Capítulo 5

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– Qual o motivo de estar com essa cara de bunda? – perguntou ele depois de fazer seu pedido na cantina.

– Por nada, é a única cara que tenho.

– Ixi, calma. Parece que está chateado! Aconteceu alguma coisa?

– Não!

– Ou está assim por causa da garota que ficou conversando comigo a aula toda? – ele soltou uma risada.

– Claro que não, palhaço. Você pode conversar com quem quiser, não tenho nada com isso e muito menos com a sua vida. Quem tem que se importar com isso é sua namorada. – eu disse irritado.

– Cara – ele apoiou o cotovelo na bancada e me olhou ainda com um sorriso no rosto. –, ela só sentou do nosso lado. Só isso. Não precisa ficar bravo.

– Não, ela não sentou do nosso lado, ela sentou do seu lado e conversou com você, e você com ela. E eu não estou bravo. – menti.

– Tudo bem, da próxima vez eu peço pra ela conversar contigo também, já que você faz tanta questão assim.

– Para de ser idiota! Eu não quero conversar com ela, eu quero conversar contigo. Você me deixou de lado a aula inteira pra ficar falando sobre sua vida para uma garota chata que não parava de arrumar aquele cabelo e que comete erros gigantes de português, tão gigantes quantos seus peitos.

Assim que terminei de falar, percebi que havia falado demais, mas agora já tinha dito e não podia mais fazer nada a respeito. Consegui enxergar a surpresa em seus olhos ao me encarar e imaginei que ele fosse falar alguma coisa desagradável pra mim, mas ele apenas ficou calado direcionando seu olhar para cada um de meus olhos. Quando comecei a achar que ele ficaria minutos sem falar nada...

– Olha – começou a falar com aquela voz doce. –, me desculpa. Não sabia que isso iria te deixar tão chateado assim. Achei que você não tivesse se importado tanto. Me desculpa.

Imediatamente senti meus ombros caírem e o arrependimento bater a minha porta. Não queria ter falado aquilo e muito menos daquele jeito. Eu nem tinha o direito de ficar chateado, pois tinha acabado de conhecê-lo e a forma como ele se portou diante da minha grosseria desnecessária e completamente carente foi no mínimo bonita, o que me deixou sem graça até o último fio de cabelo.

– Esquece isso, não posso exigir e nem cobrar toda sua atenção pra mim. Você tá mais do que certo em querer se enturmar com outros alunos e eu errado por te conhecer a apenas um dia e já ter brigado contigo.

– Nos conhecemos ontem, mas já faz parte da minha vida, já é meu amigo, certo? Soa um pouco forçado, mas a partir do momento que eu crio afinidade e converso com uma pessoa, ela já faz parte da minha vida, independente do tempo. – ele estreitou os olhos e olhou pros lados, pensativo. – Ok, isso ficou bem brega, mas acho que deu pra entender.

– Eu entendi. Obrigado. – eu disse sorrindo.

– Que bom. Então vamos sentar pra comer. – ele pegou seu lanche e andou na frente. – Ah, e é verdade, ela fala muito errado. Irrita um pouco.

Fiquei com muita vergonha depois daquele ataque de ciúme bobo. Nos sentamos no pátio, mas continuei calado pensando na besteira que tinha feito. Ele me olhava algumas vezes e eu desviava o olhar discretamente desejando que ele esquecesse que eu havia dado um pequeno ataque de ciúme.

– Vai ficar calado? – perguntou ele.

– Não tenho nada a falar. Quer que eu fale o que?

– Qualquer coisa é melhor que esse silêncio sombrio que nos ronda agora.

Dei um pequeno sorriso, que o fez sorrir de volta. Olhei para a amendoeira que perdia suas folhas com a maior facilidade do mundo a cada vento forte que soprava. Dei a última mordida em meu salgado e suspirei, esquecendo que Christiano ainda estava ao meu lado me observando e esperando eu falar algo.

– Como você sabe que eu gosto de coxinha de frango e de refrigerante?

– Eu tenho um dom!

– Um dom?!

– É! Consigo saber muitas coisas sobre as pessoas, mesmo que elas não me contem.

– Quase um sexto sentido então. – debochei.

– Hahaha, to brincando. Não tenho dom nenhum, e respondendo a sua pergunta... Eu apenas arrisquei.

– Entendi. – eu disse sorrindo. – Cara, me desculpa mesmo, ok? Você pode ficar com a garota lá, você tem que fazer mais amizades mesmo. Eu acordei meio irritado hoje, não liga não.

– Bobagem. Ela fala demais. – ele disse rindo.

– Mas é claro que ela fala demais. No mínimo ela esta caidinha por você. Eu percebi só pelo olhar que ela te lançou.

– Hahahhahaha, nunca!

– Você sabe que é verdade.

– Duvido muito. Ela com certeza possui aquele dom que pode levar qualquer garoto daqui a loucura.

Foi ali que percebi que Christiano não tinha muita noção da sua beleza ou então fingia muito bem. Tentei entender como alguém com aquele rosto harmonioso e aquele corpo naturalmente bem distribuído pode não perceber que é belo. Ele não só era bonito, mas também era charmoso e tinha algo em especial que chamava atenção e nos fazia querer observá-lo o tempo todo, talvez fosse o jeito como ele caminhava, o jeito como mexia no cabelo ou talvez fosse o simples sorriso encantador que fazia seus olhos grandes ficarem pequeninos. Christiano achava que uma garota como Lisa não se interessaria por ele assim tão fácil, mas eu sabia muito bem que Lisa, que não era tão espetacularmente linda assim e com toda a certeza desse mundo era bem menos atraente que a própria namorada do Christiano, estava interessada nele.

– Bom, ela realmente deixa os meninos doidinhos, mas que ela esta interessada em você... Tenho que te dizer que isso é verdade.

– Ela? Interessada em mim? – Christiano soltou uma gargalhada. – Nada a ver.

– Nada a ver? – eu disse fazendo uma careta. – Você fala como se você fosse um cara bem feio, não consigo entender isso.

– O que você acha?

– Eu acho que ela esta super interessada em você. Tenho certeza...

– Não! – disse ele me interrompendo. – Não sobre isso. Quero saber se você me acha feio.

– É melhor você perguntar pra Lisa, aí você vai ter a certeza de que ela te quer. – eu disse tentando dar uma gargalhada para esconder meu nervosismo.

O sinal do colégio tocou segundos depois, me fazendo tremer de susto, mas me aliviou por ter que terminar aquele assunto.

Eu até que queria dizer o quanto ele era bonito, o quanto aqueles olhos castanhos me encantavam, o quanto aqueles cabelos levemente ondulados eram charmosos quando bagunçados, o quanto aquele sorriso largo era perfeito, o quanto aquele peitoral bonito escondido por debaixo da blusa me fazia imaginar mil coisas.

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