décimo segundo

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30 de setembro de 2003 – Columbus, Ohio

Eu dormi muito tarde ontem.

Eu e Tyler, na verdade. A gente ficou conversando sobre como eu era ruim em jogos de luta e eu disse que da próxima vez a gente devia jogar Mario Kart. Ele riu de mim.

Aí quando passou da meia-noite a gente parou de falar só de jogos e HQs. Ele me disse que sofria bullying na escola antiga e por isso se mudou para essa. E, secretamente, agradeci a Deus por ele ter mudado de escola.
Eu não falei nada sobre meus problemas. Ele se afastaria completamente de mim se soubesse.

Ele me falou um pouco sobre a família dele e eu falei sobre a minha. Eu disse que a minha irmã Ashley faz balé e que eu tenho uma tia fanática por doces. Ele riu quando eu falei da minha tia Lisa.

O irmão dele, Zack, era tipo o melhor amigo dele até ele me conhecer. Aí Tyler disse que, desde que Zack arrumou uma namorada, ele nem ligava mais para Tyler. Era como se ele tivesse virado adulto do nada.

E aí a gente ficou conversando e conversando e conversando até que o relógio de cabeceira estava para marcar duas da manhã.

Eu disse “Tyler, eu preciso desligar”.

“Ah, mas já?”

“É claro”, eu respondi pra ele.

"Amanhã tem aula e eu não posso perder a hora, né?”

“É.” Tyler tinha dado uma pausa. Ouvi ele suspirar “Ah, mas eu gosto tanto de ouvir sua voz.”

Nenhum de nós dois falou nada até que ele continuou:

“Boa noite, Josh.”

“Boa noite, Tyler.”

E, com um puxão no estômago, eu completei:

“Dorme bem.”

Aí Tyler desligou a ligação e eu me arrependi de dizer que estava tarde.

Hoje na escola a gente se falou menos que o normal, não sei por quê. Prestei mais atenção na aula do que nos últimos dias. Eu e Tyler ficamos juntos o dia todo. Agora eu o vejo no almoço.

Minha mãe disse que amanhã à tarde ela vai me buscar na escola para irmos ao consultório da Dra. Eva. Ela disse que precisa conversar comigo o mais rápido possível.

Eu queria ter coragem de contar essas coisas para Tyler. Queria dividir minhas angústias com ele, ele é meu melhor amigo. Mas toda vez que penso em contar tudo pra ele, minha língua simplesmente se prende dentro da boca e eu desisto de tentar contar.

Talvez eu possa deixar o diário dentro da mochila dele.

Ah, não.

Ele vai achar estranho se ele souber que amo o sorriso dele.

Goner (don't let me be)Where stories live. Discover now