TRÊS

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Levanto da cama por volta das seis da manhã. O galo em minha cabeça diminuiu um pouco, mas ainda está dolorido quando franzo a testa, movimento as sobrancelhas ou jogo água no rosto. Por mais que eu tenha colocado gelo durante a noite toda, o problema não foi resolvido completamente.

Will tinha mesmo que me machucar logo agora que estou fazendo parte do comitê da festa do final do ano da escola? Minha testa tinha que ficar assim logo antes da reunião em que a presença dos organizadores é obrigatória? Uma reunião em que Douglas vai participar!

Ligo para Marília e quase choro ao pedir sua ajuda para esconder o machucado. Ela diz que vai passar aqui e dar um jeito nessa coisa antes de irmos para a escola.

Isso me acalma um pouco e decido tomar banho para não me atrasar.

Saio do banheiro enrolada em uma toalha e vejo que Maby ainda não acordou, por isso cutuco seu ombro para acordá-la. Ela então resmunga algo que não entendo, vira para o outro lado e põe o travesseiro no rosto.

Balanço seu ombro mais forte dessa vez e recebo uma travesseirada como resposta.

- Tá legal. Agora pegou pesado.

Pego a guitarra roxa da minha irmã e a conecto no amplificador que coloquei ao lado da sua cama. Giro o botão do volume até deixar no máximo e sento em minha cama com a guitarra no colo. Faço um acorde - um dos único que consegui aprender em toda minha vida - e o toco com toda vontade.

Mabel dá um salto assustado da cama e quando percebe o que fiz, arregala os olhos, cerra os dentes e grita:

- Emily!

Levanto, colocando a guitarra contra a parede.

- Foi a única maneira de te acordar.

- Eu vou te pegar! - aperta os olhos e engulo em seco.

Ela vai mesmo me pegar.

- Mãe! - saio do quarto às pressas e corro pelo corredor com minhas chinelas molhadas e somente uma toalha em volta do corpo. - Mãe!

- Emily, sua peste!

Desço as escadas e já na sala, Maby e eu damos a volta no sofá 3 vezes como se fôssemos cachorros, um correndo atrás do outro. Quando vejo a oportunidade, desvio para a cozinha e me escondo atrás da minha mãe. Minha irmã chega logo em seguida, com o cabelo bagunçado e os olhos vidrados em mim. Ainda não desistiu de acabar comigo.

- O que vocês duas estão aprontando? - mamãe coloca as mãos na cintura.

- Foi ela! - Maby e eu falamos em uníssono enquanto apontamos.

- Você não ouviu, mãe? - Mabel ajeita os cabelos. - Essa desmiolada usou uma guitarra para me acordar!

- Você me bateu com o travesseiro! - saio de trás da minha barreira.

- Mabel e Emily quando vocês duas vão parar de agir feito crianças?

- Só quando essa pirralha sair do meu quarto! - minha irmã cruza os braços. - E não me chame de Mabel.

- Eu sou sua mãe, chamo você do que quiser.

Quase dou uma risada, mas consigo segurar.

- Vão se arrumar logo. - mamãe olha com seriedade para nós e obedecemos.

Subimos as escadas dando empurrões uma na outra e quase caio de cara nos degraus afrente quando Maby põe o pé no meio do caminho. Seguro no corrimão para me equilibrar e ela começa a rir ao correr para o quarto e fechar a porta. Ela a trancou. Tenho certeza. Mas cansei de brigar por hoje - o dia mal começou e já estamos tentando nos matar - por isso simplesmente sento em um dos degraus e espero por Marília aqui mesmo; ainda de toalha e com o cabelo todo desgrenhado e molhado.

Opostamente AtraídosDonde viven las historias. Descúbrelo ahora