Opostamente Atraídos

OITO

Estou trabalhando em minha coreografia original para o teste, mas tem sido bem difícil ensaiar em paz nesta casa, pois sempre parece que alguém está fazendo alguma coisa em algum cômodo daqui. É como uma espécie de perseguição.

Após deixar a garagem que agora está ocupada pelo carro do papai, abro a porta da frente e sento no sofá para tirar as sapatilhas.

- Ensaiando? - Will pega uma das minhas sapatilhas no chão e fica olhando de perto.

- Não mais. Papai acabou de chegar. Ele guardou o carro na garagem. Acho que vou subir e dançar descalço para não fazer barulho. - enxugo meu rosto suado com uma toalha pequena.

- Isso é pesado. - ele coloca a sapatilha na palma da mão. - Machuca?

- Muito. - me recosto no sofá.

- Mas você gosta, então deve valer a pena. - me entrega a sapatilha.

- Sim. Vale muito a pena pra mim. É como a música é para você. Você adora cantar, eu pude ver isso no show. É uma coisa especial, não é?

- É. - Will afirma com a cabeça e meu pai aparece na sala.

- Oi, Will! – ele sorri. - Veio para o jantar?

Will olha para mim antes de responder.

- Não. Emily precisa da sala. - se levanta. - Vou deixar para depois.

Eu cruzo os braços e o encaro surpresa no momento em que Maby sai da cozinha com um copinho de sorvete.

- Maby, eu estou indo. - Will diz.

- Tá, mas come o sorvete antes de ir pelo menos. - ela entrega o copinho para ele que volta a se sentar.

- Eu vou subir e tomar um banho. - meu pai sobe as escadas. - Até depois, Will.

- Até depois, seu Dante.

Maby fica ao lado do namorado e de vez em quando rouba algumas colheradas do seu sorvete de chocolate. Will começa a se irritar quando ela pega a sexta colherada.

- Eu achei que o sorvete era meu.

- Vai me negar sorvete, William? - Maby aperta os olhos.

- Não, mas é que você trouxe para mim e está comendo tudo.

- Sou sua namorada e posso comer seu sorvete. Além disso, foi meu pai quem comprou e você está na minha casa. - minha irmã aponta para si e arregalo os olhos. Há muito tempo não via Mabel falar assim, ainda mais com o namorado.

- Ei, relaxa. - Will deixa o sorvete sobre a mesa de centro e fica de pé. - Melhor eu ir mesmo. Depois a gente se fala. - ele vai até a porta e a abre. - Tchau, Emily.

Ele vai embora e Maby sobe para o quarto pisando duro.

Credo.

Calço as sapatilhas de novo, ponho os fones de ouvidos e fecho os olhos quando a sinfonia começa a tocar. Tenho a sala para mim esta noite e isso é tudo que importa.

Mais tarde, subo para o quarto, mas escuto Maby conversar no telefone antes de abrir a porta para entrar. Ela está falando sobre Will com alguém, está reclamando sobre o quanto ele está lhe deixando estressada com bobagens a maior parte do tempo e então bufa ao contar sobre a discussão que tiveram hoje por causa do sorvete. 

Decido não interrompê-la. Ela está desabafando com uma amiga e não quero ouvir seu drama. Por isso, volto para baixo e fico na cozinha com meus pais. Papai liga o rádio do vovô e Frank Sinatra começa a cantar Theme From New York, New York. Ele tira minha mãe de perto da pia onde lava as louças, a segura pela cintura e ela envolve os braços em seu pescoço para começarem a dançar no meio da cozinha. Sorrio para eles e canto alguns versos da canção, mas não sou boa nisso e começo a rir. No meio da música, Maby se encosta no batente da porta e cruza os braços. Ela também sorri ao ver nossos pais dançando.