THIRD.

743 100 4
                                    

          Algumas meses depois, eu finalmente percebi o que Boggs dizia: a Máfia era o local certo para aqueles que eram sozinhos no mundo. Estávamos sempre acompanhados, sem medo, sem pessoas dizendo o que fazer. Era... libertador.

          Boggs explorou áreas que eu desconhecia: atração, felicidade, carinho, risos de doer a barriga... ele explorou todos os meus pontos positivos. Eu me sentia tão solta e leve como nunca havia sentido antes. Ele era a minha coisa predileta.

          Por mais que as Damas ficassem com ciúmes de mim com Boggs, ele pouco se importava e eu menos ainda. No Sex Club brindávamos por mais um dia, dançávamos, ríamos e eu sentia um desejo aflorar. Mas tinha muito medo de explorar esse lado.

— Estou dizendo... o menino Backer é bom na mira — comentou Boggs rindo.

          Revirando os olhos, suspirei.

— Você vive falando nesse garoto. Vou começar a achar coisa errada sobre você.

          Ele fingiu sentir dor no peito, perto do coração.

— Não brinque assim comigo.

          Eu ri, bebendo outro shot com ele. Observamos uma mulher subir no balcão do bar e dançar igual uma louca. Boggs e eu olhamos para aquilo e rimos, não estávamos tão bêbados.

          O jukebox tocava uma música antiga que não reconheci de imediato, mas era algo mais sensual e eletrizante. Boggs e eu nos entupimos de bebidas, podia sentir meus sentidos aguçados. No segundo seguinte, Boggs estava próximo. Próximo demais. Em situações normais, eu nunca chegaria assim tão perto. Mas, havia algo na quantidade de shots, que havia mudado isso. Estava entorpecida e não sabia de meus atos, apenas sentia lábios macios e firmes pressionados nos meus. A música que tocava no fundo, sua língua enlaçando com a minha.

          Boggs havia me beijado. Meu primeiro beijo.

          Ao separar-me dele, fico chocada com a minha atitude. No olhar de Boggs, ele está surpreso e confuso. Eu diria que um pouco chocado, pois eu estava chocada!

          Quando a música terminou, voltei para as risadas e as pessoas falando. Parecia que todos os minutos anteriores começaram a fazer sentido. Piscando várias vezes, vejo Boggs tentar me beijar novamente, mas recuo.

          Cambaleando, tento ir em direção da zona mais quieta. Atravesso a porta preta em direção do meu quarto enquanto escuto alguém gritar meu nome. Mas eu tropeço e já não me lembro de mais nada.

  ✾  


          Acordei com uma dor de cabeça infernal. Precisei piscar várias vezes pra focar no que ou quem estava na minha frente. A claridade era enorme, parecia que todos os refletores do mundo estavam naquele cômodo. Resmungando, alguém fechou as janelas ou apagou algumas luzes. Conseguindo focar, vejo que Boggs estava de pé. Ele usava calça jeans escuras, blusa de manga e azul petróleo. Destacava tão bem seus olhos, mas, naquelas condições, eu não pensava em destaque. Eu lembrei da minha vergonha.

— Oi.

— Oi — respondi, cautelosa.

— Como está?

— Péssima. Acho que nunca mais vou beber na vida — resmunguei, deitando novamente na cama.

          Escutei uma risadinha.

— É, sempre falamos isso quando ganhamos um porre dos ruins.

— O que faz aqui? Não tem nada urgente?

Além de ComplicadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora