Capítulo 18

5.3K 467 87
                                    

– Dormiu bem? – disse Christiano passando por mim e abrindo a geladeira.
– Melhor impossível. – respondi.

Eu estava na pia lavando a louça do almoço enquanto o pessoal conversava na sala. Nós acordamos tão tarde que o café da manhã foi substituído pelo almoço. Eu fui o primeiro a acordar e como os pais do Fernando não estavam no apartamento eu me senti a vontade para tomar banho e olhar na dispensa o que tinha para comer. Eu sabia que todos iriam acordar com fome e também sabia que Fernando com certeza não havia pensado nisso quando decidiu que todos dormiriam lá. Fiz arroz, temperei o feijão e fritei nuggets. O cheiro da comida pareceu acordar todos ao mesmo tempo como se fossem zumbis famintos e quando eu achei que pudesse comer mais um pouco daquela comida, tudo já tinha acabado, não havia sobrado nada. Talvez a comida estivesse muito boa ou talvez a fome fosse gigantesca mesmo.

– Você sempre cozinha na sua casa?
– Raramente. – respondi depois de lavar o último prato e colocá-lo na secadora. Virei de costas para a pia e me apoiei nela enquanto secava minhas mãos e olhava nos olhos dele. – Mas eu gosto de cozinhar. Acho divertido.
– A comida estava muito boa. – ele arregalou os olhos e se inclinou pra frente com um sorriso no rosto. – Sério. Estava muito gostosa.
– Nossa! Obrigado. – tentei sorrir da forma mais sedutora que pude. – Eu também gosto de cozinhar, mas tenho preguiça.

Não dei atenção para aquele assunto. Eu só conseguia pensar no jogo de ontem e na sensação única que havia sentido quando ele estava com seu rosto em meu pescoço. Me deliciei de pensamentos só de olhar sua boca rosada e úmida após beber água e eu não fiz questão alguma de disfarçar aquilo, mas ele pareceu não decodificar meus pensamentos e então andou lentamente para a saída da cozinha.

– Já está na hora de ir pra casa. Quero tirar essa roupa. – disse ele.

Desde que eu acordara eu me sentia diferente, sentia que meu humor estava no topo das montanhas. Eu estava feliz, me sentindo leve como uma pena e muito otimista, mas tudo isso era muito comum para mim. Eu me sentia feliz várias vezes e meu humor também ficava ótimo durante alguns dias, mas havia outra coisa que estava contribuindo para o meu estado e alegria. Eu me sentia desejado. Pela primeira vez em minha vida eu me senti bem comigo mesmo a ponto de imaginar que alguém poderia se sentir atraído por mim e Deus... essa era a melhor sensação do mundo. Só que tudo isso acabou se esvaindo aos poucos depois de falar com Christiano. Ele parecia nem se lembrar da noite anterior e até mesmo do que havia me dito no banheiro da escola. O tratamento era exatamente o mesmo, nada de diferente e esse era o problema. Eu desejava outro tipo de tratamento, queria que ele me fizesse lembrar sutilmente de que ele me queria e que havia gostado da nossa 'consequência'.
Enquanto cada um se organizava para ir embora, eu lembrei que estava sem a minha chave de casa. Deixei a chave embaixo do tapete, pois sabia que meus pais estavam sem chave e que eles chegariam antes que eu voltasse, mas agora já era outro dia e eles já não estavam mais em casa.
– Puta merda! – eu disse com a mão na testa. – Estou trancado do lado de fora.
– Está sem chave? – perguntou Fernando.
– Sim. Meus pais ficaram de sair hoje e eu estou sem chave.
– Que merda, cara. Você pode ficar aqui, se quiser.
– Nós vamos ao shopping. – disse Mariana animada.
– E eu vou junto pra estragar o passeio dos namorados, é? – eu disse sorrindo e olhando para Christiano que ainda parecia não se lembrar da noite passada.
– Não tem problema. Vai ser legal. – ela cutucou Christiano. – Não é, Christiano?
– Sim. Deixa de graça e vamos.

Saindo do apartamento do Fernando, fomos direto para o do Christiano. Era minha segunda vez na casa dele, mas eu não contava aquela visita como uma segunda vez, pois só tinha sido convidado por não ter como ir pra casa e porque iríamos sair juntos, então não era muito válido. Eu ainda esperava um dia ser convidado para seu apartamento, que raramente outras pessoas frequentavam, pelo simples motivo de: Christiano querer minha companhia. Essa seria a prova de que ele realmente gostava de mim.
Mariana foi tomar banho enquanto eu e Christiano ficamos sozinhos na sala. Sentei-me na ponta do sofá e Christiano ficou caminhando pela sala por alguns instantes para logo depois se juntar a mim. Ele se sentou bem ao meu lado, bem próximo de mim, e me olhou. Como não falei nada e nem demonstrei ter percebido sua presença ali, ele esbarrou sua perna na minha, querendo chamar minha atenção. Olhei pra ele.

– Acabou que nós não entregamos o trabalho de biologia. – disse Christiano quebrando o silêncio.
– Verdade! – eu disse balançando a cabeça. – Você sumiu durante a semana inteira, né.
– Eu já disse que estava doente.
– Doente a semana inteira? De segunda à sexta? – falei ironicamente.
– Sim. Você não fica doente?
– Fico, mas nunca fiquei exatamente uma semana de cama.
Ficamos calados por um minuto até ele quebrar o silêncio mais uma vez.
– E o joguinho de ontem, hein?! – sua voz soou estranha seguida de uma risadinha.
– Foi tenso. – sorri.
– Tenso? – ele fez uma careta.
– Vai dizer que não gostou?
– É, não gostei mesmo. – menti.
– Então você não gostou quando eu beijei seu pescoço? – sua voz foi sumindo até terminar a frase num sussurro.

Ele só precisou inclinar seu corpo para que pudesse chegar a meu pescoço. Senti sua respiração abrir as portas do desejo que estava guardado dentro de mim e seus lábios tocaram o meu pescoço, quase da mesma forma da noite anterior. Senti meu corpo esquentar bravamente e eu sabia que não poderia resistir àquilo. Não havia ninguém conosco na sala, ninguém pra nos olhar, ninguém pra nos assistir. Num movimento rápido, segurei seu rosto e beijei sua boca. Ele correspondeu o beijo na mesma hora e me senti aliviado e seguro para continuar o beijo. A mão de Christiano segurava minha nuca e me pressionava levemente contra ele, fazendo do nosso beijo o mais quente possível naquela posição.

– Christiaaaaaaaano! – gritou Mariana.

O AmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora