Três

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Oie bolinhos, agora a história vai de fato começar ok? E vai ter flashback também, falei e sai correndo. Boa leitura


Cabine telefônica. Foi esse o primeiro lugar que eu apareci. Eu estava um pouco tonto, ou talvez cansado, da "viajem", na verdade era uma sensação diferente de tudo, mas eu não prestei muita atenção nisso porque a sensação de sentir o ar entrando nos seus pulmões é algo maravilhoso e muito melhor do que qualquer coisa. Eu respirava. Eu sentia. Eu estava vivo. A roupa que eu usava não era, definitivamente, alguma que eu usaria normalmente. Era uma calça e um blazer preto, tudo formal demais, e um sapato muito desconfortável, além de uma pequena mala com um nome de Miles no chão. Eu peguei a mala e resolvi sair de lá, já que um senhor do lado de fora não parecia muito contente com um homem atrapalhando sua ligação. Assim que abri a porta consegui sentir algo vibrando de dentro do bolso da calça e percebi que alguém estava ligando para mim – para Miles – era desesperador. Eu já não sabia se respirar era algo tão maravilhoso assim.

- Alô? – Assim que o levei ao ouvido, barulhos de pessoas gritando era tudo o que eu escutava.

- Onde você está? – Era uma mulher e ela não me soava muito feliz. – De qualquer forma, eu não quero saber, só venha para cá. É o seu primeiro dia de trabalho e o seu chefe está louco atrás do novo secretário.

- Ir aonde? – Definitivamente, aquela não era uma pergunta inteligente, mas eu não tinha nenhuma ideia melhor.

- Ha-há. Temos um empregado engraçadinho. – Antes que eu pudesse tentar perguntar algo, eu já não escutava mais nada.

Eu não conhecia muito bem aquele lado da cidade, mas eu já tinha passado por lá algumas vezes. Prédios e mais prédios eram tudo o que se via. Pessoas andavam apressadas de um lado para o outro como se corressem para algo melhor, mas eu sabia que não. Eu precisava de um lugar calmo para abrir a pasta e talvez planejar um suicídio, o que desse menos trabalho para mim. Andei por alguns minutos até que pude ver um grande restaurante.

Epicerie Boulud. O letreiro dava entrada a algo parecido com uma grande loja de doces, pães e bolos. Era bastante grande e aconchegante. Não sabia se tinha dinheiro dentro daquela mala, mas como eu tinha um emprego talvez eu também tivesse dinheiro. Ou não, mas eu rezava para que sim. Eu não tinha percebido que estava parado por tanto tempo observando aquele local até que senti alguém esbarrando em mim ao sair. Eu tinha me esquecido o quão bom era sentir o toque de alguém. Não que eu não pudesse sentir John, ou outros mortos, mas sentir alguém vivo era muito melhor. Você passa dar valor as pequenas coisas da vida depois que morre.

Adentrei ao espaço e percebi que ele era divido por dois andares. Era muito mais bonito do que parecia ser. Sentei em uma pequena mesa no fundo, onde não tinham muitas pessoas, e pela primeira vez pude reparar em tudo a minha volta, exatamente como fazia antes de morrer. Casais, famílias, senhores e jovens andavam por aquele lugar sem prestar a mínima atenção em quem estava a sua volta. Eu nunca entendi como as pessoas conseguiam ser tão desatentas às vezes. Olhe para o lado, menino que está lendo no balcão, a menina ao seu lado está sorrindo esperando que você fale com ela. O livro em suas mãos é o seu favorito. O jeito como ela sorrir ao ver as páginas sendo virada, ela sabe exatamente o que acontecerá com o personagem principal, pois ela já sentiu as mesmas coisas que você ao ler essa frase. Ela apenas quer que você se vire e diga "Oi". Os melhores romances são aqueles que nascem de um bom livro. Ele não me ouviu, ele não ouviu a respiração dela, ele não a ouviu de nenhuma maneira. O garoto do livro levantou-se e saiu sem olhar para trás. E a menina? Esperou, esperou e esperou.

Talvez, assim como ela, eu tenha esperado que ele voltasse, mas ele não fez e ela foi embora. Eu gostava de criar histórias para pessoas desconhecidas, mas diferente das páginas de um livro, na vida real eu não podia moldar o final, eu sequer podia bater no garoto por deixa-la escapar. A pasta em cima da mesa agora tinha toda a minha atenção, eu não estava muito certo em abri-la, mas eu fiz e lá tinha: Uma chave, um celular e um papel, o abri torcendo para que tivesse algo de relevante escrito nele.

Angels Can't Fall in Love  ♡Muke♡Where stories live. Discover now