2 - Solidão

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Rosie deixou o cargo de diretora um ano após a chegada de Olívia, outra mulher foi posta em seu lugar, esta era rígida, fria, e, como uma tempestade, estava sempre trovejando. Seu nome era Madame Carmella, que sentia um imensurável prazer em bater em crianças, da mais velha à mais nova, todas aprendiam o valor do silêncio e as consequências da rebeldia. Desde pequena Olívia percebera que não era igual às outras meninas do Orfanato, tinha habilidades que as outras não tinham, fazia coisas ruins às pessoas que a aborreciam, como a diretora, que batera nela várias vezes e suas colegas que a chamavam de estranha, esquisita, feia, dentre outros adjetivos que ela aprendeu, com o tempo, a ignorar. Também havia conseguido que uma menina que a beliscou quebrasse o nariz uma vez, não que se arrependesse muuto disso.

-Sai do meu lugar, Olívia feia! -Vívian, mais conhecida como pedra em seu sapato, mandou. Possuíam a mesma idade, apesar da garota ser mais alta e de ter a mania de encaracolar os cabelos loiros entre os dedos na tentativa de parecer superior.

-Vem você me fazer sair!

Quando a menina tentou derrubá-la da cadeira, Olívia se levantou, impaciente, e derramou um copo de suco em sua cabeça, fazendo-a surtar completamente com o seu cabelo sujo de suco. Os berros podiam ser ouvidos até mesmo na China, Olívia tinha quase certeza. Parar de gargalhar requereu muito, muito de seu esforço. Então ela correu para o quarto, pegando, debaixo do travesseiro, um graveto reto e escuro, tinha aproximadamente 25 centímetros. Aquilo era o que ela usava como varinha mágica para assustar suas colegas de quarto, debaixo. Assim que saiu para o jardim, vou que elas estavam lá, encarando-a com desprezo.

-Olha ela. Olívia burra, feia, idiota!

-Você é uma ridícula!

-Coitada, nem tem amigos!

-Que peninha da feiosa.

Olívia explodiu de raiva.

-É MELHOR TODAS VOCÊS SAÍREM DAQUI OU VOU TRANSFORMAR VOCÊS EM SAPOS MAIS FEIOS DO QUE JÁ SÃO.

Elas demonstraram um certo medo, claro, há haviam notado as habilidades estranhas de Olívia, mas continuaram lá fingindo ser corajosas, embora não fossem. Estavam tremendo de medo.

-Estão duvidando é?! -Implicou Olivia com um sorriso no rosto. - Tranformatus Sapus Animalus grudentus feiosus sapus!! Tranformatus Sapus Animalus... -Antes que terminasse de recitar aquelas palavras sem sentindo, mexendo o seu fiel graveto como se fosse uma varinha, as meninas saíram todas correndo.

Então sentou-se finalmente em seu banco favorito e abraçou os joelhos, deixando as lágrimas rolarem.

-Quem precisa delas? Eu não preciso! Eu estou muito bem sozinha. -Afirmou pra si mesma

E assim viveu por anos naquele Orfanato ridículo, com aquelas garotas ridículas, sem saber que, dali alguns anos, sua vida viraria de cabeça para baixo.

¤¤¤

Olívia acordou animadíssima no primeiro dia do mês de seu aniversário, faltava pouco para finalmente completar 11 anos e simplesmente mal podia esperar. Vestiu-se rapidamente para juntar-se às outras no café da manhã. Elas estavam cochichando quando chegou, mas, ainda assim, conseguiu ouvir cada palavra.

-Esse mês é o aniversário da bruxa. -Amélia disse.

-Dizem que o aniversário de uma bruxa a deixa mais forte e ela ataca todos os seus inimigos.

-Nesse dia temos que nos esconder dela. -Lisa tremeu.

Era errado se aproveitar do medo dos outros, Olívia sabia muito bem, mas não seria ela se não fizesse exatamente isso.

-Acho mesmo melhor vocês se esconderem. Eu já posso sentir as minhas forças aumentando! -Exclamou, respirando fundo, como que adaptando-se ao tamanho poder que todos achavam que ela possuía.

Elas começaram a tremer e evitaram ficar perto de Olívia pelo resto do dia, como geralmente faziam, enquanto que ela ficou no jardim desenhando sua família imaginária, amigos imaginários, pessoas que gostassem dela, pessoas que não existiam. As meninas do orfanato sempre a acharam esquisita, na escola também, e isso fazia a menina de apenas 10 anos pensar:

-Deve ser por isso que meus pais me abandonaram. Me acharam feia e esquisita igual todos acham. -E começou a chorar abraçada ao caderninho fiel que nunca a abandonara, diferente de seus pais ou qualquer um um dia possa ter feito parte de sua antiga vida.

OLÍVIA POTTER [1]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora