Carta de Alforria

200 29 11
                                    

"Já não aguento mais essa vida, essa abundância de decepções e deficiência de prazeres, a melancolia que tem me acompanhado desde muito antes que posso me lembrar. É por isso que decidi escrever essa carta. Sinto-me mais liberta ao desenhar letras quaisquer do que deixando que estas palavras passem pelos meus lábios, além disso, é muito mais seguro. Não posso ser ouvida, tenho medo do que aconteceria se assim fosse.

Eu não sei quando é o meu aniversário. Não sei o que é Natal que tanto ouço falar. Não sei o que é Sol.

Aliás, não conheço nada além desse porão. Dessas correntes.

É por isso que essa carta será minha alforria, depois dela estarei livre de todo esse sofrimento que meus carrascos me impuseram durante toda a minha vida. Uns desgraçados que sentem prazer ao me espancar hora ou outra, que gostam de me ver implorando por comida depois de dias sem nada passar pela minha boca. E que fazem coisas piores ainda.

Sinto uma repulsa inenarrável deles e do mundo. Por me destratarem sem piedade alguma, por rirem dos meus apelos, por me manterem em cativeiro... Por tudo!

Mas estou decidida a inverter essa situação e a me livrar deles.

Infelizmente, não tenho o poder de quebras os elos dessa corrente, mas se eles gostam de me ver sangrar, dessa vez ocorrerá um mar de sangue.

Se algum dia alguém vir essa carta, peço que saiba que eu estive em algum lugar no mundo e que eu existi.

Grata,

Uma garota sem nome."

PsicopatiaWhere stories live. Discover now