Renascida

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Arrependimentos sempre me circundaram, mas nunca fui do tipo de garota que sai fazendo tudo que vem à mente. Sou tímida demais para isso, todas as vezes que eu escutei as histórias das minhas amigas depois de elas terem feito algo que eu não conseguiria, eu me sentia idiota por não ter saído do meu casulo.

Talvez essa seja a primeira vez que me arrependi de fazer alguma coisa.

Não sei o que me influenciou a ser uma detetive, mas foi essa a profissão que escolhi para mim, também não sei o que diabos levou essa cidade a ser o alvo de um assassino, mas, ainda assim, é a minha realidade. É irônico, não? Sou a detetive que não sabe de nada. Podem fazer graça disso.

Estou numa missão, uma que espero que dê o fim neste tormento que o fim de mundo em que vivo está passando. Há algum tempo, nossa equipe tem investigado a vida das vítimas, interrogamos familiares e amigos, xeretamos celulares e computadores. Todas as pistas que recolhemos têm como suspeito uma única pessoa. É claro que foi esperta o suficiente para mudar sua identidade e trocar de número, mas encontramos vários registros da mesma mulher com todas as vítimas.

- Bonnie? - Viro o rosto e sorrio. Ela está aqui.

Bonnie é o nome idiota que me deram para a missão, mas isso não importa, estou cara a cara com uma psicopata, é com isso que devo me preocupar.

Tiro as mãos do bolso e a cumprimento. A mulher que se diz chamar Agatha me abraça com força, como se fôssemos amigas que não se viam há muito tempo, faço o meu melhor para causar a mesma impressão.

É meio da tarde de um sábado e estamos numa praça, um cenário até que agradável para duas desconhecidas. Conversamos por muito tempo, tomei nota de tudo que ouvi e espero que o escuta e a pequena câmera tenham feito seu trabalho. Para os mais desatentos, Agatha não passa de uma mulher normal que adora passar um tempo com sua família e simplesmente ama sorvete de chocolate, mas se parar para pensar, a vida de Agatha é perfeita demais.

Convido-a a irmos comer em algum lugar. Devo me fingir de vítima. Se eu me deixar levar ao seu covil, prederemos-na em flagrante. Entramos no meu carro, sorrindo uma para a outra.

De súbito, seu sorriso desapareceu e ela bateu minha cabeça contra o volante.

Acordei em um lugar com pouca luz. Há um lacre prendendo meus pulsos atrás de mim, estou amordaçada e sinto dor no corpo, como se eu tivesse sido espancada. Olho ao redor, é sujo, fedido e vazio, o cheiro me lembra carne pútrida. Que nojo. Tem uma porta com um pequeno visor, é por ali que vem a mínima iluminação. Arrasto-me para perto dela e me levanto com certa dificuldade para olhar através do visor. Não escuto nenhum barulho e o corredor está vazio. Suspiro. Ótimo.

Passo os braços pelas pernas e me livro do lacre quase que facilmente, depois disso, ergo minha blusa, realmente fui espancada, tenho hematomas enormes no meu torso, bufo com raiva enquanto tiro minha jaqueta e procuro pelo escuta e pela câmera. Não estão aqui! Droga!

Ao longe, escuto uns passos apressados e uns palavrões, deito-me novamente, chuto o lacre arrebentado para longe e visto minha jaqueta, pondo-me na mesma posição em que estava.

Abrem a porta bruscamente e me chutam.

- Acorda, desgraçada!!!

É um homem.

Olho-o sobressaltada enquanto ele me encara, tem um sorriso cruel no rosto.

Com um movimento rápido, levanto e o empurro contra a parede. Soco seu rosto e o chuto, ele tenta se defender, mas eu acerto sua nuca com força e muita rapidez. O homem apaga quase que instantaneamente. Revistando-o, descubro que tem uma arma, o que tira um grande nervosismo dos meus ombros. Verifico se está carregada e, por sorte, está.

Saio daquele cômodo e o tranco ali, caminho silenciosamente pela casa, procurando por um telefone e pela querida Agatha. Ouço uma melodia tocar em algum lugar. Estrando... Sigo o som, que vem de um quarto cuja porta está entreaberta. Com toda a cautela do mundo, entro.

Sinto uma movimentação atrás de mim. Agacho rapidamente, desviando de uma coronhada e arranco o revólver da mão dela. A mulher pula em mim e agarra o meu pescoço, minha arma voa para longe do meu alcance. Sem pensar, giro meu corpo e tiro seus braços de mim, Agatha tenta resistir, chuto seu peito e ela bate a cabeça contra a parede.

Respiro fundo, tentando recobrar o fôlego.

Acabou.

Recolho o revólver e saio do quarto, preciso falar com meus superiores, e rápido.

Ouço um grunhido. Tudo aconteceu rápido demais, sirenes ecoaram, Agatha tentou me atacar de novo e eu atirei.

Contei isso tudo aos delegados e aos meus colegas. Fui aplaudida por ter conseguido acabar com tudo, mas eu não me sinto muito bem em relação a isso. Foi a primeira pessoa que matei. É estranho, para gente como Agatha, matar é o maior dos prazeres. Eu vejo sangue nas minhas mãos e a sensação é longe de ser boa.

- Está tudo bem? - Meu colega pergunta quando passa por mim. - Foi uma experiência e tanto, não foi? Seu emocional deve estar tão abalado, Anne.

Pondero as palavras de Erick. Sim, é difícil olhar o mundo e saber que fui responsável pela morte de alguém, mas ao mesmo tempo...

- Eu me sinto... Renascida.

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