Capítulo 66

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P.O.V    Diego

        Mais tempo se passou, já fazem dois  meses e uma semana que estou sem a Alice, e a cada dia dói mais. Eu posso vê-la aqui deitada nessa maca, posso sentir seu cheiro, sua pele e até sua respiração, mas também sinto que a cada minuto que passa, ela se afasta mais.
        Por algum tempo, eu fiquei em choque constante... Talvez eu ainda esteja, mas agora consigo admitir, pensar e agir. É difícil continuar vivendo normalmente quando o amor da sua vida está em um sono constante... As vezes, a comparo com a Aurora, a bela adormecida. Ela me disse uma vez que dirigiu essa peça no Ensino Fundamental, era a favorita dela, mas eu já a beijei, e ela ainda não acordou. Depois te tanto cinversar com os médicos e procurar soluções sem sucesso, tentei buscar saída no álcool e sei que ela odiaria isso, mas bêbado, eu conseguia ouví-la de vez em quando.
       Acredito que entrei numa espécie de luto mesmo com ela viva. É como se eu soubesse que vou perdê-la e não consiga suportar. É, eu não conseguiria suportar, sei que parece precipitado e que se algo acontecesse, eu iria superar e arrumar outra pessoa, afinal, sou jovem, mas não é assim. Cada vez que penso na hipótese de um mundo sem Alice meu coração se quebra, um pedacinho por vez, e eu sinto que vou desmoronar, mas me lembro que não é possível, pois já estou no chão.
        Eu comecei a beber frenéticamente por ela; assim como também parei por ela. Minha princesa não merece acordar e encontrar uma versão pior do namorado que ela já teve... Entrei para os Alcoólicos Anônimo e já estou sóbrio à duas semanas. Parece um pouco exagerado, mas eu não conseguia me controlar perto de uma garrafa de Whisky ou de Vodka, mas posso dizer que assim, sóbrio, consigo enxergar ela de uma forma bem mais bonita.
     Alice é como um anjo, doce, mágico e distante, por mais perto que esteja. Ela coloriu minha vida de uma forma inexplicável, e agora  tudo parece preto e branco de novo, não como se alguém tivesse apagado tudo, mas sim como se tivessem deletado uma obra de arte e me deixassem apenas com o esboço. Esboço da vida maravilhosa que eu tinha com ela, esboço dos momentos, dos sorrisos, das músicas e da felicidade que só ela me trazia.
        Sim, a vida passa depressa, como numa montanha russa, com altos e baixos, e foi nessa última descida que eu despenquei.
        Depois de tanto olha-la,  adormeci na poltrona.

P.O.V   Alice

       Acordo em uma sala branca, tento me mexer mas vejo que estou presa por tubos que me aplicam soro. Sinto alguém segurando minha mão, e ao olhar o vejo alí, sentado em uma poltrona, dormindo. Ele parecia cansado, mas ainda assim, lindo como sempre fora. Sem querer acordá-lo, apenas dirijo minha mão livre até a minha barriga e a acaricio, olhando para a mesma. Ainda estava tão pequena, quem olhasse, diria que não há chances de estar com dois meses de gestação. Mas eu sei que tem um pequeno ser humano aqui dentro que cresce a cada dia.
       É algo tão mágico saber que dentro de você existe outra pessoa,  alguém que depende de ti para sobreviver e que vai precisar de toda a sua proteção e carinho, chega a ser inexplicável o prazer... Claro, tem aquela pitada de nervosismo e medo do que pode mudar na minha vida, mas o amor pelo bebê não é algo que escolhemos, simplesmente acontece.
       Uma enfermeira entra no quarto e confesso que ri um pouco internamente pela expressão de surpresa no rosto dela... Acho que Diego não podia estar aqui, deve ter entrado sem ninguém ver...

— Eu... Vou... —  Ela se aproxima e mexe no soro. — Vou chamar o seu médico.

    Apenas sorrio levemente enquanto ela sai da sala. Em poucos minutos ela volta com o médico e uma prancheta na mão. Aperto a mão do Diego e sussurro o seu nome, o que foi o suficiente para que ele acordasse.

— Princesa, você acordou. — Ele sorri, um pouco perplexo.

— É, acho que sim. — Sorrio fraco.

Vítimas do CoraçãoWhere stories live. Discover now