UM

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Muita gente deve pensar que o mundo do balé é apenas perfeição, classe e delicadeza, mas a realidade é bem diferente.

O mundo do balé pode ser cruel algumas vezes, duro e muito frio para quem quer fazer disso a sua carreira.

Lembro da primeira vez em que coloquei os pés em uma escola de balé, quando eu era só uma criancinha querendo diversão. No meu primeiro dia de aula, enquanto todas as garotas tinham sapatilhas perfeitas, as minhas não eram do meu tamanho, e meu cabelo era tão curto que não dava para fazer um coque como os das bailarinas que eu via na televisão. Lembro de chorar e pedir para ir embora enquanto minha mãe tentava me consolar e minha irmã, Maby, mais velha que eu por apenas um ano, ria tão alto que senti uma mera vontade de enfiar aquelas sapatilhas na garganta dela. Porém, como um anjo vem à Terra para ajudar, Madame Giselle, dona da academia de balé, veio até mim e minha mãe e conseguiu me convencer de que a primeira vez é sempre difícil, independente do que seja.

Posso dizer que meu primeiro dia de aula de balé foi bem pior que meu primeiro beijo, que no meu caso, foi péssimo.

Esse fato horrendo aconteceu quando eu tinha 13 anos, com William Lopes, na festa de aniversário da Marília, minha melhor amiga. Estávamos jogando o jogo da garrafa e eu estava torcendo para consegui beijar Douglas, que era o garoto mais lindo de toda escola. Mas é claro que, por ironia do destino ou sei lá o quê, a garrafa tinha que parar logo em Will.

Não que Will fosse feio naquela época nem nada, esse não era o problema - ele até que era bonitinho e confesso que ficou mais bonito depois que cresceu. Porém, por mais que seja dono de lindos olhos castanhos, tenha cabelos escuros que caem por sua testa e covinhas se formem em suas bochechas quando sorri, nunca o suportei. Ele é o cara mais irritante que já conheci em toda minha vida e depois do beijo, todos da escola disseram que casaríamos um dia.

Mas está na cara que isso nunca vai acontecer. Somos completamente diferentes, e além de ser mais velho, Will é vocalista e guitarrista de uma banda de rock, tem uma tatuagem de um dragão nas costas e para terminar a lista de coisas que me fazem gostar ainda menos dele: atualmente ele é namorado da minha irmã.

Ainda me pergunto onde estava com a cabeça quando deixei aquele beijo acontecer quatro anos atrás.

Eu estava fora de mim. É isso.

- Sai da frente da televisão, Will! - jogo uma almofada em seu rosto.

- Calma aí. Olha a violência! - ele senta ao meu lado no sofá e passa os dedos pelos cabelos. - Por que Maby está demorando tanto? - pega um punhado da minha pipoca.

- Não sei. Por que você não vai lá saber? - dou de ombros, fazendo de tudo para não me deixar ser incomodada e prestar atenção no filme.

- Porque seus pais tem uma regra ridícula que não permite que eu entre no quarto dela. - Will esbanja sarcasmo.

- Vocês dois já quebram a maioria das regras deles, essa seria só mais uma na sua lista.

- Eu não quebro as regras dos seus pais. - ele protesta.

- É claro que quebra. Tem uma regra do papai que não permite que Mabel namore delinquentes com tatuagem, e olha para você! É um delinquente com tatuagem! - finjo um grande sorriso

- Está bem. Admito, tenho uma tatuagem, mas eles não precisam saber, não é? - arqueia a sobrancelha.

- Idiota - resmungo.

Will esconde o seu verdadeiro eu dos meus pais. Eles nem imaginam que o namorado da minha irmã tem uma banda e que fuma feito uma chaminé. Sem falar que ele foi expulso da escola no terceiro ano e não conseguiu entrar na universidade. Will é um completo sem noção, e o mais incrível é que ele sempre consegue se passar por menino bonzinho, o que faz meu pai tratá-lo como um filho que nunca teve.

Opostamente AtraídosWhere stories live. Discover now