Capítulo 22

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– Você não vai fazer educação física? – perguntou Christiano se juntando a mim no longo banco de madeira perto da quadra de esportes.
– Não to com vontade de correr pra lá e pra cá hoje. Vou ficar aqui.
– Ah, vamos lá. Vai ser divertido. Até hoje não fiz educação física contigo, cara.
– E acho que nem vai fazer. – eu disse tentando provocá-lo.
– Mas que moleque difícil hein. – ele levantou e tirou a blusa. – Então eu vou me trocar no vestiário.
– Ficarei aqui pra te assistir jogar.

Christiano não demorou muito a sair do vestiário junto com os outros caras da turma. No meio de todos eles Christiano se destacou, não só pelo seu tamanho, mas também porque era o único que estava sem camisa. Tentei não olhar muito para seu corpo enquanto ele conversava animado com o pessoal da turma, mas quando ele veio ao meu encontro meus olhos não conseguiram desviar de seu peitoral. Seu mamilo rosado se contrastava de um jeito perfeitamente atraente com sua pele clara e sua barriga não era definida e cheia de gominhos, mas era sequinha a ponto de deixar suas entradinhas bem definidas.

– Cadê sua camisa?
– A camisa que eu trouxe pra aula ficou meio apertada. Prefiro fazer sem camisa mesmo. – disse ele passando a mão em sua barriga.
– Entendi. – meus olhos acompanharam sua mão.
– Que foi?
– Nada! Pede pro professor uma blusa maior.
– Ah não, deixa pra lá. Até porque acho que as meninas ali ó – disse ele apontando para o outro lado da quadra sem a menor discrição. – estão gostando de me ver assim.
– Não acredito nisso. – eu disse rindo. – Como se você fosse o cara mais gato da escola.
– Estou de brincadeira. – disse ele gargalhando. – A única coisa que importa é se você gostou.
– Mas olha só como eu sou importante. – eu disse passando os olhos por todo seu corpo e estreitando os olhos como se estivesse o avaliando. – Você sabe que eu gosto muito quando você deixa o seu cabelo todo pra trás assim, né?
– Poxa – ele jogou a camisa no ombro direito e abriu os braços. –, eu estou aqui só de bermuda e você elogia meu cabelo? Só você mesmo.
– Se isso te deixa feliz, você está muito gostoso, mas eu aprecio muitas outras coisas além de um belo corpo, ok?
– E é por isso que eu gosto tanto de você. – ele abriu um sorriso largo. – Você é tão diferente e isso te faz ser o cara mais maneiro que eu conheço.

Nos encaramos por um tempo longo o suficiente para nos perder em pensamentos. Enquanto eu imergia naqueles grandes olhos escuros minha mente se fixava unicamente em uma coisa. Eu não fazia ideia do que ele estava pensando naquele momento, eu só sabia do que eu pensava naquele momento e era em seu beijo. Mergulhei tão profundamente naqueles pensamentos que eu quase podia sentir a maciez de seus lábios e o hálito fresco inundando meu nariz.
O som do apito me trouxe a realidade e o mesmo aconteceu com Christiano, que deu as costas e correu para a quadra de esportes. Imaginei que eles jogariam futebol, mas o professor dessa vez inovou e os ensinou a forma correta de jogar handball. Durante os dois tempos de aula eu fiquei sozinho assistindo as partidas e algumas poucas vezes conversava com quem quer que estivesse fora do jogo para descansar. Christiano não saiu da quadra uma vez sequer para descansar, jogou direto durante os dois tempos de aula parando somente pra beber água e por mais que eu estivesse adorando vê-lo praticar esporte todo suado, eu gostaria muito mais se ele estivesse do lado de fora da quadra, junto comigo e conversando.
No fim da aula todos foram para o vestiário tomar banho e trocar de roupa. Christiano foi o primeiro a sair e partimos direto para o pátio lanchar. Pedimos a mesma coisa de sempre e sentamos no mesmo lugar de sempre. Christiano estava faminto e devorou seu salgado em poucos minutos para logo em seguida fazer o pedido de mais um e enquanto isso eu estava na metade do meu primeiro salgado.

– Hm. – ele terminou de mastigar e engoliu. – Esqueci de perguntar uma coisa.
– Pode perguntar. – dei um gole no meu refrigerante e esperei ele falar.
– Quer dormir lá em casa hoje?

Arregalei os olhos e o encarei.

– Você me chamando para sua casa. E pra dormir. – coloquei a mão no peito. – Um tempo atrás fiquei sabendo que naquele apartamento não entrava ninguém que não fosse muito querido.
– É, e não entra mesmo. Não chamo qualquer um pra minha casa.
– E é por isso que estou tão surpreso por estar sendo chamado.
– Mas você já foi lá mais de uma vez. Não é um convite tão diferente assim.
– A primeira vez eu só fui porque precisávamos fazer um trabalho, que inclusive não foi finalizado, e a segunda vez foi porque eu estava sem a chave da minha casa. Então, é como se nenhuma das visitas fossem válidas.
– Pensando dessa forma, é verdade mesmo.
– Sua sobrancelha está suja. – eu disse segurando seu rosto e passando o dedão em sua sobrancelha. – Como você consegue comer e sujar até a sobrancelha?
– Marcos, nós estamos na escola ainda. – sussurrou ele tentando ser o mais discreto possível.
– Foi mal. – eu disse retirando minha mão do rosto dele quase que de imediato.
– Você ainda não me respondeu.
– É claro que eu quero dormir na sua casa hoje. Que pergunta mais besta. – sorri.
– Vai saber, não é? Talvez você não quisesse.
– Eu quero. Estava esperando esse convite faz tempo. – eu disse limpando meus dedos no guardanapo. – Não só porque eu queria estar com você, mas simplesmente por ser escolhido para ir a sua casa.
– Você fala como se minha casa fosse uma espécie de Disneylândia.
– Também não é pelo apartamento em si. Era mais por... Sei lá. Seria a prova de que você gosta da minha amizade.
– Ainda tem dúvidas de que eu gosto? – disse ele levantando o olhar até encontrar o meu.
– Não... – ficamos calados por alguns segundos. – Pensando bem, esse convite não caiu em uma boa hora.
– Por quê? – perguntou ele com os ombros arriados.
– Vou confessar pra você que as vezes é difícil sair da escola e ir pra casa sem um beijo seu. – terminei a frase num sussurro, me sentindo completamente vulnerável ao dizer aquilo. – Imagino que não vá ser fácil passar a noite contigo e manter nosso trato de pé.
– Você acha que é fácil pra mim? Mas como você inventou essa parada de trato, eu tenho que aceitar, mesmo não querendo. Mas falta menos de um mês pra isso acabar. A gente vai conseguir ficar na linha hoje. Vou arranjar algo pra a gente fazer.
– Seus pais não estão em casa?
– Meus pais? – ele bufou. – Eles nunca estão em casa, Marcos.
– Então tudo bem. Vou avisar minha mãe que irei dormir fora.
...

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