III

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Adam iria voltar a dormir em seu quarto pela primeira vez desde que Catherine havia morrido. Tudo naquele quarto a lembrava de uma maneira inacreditável. Tinha sido naquele cômodo suas melhores risadas e abraços. Sua alegria acabou morrendo junto a ela. Não havia uma noite que ele não se lembrasse dela e chorasse.

Ele sabia que não podia ficar daquela maneira para sempre, mas nada para ele tinha mais sentido. Sentia-se egoísta ao ter esses pensamentos, pois havia seus três filhos que precisavam do seu amor e atenção. Porém, não suportava olhar o rosto do seu filho mais novo, porque foi no parto dele que a rainha acabou tendo uma hemorragia e morreu.

Adam sabia dentro de si que a criança não tinha nenhuma culpa daquela situação, mas ele simplesmente não conseguia controlar seus sentimentos de repulsa. Pedia perdão a Deus todos os dias por esses sentimentos tão sujos sobre uma pobre criança inocente.

O que o deixava mais tranquilo era a sua sogra, a duquesa de Lennox, porque o estava ajudando de todas as formas, principalmente para governar a Escócia. Nomeou-a como sua regente, sem ninguém saber, pois não encontrava estabilidade psicológica para governar um país.

Nunca havia desejado a coroa, mas ela acabou pousando em sua cabeça tragicamente. Sua irmã mais velha, Alice, era a herdeira do trono, morreu afogada em um lago, e desde então, as pessoas pararam de ir se divertir e se banhar no local como sinal de luto e respeito.

Muitas vezes se sentia culpado pela morte de Alice. No dia em que ela havia ido para o lago, o tinha chamado diversas vezes para fazer companhia, mas recusou, querendo ficar no palácio estudando alguns mapas. Se ele pudesse simplesmente voltar ao passado, teria feito tudo diferente, e sua irmã ainda estaria viva e governando a Escócia.

De repente, alguém bateu na porta delicadamente. Adam respirou fundo, colocou uma roupa rapidamente, e sentou-se em uma poltrona, desconfortável.

— Pode entrar.

Sua sogra entrou em seus aposentos com um belo vestido preto. Seus cabelos estavam amarrados em duas belas tranças. Lexie tinha um semblante tranquilo e uma expressão de satisfação. Invejava-a por conseguir suportar a dor da perda de Catherine.

— Boa noite meu genro. — ela fechou a porta. — Fico feliz que tenha voltado para seu verdadeiro aposento. Não poderia ficar em qualquer quarto do palácio, como estava fazendo.

Adam se manteve em silêncio e observou ela se aproximar.

— Sabe que não suporto quando fica calado desta maneira, Adam.

— Boa noite Lexie. — Adam encostou-se na poltrona.

Lexie cruzou os braços e o encarou.

— A data da chegada do rei inglês está próxima. Tente ao máximo se recompor um pouco para recebê-lo. Faz aproximadamente três anos que ele veio aqui, e não estava nada composto.

— Eu tinha acabado de perder minha esposa. O que queria Lexie? Algumas vezes chego a pensar que não se importa com a morte da sua própria filha. George não se importará com isso.

— Como pode saber se o seu primo não se importará? — arqueou as sobrancelhas grossas.

— George não é como os outros monarcas. — deu de ombros. — Apesar de termos convivido por pouco tempo, o conheço bem.

— O rei casou-se, pode ter mudado.

— A rainha Charlotte não deve ser uma má pessoa, aparentemente todos a amam.

— Nem a conhece.

— Nem você.

Lexie começou a bater o pé impacientemente no chão, o fuzilando com os olhos. Adam apenas ignorou o comportamento da sogra e cruzou as pernas.

— Muitas vezes sabe ser irritante.

— Perdoe-me minha sogra, mas não estou em um bom momento.

— Não está há três anos. — colocou as duas mãos na cintura. — Chamarei as crianças para lhe dar um beijo de boa noite.

— Por favor...

— Não trarei Arthur, apenas Alethia e Harold.

A duquesa saiu do quarto antes mesmo de Adam responder alguma coisa. Doía dentro dele renegar seu filho, mas ainda era insuportável olhar a face da criança.

Respirou fundo e começou a chorar.

A porta foi aberta mais uma vez, e seus filhos adentraram ao quarto receosos. Os últimos encontros com eles não foram muito bons, e estava estampado no rosto das crianças o quão elas estavam desconfortáveis.

Adam levantou-se também receoso, ajoelhou-se diante dos filhos e limpou as lágrimas em seu rosto. Colocou a mão sobre os cabelos castanhos de Alethia, e envolveu um braço no ombro de Harold.

— Vovó nos pediu para vir dar boa noite ao senhor. — Alethia mordeu o lábio inferior. — Espero que não esteja tão zangado como da última vez que estivemos aqui.

As palavras de Alethia o atingiram como facas envenenadas. Ele sabia que havia sido rude, mas não sabia o quão havia atingido as crianças. Harold nada falava, apenas olhava para os pés descalços.

— Aquilo não se repetirá. — sua voz falhou. — Tudo aquilo foi um terrível erro com vocês.

— Vovó nos disse que deveríamos rezar pelo senhor. — Harold abraçou o próprio corpo. — E que deveríamos perdoá-lo.

— E vocês me perdoaram?

— Sim. — os dois responderam em uníssono.

Adam os envolveu em um abraço forte. As lágrimas voltaram a cair por seu rosto.

— Não chore papai. — sua filha sussurrou em seu ouvido. — Também sentimos falta dela. Cada um sente a perda de uma forma. Posso ser apenas uma criança de oito anos, mas posso entender um pouco sobre as pessoas. Um dia o senhor vai superar isso tudo, e ficará tudo bem novamente.

— Vão falar com a avó de vocês. Irão ficar comigo esta noite.

— Sério? — Harold perguntou animado.

— Sim. — Adam deu umas batidinhas nas costas deles. — Vão e voltem rápido.

Os gêmeos saíram correndo do quarto em direção ao corredor, onde Lexie deveria estar esperando para levá-los aos seus quartos. Sorriu para si mesmo ao pensar que teria seus filhos mais próximos naquela noite.

Alethia e Harold chegaram correndo e pularam na cama, o que provocou uma risada sincera em Adam. Ele pulou logo depois das crianças, começando a fazer cócegas em suas barrigas, o que provocou ainda mais risadas entre eles.

Depois de algum tempo, eles se cansaram. Adam os colocou devidamente na cama, cobrindo-os com a coberta. Beijou a testa de cada um, e ficou sentado na beirada da cama observando elas dormirem.

Alethia tinha cabelos castanhos e olhos verdes como os da mãe. Já Harold, possuía o cabelo castanho-avermelhado, mas os olhos também eram iguais aos da mãe. Quando pensou em comparar Arthur com os irmãos, lembrou-se que havia evitado o filho durante três anos, e não fazia a mínima ideia de como ele estava atualmente.

Bem devagar, levantou-se da cama e saiu do seu quarto em direção aos corredores. Andou até a ala dos quartos das crianças, até achar a porta que dava para o quarto de Arthur.

Parou em frente à porta, colocando a mão sobre a maçaneta. Seu coração dizia que ele deveria abrir a porta e olhar seu filho, mas sua razão dizia para ele voltar para seu quarto e dormir com Alethia e Harold.

Adam seguiu o coração.

Apaixonados em EdimburgoWhere stories live. Discover now