quinquagésimo sétimo

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24 de novembro de 2003 – Columbus, Ohio

O dia foi perfeitamente normal na escola, exceto quando a professora de Inglês me chamou para ler um poema na frente da sala toda. Ela disse que não era preciso que eu fosse à frente da sala, e isso me deixou mais calmo. Eu sabia que minha voz estava tremendo, mas acho que fui bem.

Quando cheguei em casa, tudo estava silencioso. Fui pro meu quarto e achei minha mãe lá dentro, dizendo que queria conversar comigo.

Logo perguntei “O que fiz de errado?”, mas ela só sentou na cadeira da minha escrivaninha e pediu pra eu sentar na cama.

“Só queria saber como você tá”, ela disse. Eu fiquei muito chocado, porque ela quase nunca pergunta isso. Ela e meu pai pagam a Dra. Eva para que ela cuide de mim e eles se esquecem que são meus pais.

“Eu? Eu tô bem”, eu respondi. Segurei as mãos mais forte uma a outra. Não sabia o que minha mãe estava pretendendo com aquilo.

De repente eu pensei em uma coisa horrível. E se a Dra. Eva tivesse contado o que a gente conversou sobre eu talvez ser gay?

“Falta um mês pro Natal, não é?”, ela continuou.

“Sim”, falei. “O que tem?”

Ela sorriu.

“Eu andei pensando... Você vai dar um ukulele de presente pro Tyler no aniversário dele. E no Natal, o que você vai dar?”

Eu fiquei vermelho e abaixei a cabeça na hora, porque eu não queria que a minha mãe me olhasse naquele estado.

Eu ainda não tinha pensado no que dar de Natal a Tyler, então tentei contornar a minha mãe. Tyler era parte do meu mundo e eu não gostava do modo como ela falava de Tyler, como se ele fosse uma pessoa qualquer.

“Um abraço”, eu disse, e minha mãe riu.

“É uma boa ideia”, ela falou. “Sabe, se quiser comprar algo especial a Tyler, eu posso te dar o dinheiro para você comprar.”

“Um abraço não é especial o suficiente?”, perguntei. Minha mãe tentou fingir que não estava assustada com a minha resposta.

“Claro que sim, filho, é que... Se você der um presente e abraçá-lo depois, vai se tornar muito mais especial do que já é.”

Eu tentei sorrir depois disso só pra agradar minha mãe. Ela sorriu junto e depois me abraçou.

Não gosto muito de abraçar as pessoas, a não ser Tyler. É a única pessoa no mundo todo que eu aceito abraçar. Eu deixo até que ele me beije na bochecha.

Minha mãe saiu do quarto logo depois disso. Assim que ela saiu, aquele cara com máscara de Halloween apareceu na porta e eu estremeci. Mesmo morrendo de medo, eu levantei e fui fechar a porta do quarto. Eu fiquei muito perto dele, e ele não fez nada.

Não sei até quando ele vai ficar nessa espécie de guerra fria comigo. Eu só quero que ele vá embora de vez, será que ele não pode entender isso?

Sei que depois que eu postar esse capítulo, iremos chegar a 11K. O mais inacreditável é que há dois dias eu estava comemorando os 10K.

Como diz a sábia camilaromanoff: "ontem 9K hoje 10K amanhã 11K próximo mês 90K"

Amo vocês ❤ não desistam de mim

Goner (don't let me be)Where stories live. Discover now