4 - Defendendo

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"Legítima defesa é esquecer que você ainda existe
Ou que um dia esteve na minha vida"



Ryung



Ele até pensou em chamar seu advogado, mas sua mãe foi mais rápida. Chamou tanto o advogado quanto a ex mulher dele. Ao ver dela, poderia resolver duas coisas em uma só machadada. Porém, Hyuna o viu muito rápido antes de ele ser levado pra sala de interrogatório e só conseguiu lhe lançar um olhar de piedade.

Não era segredo para Ryung que sua mãe gostava muito de sua ex nora, mas aquilo não era uma situação confortável. Era constrangedor, na realidade, que ela visse ele sendo interrogado por um crime. Porque apesar de seu advogado estar tentando provar que o psicológico de Ryung está um pouco afetado desde a separação, para ele aquilo estava longe de ser um acidente. Talvez, ele se cobrasse demais ou talvez, a defesa falaria qualquer coisa para que ele não fosse punido com uma pena severa. O que não é uma coisa que aconteça nesse país chamado Brasil. Porém, a imprensa estava o comendo vivo, por ele ter colidido o seu carro no da garota.

A imprensa também parecia saber mais do caso do que ele próprio. Seu advogado o informou inclusive, que eles estavam divulgando relatórios médicos da mulher chamada Angeline, que pelo que parecia tinha perdido a memória. Aquilo fazia sentido pra Ryung, a própria tinha dito que ele não poderia trazer a memória dela de volta. Mas, o fato de a imprensa repercutir isso, não soou muito bem e seria uma péssima propaganda pra sua marca. Querendo ou não, o nome manchado, mancharia sua carreira e tudo o que ele tivesse feito por mais bom que fosse.

- Ryung? - chamou o advogado da sua família. Ele estava a algum tempo falando sobre o processo e percebeu que seu cliente estava distante. - ouviu alguma coisa do que eu disse?

- Me desculpa Roberto. Eu estava pensando na perda de memória da vítima. Isso é uma péssima repercussão e sem falar que tanto ela, quanto a família e os amigos vão me odiar pro resto da vida - Ryung estava sentindo seu coração e sua mente se tomarem pela culpa. Dava para ver em seu rosto.

- Vamos resolver isso. Ela não vai ficar desamparada. Você pessoalmente vai acompanhar o processo e ajudar no que for necessário, certo? - Ryung olhou pra ele e logo focou seu olhar na mesa da sala de interrogatório. Estava com uma expressão de relutância. - Não se preocupe. Seu processo vai se estender por alguns meses, até que a gente vá para o julgamento. Até lá você vai estar livre para poder dar seu apoio total a Angeline e sua família.

- O preço pago pela liberdade. Vou virar refém de pessoas que nem conheço. - depois de ter dito isso ele reconsiderou como se tivesse dito algo errado. - Não é como se eu não quisesse ajudar. Eu quero e preciso. Foi minha culpa ela estar assim. Mas, odeio o fato de ter que ficar a mercê de alguém. As pessoas nunca estão satisfeitas. Você dá a mão e elas já querem o corpo.

- Algo necessário na sua situação. Aconselho que tente manter uma relação boa com eles, os conquiste e faça com que tenham confiança em você. Vai te ajudar quando formos a julgamento. - o advogado piscou pra ele - Talvez, eles peguem leve e não considerem acabar com o seu financeiro.

Dr. Roberto se levantou, juntou suas folhas de papel, colocou na sua maleta, apertou na mão de seu cliente e foi embora. A visita foi breve, havia sido solicitada para deixar claro seus planos e para que Ryung não falasse nada para os policiais antes que fosse à julgamento. Ele teria que passar a noite na cadeia, mas Roberto garantiu que no outro dia de manhã, ele seria um homem livre até ser julgado.

A cela da prisão era fria. Havia uma cama de concreto, por cima dela um travesseiro e um cobertor bem fino dobrado, uma pia e um vaso que parecia não ser lavado com tanta frequência. Aquilo poderia ser pior. Com a ajuda de seu advogado conseguiu uma cela somente pra ele e não ficou junto com bandidos, assassinos e traficantes. Era um alívio poder dormir tranquilo e sem se preocupar em ser abusado ou algo desse nível.

Por mais que tentasse, ele não conseguia dormir. As preocupações rondaram sua cabeça mais uma vez. O que aconteceria no dia seguinte?









Angeline



Ela estava deitada na maca pensativa. Desde que acordou depois de 3 dias de coma, ela encontrou o homem que bateu em seu carro, viu familiares um pouco diferentes do que se lembrava e médicos fazendo perguntas estranhas:

"Quais cores você está vendo nessas plaquinhas?"
"Você tem alguma cicatriz no corpo?"
"Quantos anos você tem?"
"Qual seu nome completo?"
"Você tem irmãos?"
"Quais são suas últimas lembranças?"
"Vocês se lembra de mais alguma coisa, além disso?"

Ela não entendia muito bem, mas de uma coisa ela tinha certeza: sua memória não era a mesma. Ela tinha algumas lembranças que não se lembrava de ter vívido, como se fossem sonhos. A última coisa que ela se lembra antes do acidente, por exemplo, era sair de uma empresa dirigindo um carro. Mas, ela tinha 17 anos, como que ela sairia dirigindo um carro? De quem era aquele carro? Que empresa era aquela? Perguntas que a atormentavam enquanto os médicos ainda não queria dar uma autópsia e talvez estivesse esperando que o quadro dela melhorasse.

- Ange? - disse um homem forte, alto, com a pele bronzeada, cabelo preto curto com cachos definidos.

- Quem é você? Te conheço? - disse ela um pouco pensativa. Tentando se lembrar da onde eles se conheciam. Seria da escola? Não podia ser. Ela se lembraria. Mas naquele momento, duvidou se realmente se lembraria.

- Você não se lembra de mim, Ange? Sou eu, Matheus. - ele olhou pra ela mais a fundo, tentando entender se aquilo era uma brincadeira de mal gosto. Mas, ela realmente não parecia se lembrar e estava ficando constrangida.

- Não me lembro de você. Desculpa

- Como você pode não se lembrar do seu namorado? - disse ele sorrindo e ela expressou seu espanto colocando a mão na boca. Desde quando ela tinha um namorado?

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⏰ Last updated: Jun 26, 2020 ⏰

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