27. Chuva de Verão

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─ Uau. ─ indaguei. ─ A casa é linda, mana. Quando vai me levar para conhecer?

─ Imaginei que fosse gostar. ─ Joana sorri orgulhosa, guardando seu celular após me mostrar as fotos da sua casa que acabou de comprar aqui no bairro. ─ Posso te levar lá a hora que quiser, é só me avisar, só está sem os móveis por enquanto.

─ Poxa, eu não acredito que vai se mudar logo, achei que fosse ficar mais tempo aqui comigo. Vou sentir sua falta.

─ Não fica assim, maninha, sabe que as portas de lá sempre estarão abertas para você, né? Eu adoraria ter sua companhia. ─ Ela me abraça. ─ E de qualquer forma, não vou me mudar tão cedo assim, ainda nem contei para nossos pais.

─ É verdade... ─ Olhei-a. ─ Não consigo imaginar nossos pais aceitando isso numa boa, principalmente a mãe, mas vamos ver, né.

─ Eu também não, mas preciso seguir com minha vida. Não posso continuar vivendo só o que eles querem.

─ Você está certa.

Fitei o teto do quarto por um tempo. Estou muito feliz por minha irmã, mas ao mesmo tempo estou triste em saber que terei que continuar nessa casa sozinha com nossos pais novamente, e por mais que ela insista que eu vá morar junto, eu não gostaria de incomodá-la.

Ela começa a encarar o teto na mesma direção que eu, e então começou a rir sozinha.

─ Você se lembra de quando éramos crianças, antes de eu sair do país, a gente vivia dizendo que ia morar junto quando crescer? A gente dizia que as paredes iam ser todas cor-de-rosa e que íamos resgatar todos os animais que rua que víssemos pela frente.

─ Sim, eu lembro. A gente dizia que ia jantar bolo de chocolate todos os dias, éramos duas idiotas. ─ Rimos juntas com as lembranças. ─ Bons tempos, você nunca devia ter ido embora.

─ Tem razão. ─ Ela suspirou. ─ Tudo parecia ser tão fácil naquela época.

─ Pois é. ─ Concordei. ─ E você já sabe como vai contar sobre isso para nossos pais?

─ Ainda não, você tem alguma ideia?

─ Você está pedindo ajuda para mim, que fiz nossos pais descobrirem o término com meu ex e minhas tatuagens meses depois, e que ainda não contei sobre meu namoro?

─ É, se depender de você estou perdida mesmo.

Rimos juntas de novo.

─ Bem, eu sei que eles confiam em você, sabem que já é adulta e responsável, então eles vão ter que entender de qualquer forma. Você viveu quase dez anos sozinha do outro lado do mundo, por que não pode viver sozinha aqui do lado de casa?

─ Uau, acho que não estou tão perdida assim com você. ─ Ela ri. ─ São ótimos argumentos.

─ É, estou acostumada com discussões. ─ Sorri sarcástica. ─ Isso depende do que eles forem falar também.

─ E afinal, mocinha, quando você vai contar sobre o namoro para eles, hein?

─ Se depender de mim, nunca.

─ Por quê? Não tem o que esconder, é um cara inteligente, tem o próprio negócio, eles vão se orgulhar de vocês.

─ Eles nunca se orgulhariam de nada vindo de mim. ─ Reviro os olhos.

─ Não diga isso, é lógico que se orgulhariam. Você está mais madura agora, e eles sabem disso. Eu sei que apesar de tudo, no fundo eles te...

─ Não. ─ cortei-a. ─ Você não sabe as coisas horríveis que eles disseram para mim.

Joana me olhou sem palavras e eu encarei o chão com remorso. Não gosto e não quero que se sinta culpada por nada que nossos pais fizeram comigo, ela não merece isso. Justo ela, a pessoa que mais ficou do meu lado em todas as situações desde que chegou aqui.

O TatuadorOnde histórias criam vida. Descubra agora