Vinte e oito: Ordem

6K 588 192
                                    


Brianna correu, com Póla atrás de si como uma sombra. A menina gritou por ajuda, gritou por socorro. Tropeçou e caiu. Póla de tão convulsa esbarrou no pequeno corpo e caiu, rolando por um pequeno declive.

A faca acidentalmente fincara-se em sua coxa. Póla urrou de dor. Brianna recompôs-se e levantou às pressas, correndo em outra direção. O vento gélido batia forte em seu rosto e a obrigava e proteger os olhos e estreitá-los. O caminho à sua frente tornara-se uma um manto branco borrado em movimento, que vez ou outra dava lugar a um tronco de árvore.

Póla levantara-se, e corria mancando em seu encalço, ignorando a dor na coxa. A faca mantinha-se em sua mão em riste com o sangue de Liam e o seu misturados.

— Volte, sua putinha! Vadia cretina, volte aqui!

Brianna viu um vulto passar em alta velocidade ao seu lado. Era algo grande como um lobo, mas não conseguiu distinguir o que era.

Póla, apesar de ferida, estava firme em sua perseguição. Brianna sentia as forças se esvaírem. Havia corrido bastante. Pensou em sua mãe. Lembrou-se de quando perguntou-a inocentemente se podia morrer para se tornar uma borboleta.

"...E você precisa me prometer que vai fazer de tudo para que demore o máximo possível. Vai viver não importa o que aconteça. Promete?"

Brianna fizera o máximo, mas sabia que logo seria alcançada, que logo morreria. Vai doer, pensou. Vai doer muito...

Escondeu-se atrás de uma árvore, mas não estava segura ali, tinha consciência disso. Póla se aproximava.

Brianna começou a rezar. Sabia que logo estaria com a mãe. O frio gelava-lhe os ossos.

Em sua frente, apesar do vento e da neve que caía impiedosamente, ela distinguiu um vulto da altura de um lobo. Era seu fim, pensou. Póla de um lado, um lobo do outro...

A coisa aproximou-se.

Aquilo não era um lobo. Nem um urso, nem qualquer outro animal que o Homem tivesse visto.

— Marduk! — seus olhos arregalaram-se de alegria.

Sim, embora estivesse bem maior do que antes e sua estrutura corporal estivesse modificada, aquele era Marduk. Ela avançou e abraçou a criatura, sem se importar com os ossos pontiagudos protuberantes em suas costas ou com a pele. Já não parecia mais com um macaquinho, pensou.

O demônio não retribuiu o abraço acalorado.

— Ela está vindo, menininha — sua voz continuava andrógina, mas parecia ainda mais gutural. — Eu preciso que me ordene que a mate.

Brianna ficou surpresa. Mas era verdade, Póla se aproximava. Mas matar...

— Marduk, apenas assuste ela e ela irá embora!

— Ordene-me que a mate, menininha! O que deixamos para trás é o que nos perseguirá mais tarde!

Póla viu seu vulto e apressou o passo.

— Decida-se, menininha! Quer que eu fique onde estou ou que a mate?

Brianna assentiu com pesar.

— Diga-me para matá-la.

Póla viu o demônio ao lado de Brianna. Levou um susto, mas estava fora de si.

— O diabo chegou cedo! Vai ter que esperar eu te matar, sua vaquinha!

Diga-me para matá-la! — Marduk gritou.

Póla avançou com a faca.

— Mate-a!

Brianna e o Demônio [completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora