Adam iria voltar a dormir em seu quarto pela primeira vez desde que Catherine havia morrido. Tudo naquele quarto a lembrava de uma maneira inacreditável. Tinha sido naquele cômodo suas melhores risadas e abraços. Sua alegria acabou morrendo junto a ela. Não havia uma noite que ele não se lembrasse dela e chorasse.
Ele sabia que não podia ficar daquela maneira para sempre, mas nada para ele tinha mais sentido. Sentia-se egoísta ao ter esses pensamentos, pois havia seus três filhos que precisavam do seu amor e atenção. Porém, não suportava olhar o rosto do seu filho mais novo, porque foi no parto dele que a rainha acabou tendo uma hemorragia e morreu.
Adam sabia dentro de si que a criança não tinha nenhuma culpa daquela situação, mas ele simplesmente não conseguia controlar seus sentimentos de repulsa. Pedia perdão a Deus todos os dias por esses sentimentos tão sujos sobre uma pobre criança inocente.
O que o deixava mais tranquilo era a sua sogra, a duquesa de Lennox, porque o estava ajudando de todas as formas, principalmente para governar a Escócia. Nomeou-a como sua regente, sem ninguém saber, pois não encontrava estabilidade psicológica para governar um país.
Nunca havia desejado a coroa, mas ela acabou pousando em sua cabeça tragicamente. Sua irmã mais velha, Alice, era a herdeira do trono, morreu afogada em um lago, e desde então, as pessoas pararam de ir se divertir e se banhar no local como sinal de luto e respeito.
Muitas vezes se sentia culpado pela morte de Alice. No dia em que ela havia ido para o lago, o tinha chamado diversas vezes para fazer companhia, mas recusou, querendo ficar no palácio estudando alguns mapas. Se ele pudesse simplesmente voltar ao passado, teria feito tudo diferente, e sua irmã ainda estaria viva e governando a Escócia.
De repente, alguém bateu na porta delicadamente. Adam respirou fundo, colocou uma roupa rapidamente, e sentou-se em uma poltrona, desconfortável.
— Pode entrar.
Sua sogra entrou em seus aposentos com um belo vestido preto. Seus cabelos estavam amarrados em duas belas tranças. Lexie tinha um semblante tranquilo e uma expressão de satisfação. Invejava-a por conseguir suportar a dor da perda de Catherine.
— Boa noite meu genro. — ela fechou a porta. — Fico feliz que tenha voltado para seu verdadeiro aposento. Não poderia ficar em qualquer quarto do palácio, como estava fazendo.
Adam se manteve em silêncio e observou ela se aproximar.
— Sabe que não suporto quando fica calado desta maneira, Adam.
— Boa noite Lexie. — Adam encostou-se na poltrona.
Lexie cruzou os braços e o encarou.
— A data da chegada do rei inglês está próxima. Tente ao máximo se recompor um pouco para recebê-lo. Faz aproximadamente três anos que ele veio aqui, e não estava nada composto.
— Eu tinha acabado de perder minha esposa. O que queria Lexie? Algumas vezes chego a pensar que não se importa com a morte da sua própria filha. George não se importará com isso.
— Como pode saber se o seu primo não se importará? — arqueou as sobrancelhas grossas.
— George não é como os outros monarcas. — deu de ombros. — Apesar de termos convivido por pouco tempo, o conheço bem.
— O rei casou-se, pode ter mudado.
— A rainha Charlotte não deve ser uma má pessoa, aparentemente todos a amam.
— Nem a conhece.
— Nem você.
Lexie começou a bater o pé impacientemente no chão, o fuzilando com os olhos. Adam apenas ignorou o comportamento da sogra e cruzou as pernas.
— Muitas vezes sabe ser irritante.
— Perdoe-me minha sogra, mas não estou em um bom momento.
— Não está há três anos. — colocou as duas mãos na cintura. — Chamarei as crianças para lhe dar um beijo de boa noite.
— Por favor...
— Não trarei Arthur, apenas Alethia e Harold.
A duquesa saiu do quarto antes mesmo de Adam responder alguma coisa. Doía dentro dele renegar seu filho, mas ainda era insuportável olhar a face da criança.
Respirou fundo e começou a chorar.
A porta foi aberta mais uma vez, e seus filhos adentraram ao quarto receosos. Os últimos encontros com eles não foram muito bons, e estava estampado no rosto das crianças o quão elas estavam desconfortáveis.
Adam levantou-se também receoso, ajoelhou-se diante dos filhos e limpou as lágrimas em seu rosto. Colocou a mão sobre os cabelos castanhos de Alethia, e envolveu um braço no ombro de Harold.
— Vovó nos pediu para vir dar boa noite ao senhor. — Alethia mordeu o lábio inferior. — Espero que não esteja tão zangado como da última vez que estivemos aqui.
As palavras de Alethia o atingiram como facas envenenadas. Ele sabia que havia sido rude, mas não sabia o quão havia atingido as crianças. Harold nada falava, apenas olhava para os pés descalços.
— Aquilo não se repetirá. — sua voz falhou. — Tudo aquilo foi um terrível erro com vocês.
— Vovó nos disse que deveríamos rezar pelo senhor. — Harold abraçou o próprio corpo. — E que deveríamos perdoá-lo.
— E vocês me perdoaram?
— Sim. — os dois responderam em uníssono.
Adam os envolveu em um abraço forte. As lágrimas voltaram a cair por seu rosto.
— Não chore papai. — sua filha sussurrou em seu ouvido. — Também sentimos falta dela. Cada um sente a perda de uma forma. Posso ser apenas uma criança de oito anos, mas posso entender um pouco sobre as pessoas. Um dia o senhor vai superar isso tudo, e ficará tudo bem novamente.
— Vão falar com a avó de vocês. Irão ficar comigo esta noite.
— Sério? — Harold perguntou animado.
— Sim. — Adam deu umas batidinhas nas costas deles. — Vão e voltem rápido.
Os gêmeos saíram correndo do quarto em direção ao corredor, onde Lexie deveria estar esperando para levá-los aos seus quartos. Sorriu para si mesmo ao pensar que teria seus filhos mais próximos naquela noite.
Alethia e Harold chegaram correndo e pularam na cama, o que provocou uma risada sincera em Adam. Ele pulou logo depois das crianças, começando a fazer cócegas em suas barrigas, o que provocou ainda mais risadas entre eles.
Depois de algum tempo, eles se cansaram. Adam os colocou devidamente na cama, cobrindo-os com a coberta. Beijou a testa de cada um, e ficou sentado na beirada da cama observando elas dormirem.
Alethia tinha cabelos castanhos e olhos verdes como os da mãe. Já Harold, possuía o cabelo castanho-avermelhado, mas os olhos também eram iguais aos da mãe. Quando pensou em comparar Arthur com os irmãos, lembrou-se que havia evitado o filho durante três anos, e não fazia a mínima ideia de como ele estava atualmente.
Bem devagar, levantou-se da cama e saiu do seu quarto em direção aos corredores. Andou até a ala dos quartos das crianças, até achar a porta que dava para o quarto de Arthur.
Parou em frente à porta, colocando a mão sobre a maçaneta. Seu coração dizia que ele deveria abrir a porta e olhar seu filho, mas sua razão dizia para ele voltar para seu quarto e dormir com Alethia e Harold.
Adam seguiu o coração.
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Apaixonados em Edimburgo
Historical FictionLivro 2 da trilogia "Irmãs Harrison". Scarlett Harrison, ouviu diversas vezes que achar um amor é sorte, coisa que ela começou a achar que não possuía. Ao ver suas irmãs casadas, felizes e apaixonadas, tinha absoluta certeza que elas tinham tido ess...