ONZE

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Duas semanas de repouso total foi o bastante para minha recuperação. Minha torção não foi tão grave, então só precisei de alguns anti-inflamatórios e agora estou pronta para recomeçar.

Devido ao "incidente", a data do teste foi remarcada para essa sexta e dessa vez vou manter minhas sapatilhas diante dos meus olhos o tempo todo, Ranna não vai tentar nada contra mim de novo. Não vou deixar.

Will não apareceu por aqui e nem ligou para saber do seu pagamento pelo serviço de motorista. Acho que o fim do namoro com Maby pode ter mesmo lhe deixado magoado. Ele nem ao menos atende minhas ligações ou responde minhas mensagens. E para chegar ao ponto de não vir atrás do dinheiro, Will deve estar mesmo muito mal.

Prendo a bicicleta com uma corrente no poste da calçada da loja de Will antes de entrar na "Casa do Rock" e logo dou de cara com o manequim que tenta imitar a morte. Vou até o balcão, onde o garoto com cabelo branco arruma umas camisetas, e sorrio para cumprimentá-lo.

- Oi - diz Tomás.

- Oi. Tudo bem? - olho em volta. Como alguém consegue trabalhar em um lugar desses? E que música é essa que está tocando? Parece um tipo de ritual satânico.

- Tudo na boa. - ele dobra uma camisa preta repleta de caveiras. - Veio comprar alguma coisa?

- Não. - nego com um movimento de cabeça. - Preciso falar com Will. Ele está?

- Está lá dentro. - aponta com o polegar por cima do ombro. - Will, vem aqui!

- O que é? - ele empurra porta do seu "escritório" e me olha esquisito. Com certeza não imaginava que eu viesse procurá-lo. - Emily? Maby te mandou vir aqui? - se aproxima. Agora o balcão é a única coisa entre nós.

- Não. Mabel nem toca no seu nome. Sou eu quem precisa falar com você.

- Tomás, vai fazer aquelas entregas. Pode ser?

- Tá legal. -Tomás pega uma caixa e sorri para mim ao sair.

- O que foi? - Will pergunta quando já estamos sozinhos.

- Bom, você não atendeu minhas ligações e não apareceu para pegar seu pagamento. - abro minha bolsa e tiro de lá o envelope com o dinheiro. - Acabou o mês, é hora de te pagar. - ponho o envelope sobre o balcão.

Ele o abre e conta o dinheiro. Apenas o bastante para a gasolina e um pouco a mais.

- Ainda preciso dos seus serviços de motorista. - digo. - Sei que você e Maby não estão mais juntos, mas ainda preciso que alguém me leve para o balé.

- E o seu tornozelo? Você pode dançar?

- Foi só uma torção leve. O médico me liberou para continuar dançando.

Will não diz nada e continuo:

- Você ainda quer fazer isso? - não há respostas. - Ou posso começar a procurar outro motorista?

- Ainda preciso do dinheiro. - ele coloca seu pagamento de volta no envelope e o enfia no bolso. - Hoje, às seis, não é?

- Isso mesmo. - confirmo. - Você decorou mesmo os horários.

- Tive que decorar, senão ia receber menos por atraso.

Rio e balanço a cabeça. Seria loucura se dissesse que senti saudades dessas piadas cheias de sarcasmos?

- Te vejo mais tarde, então? - dou as costas para sair e abro a porta de vidro.

- Sim. Até mais tarde.

Podemos até não ter tocado no assunto "Mabel" agora, mas mais tarde, quando estivermos na sua camionete, sei que falaremos sobre isso. Não vai dar para evitar.

Opostamente AtraídosWhere stories live. Discover now