septuagésimo

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07 de dezembro de 2003 – Columbus, Ohio

Ontem eu tinha uma pergunta para fazer à Dra. Eva, por isso acordei bem cedo para ir ao consultório.

Quando cheguei ela perguntou se eu estava me sentindo bem, e eu falei que sim. Eu até pensei em contar o que havia acontecido com Tyler na sexta, mas achei melhor não.

Falei que eu tinha uma pergunta para fazer, e ela imediatamente pediu que eu falasse. Aí eu perguntei: “Dra. Eva, por que o meu alter ego só toma o controle quando eu escrevo no diário?”

“Você ainda escreve no diário?”, ela perguntou, surpresa.

“Claro, eu adoro guardar as melhores lembranças que eu tenho”, eu falei pra ela, sorrindo um pouco.

“Que bom”, ela disse. “Mas como assim, Josh?”

“Bem, eu notei que eu só perco o controle quando eu tô escrevendo no meu diário. Nunca aconteceu de eu estar fazendo outra coisa e o outro assumir o comando.”

Ela pensou um pouco.

“O que você costuma escrever no diário, mesmo?”

“Minhas boas lembranças”, eu respondi.

“E quem faz parte da maioria dessas boas lembranças?”, ela perguntou mais uma vez.

“Tyler”, respondi, porque era óbvio.

“O seu alter ego odeia Tyler, não é?”, ela perguntou, e eu confirmei. “Faz sentido ele querer fazer coisas ruins quando você fala de algo que ele odeia. Ele não gosta de Tyler, por isso vai querer sempre evitar que você fale dele.”

“Mas por que ele nunca apareceu quando Tyler está por perto?”, perguntei, e ela sorriu.

“O Tyler...” ela começou, lentamente. “Ele causa um certo efeito na sua mente. É complicado demais de te explicar, algo cheio de termos médicos, entende?”, ela perguntou, e eu confirmei. “Ele meio que ajuda a ‘desligar’ a sua dupla personalidade enquanto ele está por perto.”

“Então se eu ficar o tempo todo com ele, nunca mais eu serei afetado pela dupla personalidade?”, eu perguntei, cheio de esperança, mesmo que eu soubesse que era impossível eu ficar com Tyler o tempo todo.

“Não, Josh, não temos 100% de certeza que o alter ego não vai dar as caras quando você estiver com Tyler”, ela falou.

“Ah...”, eu falei. “No dia do aniversário dele ele pediu pra eu dormir lá na casa dele, mas a minha mãe não deixou”, contei.

“Você quer ir?”, ela perguntou, e eu olhei pra ela todo feliz.

“Claro que eu quero!”, respondi. “Eu posso ir?”

“Até pode, mas eu tenho que conversar com sua mãe primeiro, ok?”, Dra. Eva respondeu, e eu sorri muito. Eu não conseguia acreditar. “Temos que ver uma data pra isso.”

“Eu posso abraçar você?”, pedi, e ela disse que sim, então eu a abracei.

Talvez a Dra. Eva possa ser uma amiga. Ela parece saber bem o que fazer para me ajudar, mesmo que ela não cause o tal “efeito” que ela falou que Tyler causa em mim e me ajuda mais do que qualquer terapia, mais do que qualquer remédio.


Setenta capítulos. Meu Deus.

Goner (don't let me be)Where stories live. Discover now