I'm Lying Here Just Crying, So Wash Me With Your Water

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Um.

A lâmina apareceu e refletiu um feixe de luz. Passei meu polegar esquerdo levemente por ela e vi o sangue escorrendo e sujando minha mão. Era afiada. Brinquei com a pequena faca por entre meus dedos, a jogando de um lado para o outro apenas com a mão esquerda. Apoiei o indicador na parte cega da faca e empurrei.

Dois.

Ela estava presa novamente. A faca daquele canivete era pequena, mas tão afiada que seria capaz de matar com apenas um golpe preciso. Tão perigosa amostra, mas em questão de segundos estava presa e incapaz de causar qualquer mal. Queria ter a habilidade do canivete, esconder sua parte perigosa a qualquer momento para não machucar ninguém importante, mas saber trazer ele à tona quando necessário.

Três.

Mas ela sempre voltava. Isso estava me deixando enfurecido! Ela volta, ela não para de voltar, ela te machuca, te corta, e faz até o seu lado masoquista cansar do sangue que escorre em seu peito. Não importa se ela ja foi importante um dia, ela tem que ficar presa!
Finquei a faca na mesa de madeira.
O dia que eu achei que nunca chegaria, ou pelo menos esperava adiar o máximo possível, estava batendo em minha porta e eu sabia que seria necessário abri-la. Ou eu vivo sem a Annabel, ou... Eu não vivo mais. Ela estava me deixando na beirada do suicídio, e eu teria que escolher que lado ficar. Apesar de não fazer a menor ideia de como.

— Gerard, eu sei que eu posso falar isso com uma certa frequência, mas você está começando a me preocupar...

Não tirei os olhos da faca.

— Eu comecei a te preocupar quando você nasceu, Michael.

— Você me entendeu. — ele revirou os olhos — Dr. Joseph me ligou hoje falando que você faltou três vezes seguidas na consulta.

Franzi o cenho em desentendimento finalmente olhando para meu irmão, que ergueu as sobrancelhas com minha reação.

— Seu psicólogo. Você realmente não sabia o nome dele?

Dei em ombros.

— Digamos que eu falo muito mais do que ele quando nos encontramos.

Ele soltou um riso falso.

— Gerard, você às vezes melhora e fica animado, conversa comigo e eu penso que meu irmão voltou a ser o que era, e isso me anima! Mas então você fica assim de novo, e eu percebo que aquele meu irmão morreu no dia que conheceu Annabel e, anos depois, foi enterrado com o corpo dela.

*

— Quer me contar o que aconteceu?

Observei o quarto pequeno e extremamente bagunçado típico de um adolescente. As paredes eram azuis e tinham alguns pôsteres aleatórios de bandas punk dos anos 80, uma prateleira cheia de LPs e alguns bonecos de colecionador. Uma escrivaninha se encontrava perto da porta, ela estava cheia de papeis espalhados, uma pilha de CDs e um aparelho para tocá-los. No chão algumas roupas estavam formando um monte entre a cama e o armário. Aquele poderia muito bem ser meu quarto de sete anos atrás.

— Seus pais não vão estranhar um cara de vinte e poucos anos com você no seu quarto?

Frank riu.

— Meus pais estão viajando. A casa é oficialmente só minha pelo final de semana.

Ele sorriu.

E, então, eu chorei.

Senti minha cara quente como nunca antes, sentia-me inchado e avermelhado. Meus ombros balançavam e o resto do corpo tremia, não era capaz de conter se quer um pedaço de mim. As lágrimas escorriam e eu sentia a trajetória individual de cada uma delas, como se cada uma tivesse uma história própria, cada uma delas representava um dos meus medos, um dos meus sonhos não sonhados, aquelas em que eu não dormi para tê-los, e aqueles que acabaram virando um pesadelo.
Dois braços envolveram meu corpo e enfiei meu rosto no pescoço de Frank enquanto eu soluçava coisas que eu esperava que ele não entendesse. Ele estava me confortando, algo que eu não esperava. E, então ficamos assim. Ficamos até eu me acalmar, cerca de vinte minutos, apenas abraçados e eu sendo reconfortado, sem segundas intenções, sem ele olhar no meu rosto e tentar me beijar. Era apenas uma preocupação real.

Insomnia//FrerardМесто, где живут истории. Откройте их для себя