Vinte e três: Batalha

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— Cavalheiros, acho que já estamos prontos — disse Últan satisfeito diante do grupo de quinze pessoas reunidas no celeiro. — O plano já está traçado, não há como haver falhas. Lembro-lhes que nós representamos toda a cidade, e nosso ato será perdoado por Deus por ser em prol de um bem maior.

Os homens gritaram, erguendo as mãos. Até mesmo Liam estava embalado pela causa. Phil não poderia estar mais acirrado com aquilo tudo, e era uma das raras ocasiões em que não estava embriagado.

O plano mesmo sendo extremamente perigoso, era simples. O xerife tinha uma grande propriedade de terra próxima a Vill of Michel, onde funcionava seu escritório, e onde guardava todos os arquivos de contabilidade. A cada seis meses, o xerife partia com um comboio de dez homens armados para Fermoy, às margens do rio Blackwater, onde ele reportava a coleta de impostos ao representante do Erário Público. No meio do caminho paravam em uma estalagem para comerem e beberem, e era ali que o grupo liderado por Últan planejava assassinar Patrick, assim que deixassem a estalagem, não tão próximo de Vill of Michel, onde culpariam salteadores comuns.

O problema era como cometer o assassinato. Os homens de Patrick eram treinados e dispunham de armaduras, que consistiam em camisas de cota de malha e elmos de metal, além de espadas e lanças.

Era onde entravam o carpinteiro e o ferreiro, que criaram arcos e flechas, e o grupo treinou durante semanas tiro ao alvo, além de espadas e facas pouco elaboradas, mas suficientes para ferirem. Também criaram armaduras rústicas de couro fervido e outras de pele, suficientes apenas para protegeram o tronco de golpes superficiais.

Lançariam flechas em chamas no comboio, assustando assim os cavalos e abatendo alguns dos saldados. Depois disso, surgindo de direções diferentes e utilizando máscaras de pano, lutariam contra os que restassem e finalmente poriam um fim à vida de Patrick Moore. O dinheiro do comboio seria dividido entre os cidadãos de Vill of Michel, afinal, aquele dinheiro pertencia a eles. Seria como nas velhas canções sobre Hobin Hood. Na verdade, Últan havia se inspirado no lendário fora-da-lei para organizar aquele plano.

O grande dia chegou. Estavam todos preparados para partir para a emboscada. Liam abraçara Owen naquela manhã com um gosto amargo de despedida na boca. Logo depois, olhou fundo nos olhos de Brianna e abraçou-a com os olhos prestes a chorar. Beijou Póla, descendo até sua protuberante barriga e beijou-a, com um terrível pressentimento. Ainda pensou em desistir. Mas era tarde demais, os outros o aguardavam.

— Aonde você vai, pai? — perguntou Owen, estranhando o comportamento de Liam.

— Trabalhar apenas, filho.

— Por que está chorando?

— É impressão sua — falou apressando-se em enxugar as lágrimas que ameaçavam transbordam de seus olhos.

— Posso ir com você?

— Não, Owen — foi Póla quem respondeu. — É assunto de adultos. Fique aqui cuidando de Brianna.

Os homens partiram. Seguiram o curso do rio Blackwater em direção a um rochedo depois da estalagem, onde se esconderiam até o momento do ataque. Mas no meio do caminho, parados no meio da estrada, estavam três soldados com armaduras e espadas desembainhadas.

— Mas o que é isso? — Liam falou nervosamente, procurando alguma resposta nos rostos dos outros insurgentes, que estavam tão assustados quanto ele.

Não demorou até que chegassem a uma apavorante conclusão.

— Alguém deletou nosso plano ao xerife —gritou Phil. — É uma armadilha!

Mal acabou de falar, do meio das árvores surgiram soldados armados, correndo ferozmente em suas direções, gritando como animais. Dezenas. Nenhum dos revoltosos estava preparado para aquilo; não estavam com as armas em mão.

Iniciou-se um massacre. Era cerca de quinze quanto pelo menos trinta soldados preparados. Alguns conseguiram desembainhar suas espadas, outros não. Os que não tiveram tempo, sentiram as lâminas frias rasgando-lhes as carnes, trespassando seus órgãos, mutilando seus membros com brutalidade. Os que foram rápidos o suficiente, mal sabiam lutar, e não trocavam muitos golpes com os soldados antes de serem atingidos; quando enfim acertavam os corpos dos inimigos, suas armaduras anulavam os golpes.

Phil lutava como um leão. Bloqueou um golpe de um dos soldados e acertou-lhe o elmo com tanta brutalidade, que o partiu. Jeaic fazia o máximo para se defender e defender Liam, que havia levado um corte no braço. Aquela confusão de armaduras e espadas e a maneira frenética com que a batalha acontecia estavam deixando Liam tonto. Defendeu um golpe com sua espada e sentiu o mundo girar enquanto cambaleava pela força do golpe, e logo teve de se esquivar de outro, mas conseguiu, por sorte, brandir a espada e enfiar a lâmina sob o braço do oponente, mas logo caiu com o traseiro no chão, com o som infernal de metal contra metal, carne sendo cortada, ossos sendo partidos, gritos de ira, de pavor, de agonia, de dor.

— Levante-se, homem! — gritou Jeaic enquanto enfrentava um dos soldados.

Liam estava entorpecido de pânico. Viu Últan ser decapitado. A cabeça do homem rodopiou no ar antes de cair neve branca pintada de vermelho no chão. Phil estava enfurecido, e isso multiplicava sua velocidade e força; seus pesados golpes desequilibravam os inimigos ou acertava-lhes mortalmente.

Liam levantou-se. Era um pesadelo. Três soldados vieram em sua direção prontos para acertá-lo. Jeaic derrubou um de seus oponentes e interpôs-se entre Liam e os três, em uma tempestade de lâminas se chocando. Liam Gritou, como se isso lhe desse mais coragem, e avançou com sua espada, chocando-a contra o ombro de um dos combatentes do xerife, fazendo-o urrar de dor. Estavam um pouco distantes do centro da batalha onde os poucos que restavam resistiam cercados, incapazes de fugir.

— Corra, Liam! — gritou Jeaic. — Corra para seus filhos!

— Venha comigo, Jeaic — gritou Liam, quase sem fôlego.

— Ouça o que digo, seu filho da puta! Dê logo o fora daqui!

Os soldados pareciam intermináveis. Jeaic os enfrentava com garra e uma agilidade que não sabia que possuía. No final das contas, os homens do xerife nem eram tão bem treinados, pensou o ruivo enquanto guerreava-os.

Liam segurou o braço ferido, e avançou em direção às árvores. Jeaic foi jogado no chão, e girou o corpo pouco antes de quase ser atingido no chão. Aproveitou o desequilíbrio de seu inimigo e acertou-lhe na perna, quase a decepando. Viu dois dos soldados seguirem em direção às árvores, atrás de Liam. Jeaic precisava protegê-lo, era seu melhor amigo.

Seguiu os homens pouco depois de ver Phil ser atravessado pela lâmina de uma espada.


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Brianna e o Demônio [completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora