{01} - DEAR FRANKIE

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    04 de janeiro de 2015.


         Domingo. As partículas de sol colidiam-se conta seu rosto pálido fazendo-a despertar. Como toda manhã, esfregou os olhos seis vezes, bocejou duas vezes e esfregou as pontas dos dedos finos contra os lábios úmidos antes de realmente acordar. Seria mais um dia seguido por seus rituais matinais, se não fosse o dia em que ela estaria se mudando, e dessa vez, para sempre.
Abriu os olhos para a triste realidade, e a primeira coisa que viu foi às malas já arrumadas no centro do quarto branco. Suspirou, agarrando as cobertas até o rosto. Rolou em seus lençóis uma última vez, pois queria guardar na memória o jeito engraçado como seu colchão se moldava em suas costas.
Ela sentiria falta do clima de Nova York, da chuva contra sua janela a acordando no meio da noite, do cheiro da comida de sua mãe, e definitivamente sentiria saudades do cheiro de pinho que ficava em suas cobertas após a lavagem de duas etapas de sua tia.
Como isso aconteceu? A garota se questionou, apertando o rosto contra o travesseiro. Desde quando as coisas estavam tão ruins a ponto de me mandarem para longe? Seus pensamentos gritavam, fazendo-a querer agir como uma criança mimada, para poder berrar contra o travesseiro e chorar um pouco mais, mas não podia fazer isso, porque tinha que aceitar o fato de que a decisão havia sido sua, e que estava fazendo o melhor para sua família.
Sabia que a mãe estava tentando fazer o seu melhor para manter tudo em ordem, e se quisesse ajudar, teria que se acostumar com o fato de estar indo embora de uma vez por todas.
Ela colocou o rosto contra a almofada, tentando impedir que seus gritos saíssem. Estava cansada. Desde que seu pai havia falecido sua vida havia virado de cabeça para baixo. Para ser sincera consigo mesma, ela sabia que as coisas estavam ruins antes mesmo dele ter partido, mas tudo pareceu piorar com sua morte.
Francesca? — Rita, sua mãe, chamou seu nome do outro lado da porta. — Frankie?!
— Estou acordada, mãe. — respondeu, levantando-se antes que seu corpo se fundisse com a cama e ela desse um jeitinho de não viajar. — Pode entrar.
A mulher não pensou duas vezes, rodou a maçaneta e colocou o rosto entre o umbral da porta enquanto ia a empurrando. Sorrio de lado vendo que sua menina, corajosa e compreensiva, já estava de pé trocando seu pijama. Ela adentrou ao quarto com passos lentos.
— E então... — sua voz soou mais triste do que deveria ao começar. Suspirou, rolando os olhos antes de realmente prosseguir. — Como você está, querida? — ela fez uma das perguntas mais estúpidas de seu repertório, uma vez que sabia exatamente como a filha estava.
O que ela esperava ouvir?! Que Frankie estava feliz em ir morar com uma tia que havia visto três vezes quando ainda era uma garotinha com dentes de leite? Ou que ela estava pulando de felicidades por ter que deixar toda sua vida, apesar de saber o quanto era importante que aceitasse a maldita troca de vida repentina?! Frankie esperava que não, porque nenhuma das alternativas estava correta. Ela estava péssima. — Ah, ok. Você não quer falar sobre isso, como sempre. — Rita constatou, movendo os ombros. — Já se despediu dos seus amigos?
— Não é como se eu quisesse lágrimas e catarro no meu último em Nova York, mãe.
  — Francesca — a mãe suspirou. —, foi você mesma quem deu a ideia quando contei sobre sua tia. — a voz da mãe havia caído um tom de tristeza a mais. — Eu sinto muito que tenhamos chegado até aqui, mas é a nossa única solução e sabe disso. — a mulher suspirou, e a menina mordeu os lábios com força. — Não temos saída, querida. É isso ou morrer de fome.
— Eu sei. — Frankie estremeceu, pois havia se lembrado de uma vida não tão distante onde coisas desse tipo nunca seriam proferidas pela mãe. Ela sabia que as coisas estavam indo de mal a pior, e havia gritado a todo pulmão que aceitava a proposta da tia. — É só que estou nervosa, entende? — boa parte daquilo era verdade. — Não tenho sequer uma lembrança dela porque era jovem demais quando a vi, e é estranho que tenhamos que dividir o mesmo teto agora. — indagou em um único suspiro. — Só queria que tivéssemos outras escolhas. Ela poderia mandar o dinheiro e...
— Sabe que não podemos receber dinheiro da família do seu pai. — Rita a interrompeu, chateada. Sim, ela sabia, mas preferia tentar essa opção á morar com uma tia que não conhecia e largar toda uma vida em Nova York. — Você vai adorar a Inglaterra, Frankie. E sua tia é adorável, tant-
— Mãe? — foi sua vez de interromper. A menina sorriu. — Será que posso ficar sozinha? — pediu. — Preciso arrumar minha mala de mão, preciso deixar um recado para meus amigos e me vestir antes que o tio Hector chegue para me levar ao aeroporto, então... Tchau. — completou, sorrindo falsamente.
A mãe suspirou, triste, mas saiu sem dizer uma só palavra, porque sabia o quão injusta a situação era para sua garotinha corajosa. Ela sabia, todos sabiam.
Quando a porta finalmente se fechou, Frankie pôde desabar em lágrimas. Não por estar sendo uma menina mimada, mas por lembrar de todas as coisas que a mãe havia passado após a morte do pai. Chorou, chorou tanto que ficou com os olhos doloridos. Não queria ir embora.

Dear Frankie {hiatus}Where stories live. Discover now