SECOND.

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               Andar com um desconhecido seria uma das regras que mamãe sempre dizia quando era criança: nunca fale com estranhos. Estava quebrando as regras pela primeira vez e sentia-me livre para fazer isso sem interrupções.

               Boggs — eu ainda não acreditava que esse era seu nome —, disse que havia um lugar na Máfia para mim. Ele estava no comando de tudo por lá. Ele não parecia um mafioso: olhos azuis, corpulento, braços fortes, pele clara e bronzeada, cabelo bem ralo e loiros. Ele era lindo.

               Envergonhada por pensar aquilo, eu virei o rosto. Ele parecia saber ler mentes, seu sorriso desmancharia qualquer um. Boggs explicou que eu teria o que comer, beber, vestir e dormir. Eu já estava feliz na parte de comer: não comia havia horas.

               Falei um pouco de minha história e, surpreendentemente, ele ouviu tudo. Opinou em algumas partes e disse que fiz o certo. Poderia me tornar uma prostituta como minha mãe ou me tornar uma viciada como meu pai. Não queria nenhuma dessas coisas. Queria mais, queria ter sossego e luxo sem me preocupar.

               Percebendo que ele sorria para mim, eu arregalei um pouco dos olhos e parei de falar:

— O que?

               Boggs tentou parar de sorrir, mas falhou.

— Nada, é só que... você é muito forte, Uriah. Conseguiu fugir dessa loucura, agiu por si própria. É corajosa por isso!

               Suspirando, falei:

— Sinto que fiz a coisa errada.

               Ele franziu a testa e me parou, colocou as mãos em meus ombros e abaixou pra ficar na mesma altura que a minha:

— És uma guerreira. Está buscando ser melhor, ter um futuro melhor que seu pai ou sua mãe tem — e apertou meus ombros levemente. — Acredite, Uriah. Coisas boas virão.

               Eu poderia me classificar como louca, em confiar em um chefe da Máfia. Mas, naquele momento, eu não tinha um lugar pra ficar, comida ou família.

               Enquanto caminhávamos, não havia me dado conta de como já estava distante e Boggs sempre puxava assunto. Ele me explicou como começou, como funcionava e que, no final, ele me protegeria. Meus sentidos diziam que ele dizia a verdade, mas minha mente dizia que eu ainda teria problemas com isso.

               Não tinha ideia de que horas eram. Mas ao avistar um clube escrito Sex Club, não fiquei surpresa por notar que era para lá que estávamos indo. Boggs falava e cumprimentava várias pessoas ao redor. Prostitutas perambulava com roupas muito chamativas e curtas.

               Boggs segurou minha mão ao entrarmos lá. O bafo quente, o cheiro de maconha misturado com bebida, suor e perfumes diversos. A música do jukebox estava extremamente alta e fiquei feliz por reconhece-la. Era "Jukebox Hero" da banda Foreigner. Boggs passava pela multidão que dançava quase como um deus. Ele cumprimentava, ria e bebia alguns shots de outras pessoas. Quando se tocavam quem era, desistiam de começar uma briga.

               Ele me arrastou até uma parte quase deserta. Dois homens de cada lado e ele sussurrou algo para eles, então me puxou para uma porta falsa e todo o barulho ficou para trás. Revelou-se um lugar pleno, bem iluminado e cheio de sinuca. Algumas pessoas jogavam, garotos novos. Com vergonha, abaixei a cabeça e fui com ele até uma sala.

               Não era grande, era bem razoável. Tinha uma mesa, cadeira de couro e alguns armários. Ele disse pra sentar na cadeira de frente para ele enquanto ele ia para trás da mesa e sentava na cadeira de couro. Eu deveria admitir: minhas pernas estavam doloridas. E minha barriga roncava.

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