Dez - Conselho

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A cela em que fora colocada era fria e escura. Brianna estava assustada, ainda sem entender por que estavam fazendo aquilo com ela. Que mal havia feito?

Estava encostada em uma parede, sentada, abraçando os joelhos.

— Mamãe, por favor, me tire daqui... — murmurou.

— Sua mãe não a ouvirá, menininha — disse uma voz andrógena vinda do teto da cela.

— Marduk!

— Shhhhhhhh! Silêncio, menininha, ou vai piorar as coisas para o seu lado.

— O que eu fiz, Marduk?

— Essas pessoas acham que você é uma bruxa por ter dito que falou comigo. Não deve dizer a ninguém que se comunica comigo, entendeu?

— Mas por quê?

— Sem mais perguntas, por favor! — Marduk escalou a parede até ficar próximo de Brianna. — Vou procurar uma maneira de tirá-la daqui. Meu dever é protegê-la.

— Como vai me tirar daqui, Marduk?

— Mais baixo!

— Como vai me tirar daqui, Marduk? — repetiu num murmúrio.

— Não sei ainda. Preciso de um plano. Mas você deve lembrar-se de não falar novamente que me conhece, entendeu? Não diga que ouve vozes, nem fale a ninguém que está indo para o paraíso. Esse é um segredo nosso, está claro?

— Sim. Nosso segredo.

— Fique calma. Procure não falar bobagem — andou rapidamente nas quatro patas até a parede, escalou-a até o teto e passou entre as grades, saindo da cela. Do lado de fora havia apenas um guarda segurando uma lança. Não percebeu quando Marduk esgueirou-se para o teto do corredor.

O demônio passou por uma escadaria em espiral, passou por outras paredes até chegar ao jardim interior do castelo. Para fugir eles teriam que passar por tudo aquilo e ainda pular o muro. Decisivamente ele precisava de um plano. Ao fazer o caminho de volta, parou ao ver pessoas se aproximando. Era o conde James Butler, sua esposa, um padre e um homem de vestes peculiares.

— Espere — disse o padre.

Todos pararam.

— O Milorde entende o perigo da situação. Temos que agir com cautela ou a bruxa pode lançar um feitiço sobre nós.

— Oh, meu Deus! — a condessa levou as mãos ao peito.

— E o que o senhor sugere, padre?

— Veja bem, Milorde, caso levemos a garota a julgamento, poderá levar um bom tempo até que ela seja condenada. Até lá já nos terá amaldiçoado. Se é que já não o fez...

James engoliu em seco.

— Então qual é a solução?

— Pegá-la de surpresa. Ninguém mais precisa saber disso. Nós podemos queimá-la sem que ninguém saiba.

— Acho que essa é uma decisão precipitada — disse o homem de roupas curiosas, o conselheiro do conde. — O senhor tem filhos, Milorde. Com que sangue frio assassinará uma pobre menina? Sua consciência pesará para sempre.

— Não se engane pelas aparências — retrucou o padre. — As bruxas assumem qualquer forma para nos enganar. É um truque.

— Mas e se não for? — treplicou o conselheiro. — E se for apenas uma garotinha cheia de imaginação? Estarão condenando suas almas ao inferno para sempre.

— Eu sou o padre aqui!

— Chega! — interveio o conde, confuso. — Não quero cometer uma injustiça terrível, mas também não quero comprometer minha família com as forças do mal. Levem a menina para fora do castelo!

— Mas senhor...

— Está decidido. Não a estarei matando, apenas devolvendo-a para onde a trouxeram. O que acontecer com ela está nas mãos de Deus, não nas minhas. Guardas!

Dois guardas ali próximos desceram a escada em espiral. James pegou a mulher pela mão.

— Vamos, querida. Não quero que olhe nos olhos dela novamente. Padre, Conselheiro, podem se retirar.

Os dois obedeceram, seguindo caminho oposto ao do conde.

Marduk também já não estava mais ali.


  

Brianna e o Demônio [completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora