Capítulo 27

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Na segunda-feira eu fui caminhando para a escola, ansioso e feliz para rever o Christiano e mais ansioso ainda para que as aulas passassem voando para poder passar a tarde beijando e fazendo carinho nele. Quando cheguei no portão, Christiano não estava lá. Achei estranho, pois ele geralmente chegava antes de mim e me esperava lá ou se fosse faltar, me avisava antes. Fui direto para a sala de aula na intenção de guardar nossos lugares e no caminho me senti extremamente estranho. Não soube identificar o que era, mas tinha algo diferente e aquilo estava me deixando um pouco desconfortável...

– Viadinho. – disse um dos garotos assim que passei pela porta.

Olhei para os três que lá estavam e não falei nada. Fui pego de surpresa. Deixei minha mochila na cadeira e saí da sala para beber água. Mais uma vez me xingaram ao passar pela porta e eu novamente não fiz nada. Eu nunca tive problema com os garotos da turma e não fazia a mínima ideia do motivo que pudesse ter despertado aquilo neles.
Voltei pra sala de aula e pela terceira vez eles mexeram comigo.

– E aí, bicha, não vai falar comigo? – disse um deles novamente.
– Qual é o seu problema, Gustavo?
– Hm, ficou nervosa. – zombou ele.

Passei direto e me sentei na cadeira. Pude ver os três garotos cochichando entre si e imaginei que ainda estivessem falando sobre mim. Olhei ao redor e tive a leve impressão de que não só eles estavam zombando de mim, mas sim todo o pessoal presente na sala de aula.

– Já ouviu o que estão falando sobre você? – disse Fernando se sentando tão rápido na cadeira ao lado que me fez pular de susto.
– Quê? – perguntei.
– A turma inteira recebeu um email falando que você é namorado do Christiano e junto vinha uma suposta conversa de vocês dois no facebook. – Fernando me olhava com nervosismo nos olhos e tudo o que eu senti naquele momento foi enjoo. – É verdade, não é?
– Diz que você está de brincadeira, cara. Diz... – supliquei. – É por isso que estão me olhando e implicando comigo. Puta merda.
– É verdade?
– Sim. – murmurei.
– Cara, quem pode ter feito isso com você?
– Não sei. Ninguém sabia de nós dois, nós nunca contamos pra ninguém... Mas – parei por um segundo e minha mente clareou. – Mariana. Foi ela. Só pode ter sido.
– A namorada do Christiano? – disse Fernando quase que pausadamente.
– É. Só pode ter sido ela. Ela descobriu sobre nós na semana passada e... Que merda.
– Marcos – ele colocou a mão em minhas costas. –, Você não deve satisfação da sua vida pra ninguém dessa escola. Você sabe disso então relaxa.
– Eu sei, mas isso não era pra acontecer assim e o problema não sou eu, mas o Christiano...
– Christiano está lá embaixo. Acho que você precisa ir falar com ele.

Meu estômago embrulhava a cada passo que eu dava em direção ao Christiano. Ele estava sozinho no pátio da escola e de costas para a escadaria. Eu não sabia o que ele estava fazendo ou pensando, mas sabia que ele estava pensativo enquanto estava parado de frente para a parede e
também sabia que coisa boa não viria dali.
Só de pensar na reação negativa que ele poderia ter meus olhos ardiam como brasa e tudo o que eu desejava naquele momento era que tudo não passasse de um sonho ruim ou que tudo fosse esquecido no dia seguinte. Todas as conversas que tive virtualmente com Christiano me
assombraram naquele pequeno instante e me senti envergonhado por saber que todos tinham lido tudo o que nós havíamos dito um para o outro. Todas as declarações, vontades e desejos, confidências... Agora tudo estava na boca do pessoal da escola.

– Christiano! – eu disse e ele demorou um tanto para se virar.
– Você está maluco, porra? – disse Christiano já explodindo pra cima de mim.
– O que foi?
– Porra. O colégio inteiro está falando que você é meu namorado e que eu sou uma bicha. Você sabia muito bem que eu não queria que as pessoas soubessem disso. – gritou ele apontando o dedo pro meu rosto. – Você sabia.
– Eu não falei nada.
– Claro que falou. – ele pegou firme em meu braço. – É muita sacanagem sua fazer isso comigo. Só porque terminei com a Mariana você acha que eu sou seu namorado e que pode sair fofocando pra todos a sua volta?
– Christiano, você está me machucando! – eu disse tentando me afastar de suas mãos firmes.
– Isso pode acabar com a minha vida. – ele se afastou e voltou para perto da parede. – Não é porque eu estava com você que eu queria que todos soubessem de nós. Você só faz merda.
– Eu não falei nada pra ninguém. Eu juro. Fui pego de surpresa também.
– Mentira – ele socou a parede. – Que merda eu fui fazer! O que eu tinha na cabeça quando te beijei, merda. – ele socou a parede de novo. – Caralho, se meu pai souber disso ele vai me matar.
– Ele não vai saber, Christiano. Para de socar a parede, sua mão está machucada. – tentei segurar sua mão, mas ele se esquivou.
– Me solta – ele me empurrou. –, sai de perto de mim.
– Para com isso, porra – eu disse –, eu não fiz nada, você acha que eu faria isso?
– E foi quem então? Ninguém sabia sobre nós dois, nem seus amigos sabiam. E isso acontece logo quando eu termino com a Mariana. Muita coincidência, não é? Eu fui muito idiota, isso sim. Eu poderia estar feliz com a minha namorada agora...
– O que? – quase gritei. – Agora eu sou responsável pela sua infelicidade? Sou eu que te deixo infeliz?
– Sim! Você acabou de foder com a minha vida! Não tenho mais namorada, agora todo mundo sabe que eu estava ficando com você e isso uma hora vai cair nos ouvidos do meu pai.
– Para. – gritei. – Para de falar merda.
– Para é o cacete. Pra você é fácil falar isso, pra você tanto faz.

Nós estávamos quase que aos berros no pátio vazio. Christiano estava com o rosto tão vermelho quanto seu boné virado pra trás em sua cabeça e sua mão estava sangrando um pouco por causa dos socos que deu na parede. Ele estava possuído pela raiva e a forma como falava e agia era surpreendentemente diferente de qualquer coisa que eu poderia imaginá-lo fazendo. Se eu não o conhecesse tão bem, acharia que ele fosse capaz de me bater, mas eu sabia que ele jamais faria algo desse tipo.

– Christiano, por favor, deixa eu te ajudar com essa mão aí. – eu disse tentando me acalmar.
– Ela está sangrando.
– Deixa essa merda sangrar. – ele olhou por um breve momento para sua mão, mas não deu a mínima importância.
– Você está maluco, cara. – fiquei parado olhando pra ele, mas ele não devolveu o olhar. Ao invés disso ele esbarrou em mim e foi embora.

Continuei parado no meio do pátio tentando absorver toda aquela confusão. Já tinha todo o estresse da escola e agora eu tinha que lidar com o Christiano morrendo de ódio de mim e falando um monte de besteiras sem pensar. Minha raiva era tamanha que nenhuma lágrima escorreu,
ficaram todas presas em meus olhos. Christiano não tinha o direito de me tratar daquela maneira sem nem saber o que realmente estava acontecendo. Era injusto.
Subi as escadas e fui para a sala de aula, mas no caminho me lembrei que estávamos em tempo vago e que ninguém me deixaria em paz naquele dia. Nem me dei conta de que estava passando por muitos outros alunos que provavelmente estavam de espectadores da nossa briga no
pátio e pra falar a verdade aquilo não tinha a menor importância agora. Entrei na sala e fui direto pegar minha mochila. Não olhei pra ninguém e andei depressa para que ninguém parasse pra falar comigo, mas Fernando me acompanhou andando rapidamente ao meu lado.
– O que foi cara? – perguntou Fernando. – Vai pra onde?
– Vou pra casa, preciso sair desse lugar.
– Quer que eu vá contigo?
– Não! Quero ficar sozinho.

Passei pela porta da sala e fui andando pelo longo corredor. Senti mais alguns olhares em cima de mim e a vontade que eu tinha naquele momento era de berrar na cara de cada uma delas e mandá-las tomar conta de suas vidas.

– A bichinha vai sair pra dar a bunda, depois ele volta. – disse Gustavo que estava no corredor.

  Passei direto por ele bufando de raiva e tentei me controlar, mas não consegui. Eu precisava falar alguma coisa para aquele babaca... Dei meia volta, olhei para seu rosto debochado e, mesmo sem saber como, dei um soco nele e me preparei pra dar outro sem me importar com a dor na mão, mas Fernando me segurou.

– Seu filho da puta! – gritei.
– Eu vou te matar, moleque. – gritou Gustavo que foi segurado por um de seus amigos.
– Marcos, se acalma! Para com isso, cara. – disse Fernando. – Vamos lá pra fora. Vem!

Fernando só me soltou quando teve a certeza de que eu estava mais calmo e então me acompanhou até o portão da escola. No caminho Christiano passou por nós e quando nossos olhos se encontraram ele desviou o olhar como se não me conhecesse. Balancei a cabeça negativamente e pensei no quão surreal era tudo aquilo que estava acontecendo.

– O que aconteceu, Marcos? – perguntou Fernando quase sussurrando.
– Você não assistiu ao show?
– Não! Eu estava na sala.
– O idiota do Christiano acha que eu mandei o email pra todos e agora não quer falar comigo.
  – Você quer que eu fale com ele? Talvez resolva.
– Não faz isso, pelo amor de Deus. – eu disse colocando a mochila nas costas. – Do jeito que ele está vai achar que eu pedi pra você conversar com ele. Eu vou pra casa, porque é o
melhor que eu faço. Não quero mais ficar aqui.
– Tudo bem. Se precisar de alguma coisa, pode me ligar, vou deixar o celular ligado.
– Relaxa. Está tudo bem.
– Então vai lá. – Fernando me olhou com um ar triste e me abraçou.


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Ah, estou escrevendo uma nova história. Dá um olhada: https://www.wattpad.com/story/232592462-delivery-boy

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