em que a senhorita Valora ficou? — Henrietta perguntou.

— Claro. Obrigado, Henrietta.

Quando todos saíram da sala, inclusive minha mãe que foi para o quarto, finalmente deixei algumas lágrimas de tristeza caírem.

— V, não chore — pediu, quase em dor.

— Dimka, olhe como ela está — expliquei. — Ele a torturou de várias formas, e isso dói em mim, também — solucei.

— Eu sei, Val, e vi o que ele também fez a você. Eu vou vingar vocês, malyshka. Eu só preciso pensar como.

Acenei, eu sabia que não poderia ser tão fácil assim, mas eu acreditava nele.

— Minha mãe está no meu quarto, Mítia — expliquei. — Você vai me fazer dormir no seu?

— Talvez — explicou, com cara de paisagem. — Mas eu quero que você durma lá, muito. Eu quero mantê-la segura e ajudá-la caso tenha pesadelos, como na primeira semana — disse, triste.

— Eu nunca fui ao seu quarto — eu disse.

— Ótimo, vamos lá — ele sorriu, me puxando pelas escadas.

Nós ríamos, e naquele momento eu estava feliz. E eu rezava para que pudéssemos sair dessa guerra ilesos.

O quarto de Dimitri ficava no outro extremo do corredor ao qual eu ficava, sendo um lugar que nunca visitei na minha curta estadia por aqui. Quando entramos, era quase uma nova casa lá dentro. Era uma suíte e tinha uma sacada enorme, sem falar na cama king size. Havia uma espécie de cozinha, com uma pia e um fogão.

— O fogão é para quando tenho coisas que me prendem aqui por mais tempo do que gostaria.

Sorri para ele, e puxei-o pela mão até o sofá que tinha em uma parede, abaixo de uma janela e, bem, eu ficaria só feliz de morar naquele sofá com aquela televisão.

— Ei, V — disse, me dando um beijo no ombro para chamar minha atenção. — Eu pensei em fazer um jantar para nós dois, mais o Matvey e sua mãe.

— E Sophie? — perguntei, afinal, ela era a noite de Matvey.

— Evitando possíveis convites à Dabria — explicou, com nojo na voz.

— Ok, pode ser um jantar entre nós quatro — sorri, lhe dando um beijo rápido.

— Certo, irei avisar Henrietta. Sinta-se em casa, Harry já vai trazer nossas malas — avisou, e se levantou.

Eu ainda tinha receio pelo o que aconteceria, tanto a mim e Dimitri quanto aos que não estavam envolvidos, Hayden, Henrietta e Harry, até minha mãe, que sofreu por anos.

Segurei o pingente do colar que Dimka havia me dado de Natal, e finalmente pude pensar com clareza a minha decisão.

Velvet Crowbar #1 | ✔️Where stories live. Discover now