Capítulo 37

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Saí de casa as pressas e não tive paciência para esperar o elevador. Desci correndo pelas escadas, pulando dois degraus por vez e às vezes três. Na rua tentei avistar um táxi livre, mas não encontrei nenhum e então fui a pé mesmo. Comecei andando rápido, mas poucos segundos depois eu já estava quase correndo e sentindo minha panturrilha queimar. Cheguei na esquina da rua em tempo recorde e com a respiração ofegante. Christiano estava sentado no chão com seu skate do lado e o motorista próximo dele.

– Ei, cheguei. – eu disse já me abaixando e olhando para cada canto de seu corpo para ver se ele havia se machucado seriamente. – O que aconteceu?
– Marcos, me desculpa cara...
– Fica quieto, não precisa falar nada.
– Eu o atropelei sem querer, ele estava andando de skate no meio da rua. Eu quero ligar para a ambulância, mas...
– Eu já disse que não precisa de ambulância. Eu tenho plano de saúde...
– Mesmo assim você precisa ir ao médico. Eu acho que você quebrou a perna.
– Que quebrei a perna o quê. Eu só torci. Você já pode ir embora.
– Chris – sussurrei. –, tem certeza que não acha melhor ir ao médico e ver se não fraturou o osso?
– Eu quero ir pra casa. Me ajuda a levantar.
– Obrigado por tentar ajudar, mas eu vou ficar com ele agora. Você já pode ir. – eu disse.
– Eu não posso deixá-lo aqui.
– Pode sim. Ele não vai prestar queixa, fique tranquilo. O plano dele inclui consulta médica em casa...

Eu queria que Christiano fosse direto ao hospital, mas pra isso ele teria que ir a força, pois ele detestava hospital e era teimoso como uma criança de sete anos. Convenci o motorista a ir embora e ficar tranquilo e pedi ajuda para outra pessoa me ajudar a levar Christiano até em casa.

– Ta doendo ainda? – perguntei.

Eu estava deitado de bruços com os cotovelos apoiados na cama e Christiano estava deitado a minha frente.

– Não!
– Fala a verdade.
– Um pouquinho só. Nada que seu namorado não aguente.
– Você precisa prestar atenção quando for andar de skate na rua, Chris. – eu disse tirando o cabelo de sua testa e beijando-a.
– Eu estava atento, mas acabei vacilando sem querer. – disse ele. – Meu pé ta é coçando dentro dessa bota ortopédica.
– São que horas? – perguntei.
– Não me diga que vai embora... – ele ajeitou seu relógio. – São sete e meia.
– Vou dormir com você hoje.
– Acho que eu mereço isso. – ele soltou uma risadinha.
– Eu vou fazer a janta. O que você quer comer?
– Pode ser strogonoff de frango?
– Maravilha. Vou lá fazer e você vai ficar aqui quietinho.

Me levantei da cama e fui direto para a cozinha preparar o jantar para ele. Senti uma súbita felicidade me invadir e eu soube no mesmo instante que aquelas pequenas coisas com Christiano me deixavam assim. Feliz. Poder passar o dia com ele, poder preparar a janta e cuidar dele me deixava imensamente completo, me deixando com a sensação que nada mais me faltava na vida e que tudo o que eu precisava era poder cuidar, ser cuidado e tê-lo para mim.
Verifiquei o arroz pronto e vi que tinha o suficiente para aquela noite, separei os temperos que iria precisar, deixei a panela já em cima do fogão, peguei o peito de frango e o dividi em quatro para então começar a cortá-lo em cubinhos. De repente uma música invadiu o apartamento e logo a reconheci.
Christiano não aguentaria ficar muito tempo deitado sozinho na cama e é claro que logo levantou para ligar o aparelho de som. Não demorou muito e ele apareceu na porta da cozinha com um sorriso travesso no rosto. Lindo como sempre, ele balançou os ombros no ritmo da música e eu não consegui resistir e sorri o suficiente para meus olhos encolherem.

– Como você sabe que eu gosto de Marisa Monte? – perguntei enquanto cortava o frango. – Eu não tinha certeza, mas imaginei que você pelo menos curtisse um pouco.
– Eu simplesmente amo. – acabei me rendendo ao som delicioso daquela música e comecei a dançar de leve. – E essa música é maravilhosa.
– 'Na Estrada' é uma das minhas preferidas também. Acho que você é minha alma gêmea.

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