Dois

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- Princessa, bela, buon pomeriggio.

Balancei a cabeça negando que estava vendo aquele homem parado na frente de minha casa, com sua roupa de motociclista de couro empoeirada.

Seus cabelos aloirados, um pouco longos, bagunçados pelo vento lhe dava um ar medieval, sua barba cerrada de um cavaleiro romano, ainda o ajudava na composição do seu estilo. Bonito, elegante e muito sedutor.

Poderia considerá-lo gostoso, como as meninas dizem, mas criei certo pavor deste italiano conquistador, e tento manter distancia segura dele.

-  Eu tenho a impressão que a tarde não vai ser tão boa assim - resmungou o Moisés entre os dentes - Afinal se um pessoa chega sem ser avisado ou anunciado à casa doutro, bom agouro é que não é.

Ele foi enfático no final da frase, demonstrando todo o seu desafeto à presença do Roberto. Ainda, o Moisés cuspiu no chão ao seu lado, montado no cavalo.

Respirei fundo.

O Moisés fala italiano. Ele fez um intercâmbio em uma comunidade italiana no sul do Brasil quando estava no curso técnico, passou 1 ano e meio aprendendo sobre o cultivo de gado leiteiro, parreiras (vinho e sucos) e queijo. Aprendeu muito com eles, fazendo as nossas fazendas boas produtoras de queijo e iniciamos o cultivo de parreiras, aproveitando o clima quente e seco.
Ele emergiu na cultura italiana e adotou alguns hábitos incluindo a elaboração de massas divinas.

Quando ele foi me buscar na casa de minha prima, passou 3 dias muito à vontade entre os membros da família Bernaddi. O que me surpreendeu: para mim até então ele era um bicho do mato. Algumas vezes se mostrava arredio, principalmente com a presença do Roberto. A Marta, cunhada de minha prima, dizia que eram ciúmes. Eu desconversava e queria acreditar que era por causa das urgências nas duas fazendas, assim, encurtei minha estadia e voltei com ele, assim que pude.

É verdade que descaradamente o Roberto dava em cima de mim. Depois de respeitar meu período de 1 mês de luto, ele começou a me sondar. E coisa ficou bem esquisita com a chegada do Zés.
Os Bernaddis até fizeram torcida para ficarmos juntos, eu e o Roberto. Segundo Dona Tonha e Nona, éramos um casal lindo de se ver.

Teve o aniversário da Carla, quase dois anos depois do meu retorno à fazenda, e para comemorar fomos a uma casa de shows, até fiquei com o Roberto.

Ficamos nos amassos, não avancei. Não me sentir preperada para ir mais além com o Roberto Bernaddi.
Ele é bem habilidoso… diga-se de passagem. Muito bom com as mãos, com a língua, com a boca….
Senti arrepios quando o vi ali. Mas não só por lembrar dos beijos que trocamos, mas por tê-lo visto com outra mulher na noite seguinte.
Ele disse que tinha algo a tratar e que só me encontraria mais tarde.

Mas, como Deus não gosta das coisas mal feitas, a Queila e o Vinny - também cunhados de minha prima - e alguns amigos me convidaram para sair um pouco, curtir um cinema e pizza. E lá estava o Roberto, bem próximo à uma loira belissima, cheio de intimidades, como os mais velhos dizem.
Só eu os vi, não quis chamar atenção do outros Bernaddis, uma vez que ele estava bem escondido no fundo do restaurante. Então, deixei como estava.
É seguro que ele nunca demonstrou que era um homem de uma mulher só. No entanto, não era explícito em suas escolhas e se queria um relacionamento aberto, que o fosse, mas não deveria enganar aquelas que ele levava para cama.

Corria dele e a Carla tinha dado um ultimato ao seu marido, para que desmotivasse o Roberto.
Parece que não tinha adiantado muita coisa, pois ele estava aqui, depois de meses de silêncio.

- Moisés - disse lhe dando uma rabiada de olho.
- Bella Princessa, per favore,  segura melhor seus cane, no?
- Olha seu gringo filho…
- Moisés! - bradei colocando o Benin entre eles.
O Roberto não se intimidou nem um pouco por o Moisés está em cima do cavalo o ameaçando.
Passei a mão na testa e desci do cavalo.

- Boa tarde Roberto - ele pegou a minha mão e beijou sem pressa, observando a reação do meu gerente.
- O que veio fazer aqui?
- Ver te. Estou padecendo de saudades de seus sorrisos, perfume e ah… baci.
Soltei minha mão dele.
- Noto que não palare com a bella ainda, no? - ele se voltou para o Zés
- Palare o quê? - me voltei para o mesmo lado.
- Nada, Sue, é algo entre a gente…
- Vocês de segredinhos? Isso é novidade.
- Nó é tanto secreto assim, Bella Princessa… Ma, tu amico me pediu tempo….
- Ainda tenho, prazo, gringo.

O Moisés estava com raiva, mas muita raiva mesmo, segurava a guia do cavalo com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos.

- Bem, lento, no?
Minha cabeça girava entre os dois.
- Tá, bem… se é algo entre vocês e eu não preciso estar aqui…
Me voltei para as escadas. O Roberto segurou meu braço, me puxou contra si me encaixando.

- Saudades… - ele se aproximava para me beijar…
Eu ia deixar, juro, estava há mais de 4 anos sem sexo, muitos e incontáveis meses sem beijar, precisando de um abraço malicioso e não fraterno. Eu estava deixando ele me seduzir quando ouvimos o cavalo.
Moisés incitou-o a levantar a dianteira e soltar um relincho.
- Ainda estou no prazo gringo…
Me soltei rápido do abraço do Roberto e voltei à realidade.
- Prazo? De que diabos vocês estão falando?
Só ouvia a rsspiração ofegante dos cavalos.
- Ah vá à merda os dois… eu tenho mais o que fazer do que ficar neste sol quente.
Subi batendo as botas no degrau e sentei no banco para retirar os calçados sujos de poeira e estrume de vaca.
Olhei para onde os dois belos homens estavam e eles se estudavam, encarando um ao outro.
Fechei os olhos. Estou cansada e não vou me meter na briga desses dois. Se isso não tiver haver comigo, vou ficar afastada. Se eles tinham algo para tratar comigo, que tratassem e não ficassem como crianças em um parque disputando quem faz xixi mais longe.
- Almoça comigo, Zés?
- Vou soltar os cavalos…
Puxou a rédea do Benin, que tinha deixado solta.
Fiquei observando ele se afastar com os animais.
- E você…. - me voltei para o italiano - vou pedir a Leda um quarto para tomar banho. Só é bem vindo até esta noite. Amanhã depois do café você cai fora.
Ele subiu as escadas ficando à minha frente.
- Bella, meu plano e ficar até domenica…
- Vai trocando de planos… - me levantei após retirar as botas.
Ficava mais baixa que o Roberto. Sabendo disso, ele me puxou de volta fazendo meu corpo trombar contra o seu.
- Temos umas pendências, princessa…. E seu cane, vai ter que decidir o que quer da vida, perché eu já sei o que quero….
Ele avançou em mim com um beijo urgente que não recusei em retribuir.
Me desliguei, não estava com cabeça para entender o segredo entre o Roberto e o Moisés. Neste exato momento só queria me sentir desejada.

DoisWhere stories live. Discover now