Psicopatia

Medo

Faz algum tempo que tenho estado sozinho neste apartamento, mas eu não me sinto tão mal por isso. Na realidade, sinto-me aliviado.

Não sou mais considerado uma aberração com essa camisa de força.

Eu aleguei que não se tratava de nada além de um mal-entendido no tribunal, mas ninguém deu o braço a torcer por mim, nem mesmo minha família. Agradeço o apoio, ótimo saber que posso contar com vocês nos meus piores momentos.

A intenção era fazer com que a psicopatia - que eu não possuo - se esvaia a partir dos tratamentos que tenho recebido, embora eu acredite que tenha ficado cada vez mais louco desde que cheguei aqui. Estas paredes imaculadamente brancas e os remédios que me dão para o estresse - que eu garanto que é causado pela minha solidão - acabam comigo.

Bem, chega de enrolar, devo relatar o que aconteceu para desgraçar a minha vida por completo.

Era uma garota tão linda aquela que havia conhecido, os olhos negros e a pele escura, com aqueles cachos, parecia um anjo caído do céu. Na verdade, era um demônio saído do inferno. Eu a desejei como qualquer um desejaria, tão louco por ela eu fiquei que me entregaria de corpo e alma. Tinha opiniões fortes, uma ousadia invejável e aquele meio-sorriso que faria o mundo inteiro cair a seus pés.

Eu caí. Nunca mais me levantei.

Ah, aquela mulher perspicaz, audaciosa, calculista. Aquela mulher que tentou me matar.

Juro por tudo que é mais sagrado que o que eu fiz foi por legítima defesa. Quem pegou o revólver e apontou para mim foi ela, quem vivenciou o medo de se morrer fui eu, assim como quem ouviu suas últimas palavras. Seus olhos diziam que não estava em seu juízo perfeito, tão arregalados que pareciam prestes a cair de seu rosto, assim como sua boca retorcida, ela ria-se, vitoriosa.

- Sabe, é tão divertido isso, você achava que me tinha ao seu lado quando na verdade estava apenas em meu caminho.

Eu fiquei desesperado pois minha vida dependia de luta. De alguma forma, eu acabei com seu cadáver no meu colo e seu sangue em minhas mãos.

Desprezo-me porque estou tentando me convencer de que, no fundo da alma, não tenha gostado da sensação. Talvez eu, de fato, tenha psicopatia. O sangue quente que escorria do buraco que a bala abriu me dava um prazer imenso, os seus olhos sem vida deixavam-me indescritivelmente satisfeito.

Tenho medo de mim mesmo por causa disso.