Fevereiro, 2017. I.

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    — O que mudou na vida de vocês do ano passado até aqui? — A voz da professora ecoou pela sala. — Esse é o tema na nossa primeira redação. Não vou pedir para que vocês leiam para a turma, isso é uma coisa pessoal, que vocês vão escrever e ler para si. Quero que avaliem e tenham certeza de que estão mudando, crescendo, mas não deixando nada que os fazia bem para trás.

    — A senhorita vai ler? — Luísa perguntou.

    — Vou, mas vai ser algo apenas entre nós.

    A turma pareceu satisfeita com a resposta da professora e os alunos começaram, rapidamente, a escreverem suas redações.

    Maia observou todos os alunos da turma e notou que o único indiferente à proposta de redação era Matheus. O garoto encarava a folha em branco, de braços cruzados. Definitivamente, tinha muita coisa para escrever.

    A vida de Matheus virara de cabeça para baixo algumas vezes no último ano, modificando toda a sua vida e a forma de agir.

    Dianna tinha passado de "Regina George do bem" para uma das pessoas mais ignoradas do colégio, após ser chutada por Luísa.

    Melissa seria, provavelmente, incapaz de escrever aquela redação. Era evidente que falaria sobre a perda dos solos e, em seguida, dos melhores amigos, mas a negra não compreendia seus próprios sentimentos.

     Maia ainda não conhecia Lucas, mas, levando em consideração que brigara com Matheus, acreditava que o garoto tinha problemas no antigo colégio.

    Sofia e Leonardo deviam ter algo muito íntimo para estarem escrevendo suas redações pois, dentro do colégio, pareciam ser as mesmas pessoas que todos já conheciam e agiam como irmãos.

    Maia também não sabia sobre o que escrever. Era a mesma pessoa de sempre, a "única antissocial" da família, como sua irmã diria.

    Sua mãe tentara de tudo. Conversara sobre a importância da amizade, chegou até a levar a filha em uma psicóloga – que alegou que a jovem simplesmente não se abria com ela.

    Embora tentasse explicar que era uma pessoa tímida e que preferia seu universo paralelo, onde tudo girava em torno de músicas e livros, sua mãe insistia em dizer que uma hora Maia teria que enfrentar o mundo real. Não gostava de admitir, mas sabia que era verdade. O que faria quando chegasse a hora de arrumar um emprego?

     A única coisa que mudara em sua vida foi que ela ficara mais velha. Sua irmã também. E seus pais passavam por uma crise tanto financeira quanto no relacionamento.

    Decidiu que começaria por isso: estava mais velha. O resto viria aos poucos, como sempre acontecia quando começava a escrever.

    Matheus poderia começar escrevendo sobre como se tornara uma pessoa fria, mas, se fizesse, estaria concordando com o resto do colégio, e seu orgulho não permitiria isso.

    Dianna tinha a chance de admitir para si mesma pela primeira vez que seu plano falhara. Investira tanto na amizade com Luísa que, quando a loira decidiu que "não queria mais sua amizade", Dianna se viu sozinha. Isso sem nem falar do rastro que o investimento excessivo em roupas e maquiagens caras deixou. Dianna, para os outros alunos, era apenas uma garotinha de rosto bonito, mas que não tinha nada que pudesse somar na vida dos outros.

    Aparências...

    Melissa sabia exatamente sobre o que escrever, mas não sabia nem por onde começar. E nem sabia como tinha acontecido. Foi perdendo, aos poucos, o que mais a alegrava no colégio. Podia colocar a culpa toda sobre ela, mas não era sua culpa que todos os amigos tivessem se afastado de um dia para o outro. Sabia que tinha perdido todos os solos e a culpa era toda sua. Só fazia a inscrição por fazer, para não dizerem que ela não tentou. Mas não se esforçava como antes. Sabia, também, que a culpa de não fazer nem a segunda voz mais era sua. Depois de alguns meses, parou de frequentar os ensaios. Sabia que perderia a chance de cantar de vez naquele ano.

    — Não significa que acabou para você, Meli. — O coordenador do grupo insistia. — Acreditamos que está passando por uma fase complicada na sua vida e entendemos que você queira se afastar. Mas não pense que é para sempre. Sua voz é incrível e ficaríamos muito felizes de tê-la de volta quando estiver pronta. Todos te receberão de braços abertos.

    Demorou, mas Melissa começou a perceber que, sim, tinha acabado para ela.

    Naquele mesmo ano, Melissa decidira que iria na apresentação dos amigos. E foi lá que percebeu que Jasmin exercia muito bem seu papel. Arriscava dizer que a jovem tinha uma presença de palco muito melhor que a dela. Isso sem falar da voz. Melissa odiava admitir, mas que voz era aquela? Muito mais forte e bem colocada que a sua, Melissa não entendia como haviam recusado Jasmin por tanto tempo.

    Decidiu, naquele dia, que não voltaria para o grupo. Eles estavam bem sem ela.

    E também não tinha coragem de, depois de tanto tempo, voltar para o grupo e arrancar o lugar, que agora era de Jasmin, para si novamente.

    As pessoas estranharam. Principalmente quando viram Melissa cumprimentando os amigos no camarim – sem saber que aquela era a última vez que abraçaria o grupo.

    Leonardo sentia-se mal por ter cortado todos os laços de amizade que tivera com Matheus, principalmente porque só fizera isso pensando no bem do amigo, achando que, assim, ele poderia voltar a ser o cara legal que era antes, mas não funcionara.

    A única pessoa que ainda mantinha-se firme e forte ao lado dele era Sofia, e Leonardo sabia que deveria ser grato todos os dias por ainda tê-la, pois sabia que não era fácil conviver com ele e seu perfeccionismo exagerado.

    — É sério, Leo, você não precisa ficar apagando sua redação a cada dez segundos porque acha que não está boa o suficiente — Sofia insistia. — Você escreve super bem, será que pode parar de se cobrar tanto por apenas um dia?

    Leo sorriu para o nada, porque sabia que nunca conheceria outra pessoa que o entendesse tão bem quanto Sofia.

    Era quase uma irmã e gostava de mostrar, diariamente, que não se cansaria de tentar ajudá-lo, mesmo quando todos virassem as costas para ele.

    E se comprometera a fazer o mesmo pela amiga.

    Olhou para o lado e percebeu que ela também sorria para ele.

    A gratidão pelo outro vinha de ambos.

    Sofia sabia que podia ser insuportável também. Era teimosa, orgulhosa e se odiava por isso. Só pedia desculpas quando a outra pessoa também pedia, mesmo sabendo que estava errada.

    Perdera as contas das vezes em que brigada com Leonardo e ele teve que pedir desculpas para que eles voltassem a se falar normalmente.

    Sofia afastou muita gente com seu temperamento e orgulho, mas nunca Leonardo.

    — Ok, Sofi, você venceu. Eu estou errado — Leo rendeu-se. — Será que pode parar de virar a cara para mim todos os dias e vir aqui me abraçar?

    Na verdade, Sofia nunca vencia Leonardo, ele só falava aquilo porque sabia que tudo dependia dele. Leo sentia-se sempre vencedor só de fazer Sofia voltar a falar com ele.

    Lucas, por sua vez, teve vontade de pedir mais dez folhas de redação para a professora.

    Poderia começar com a mudança de colégio, mas sabia que a mudança de personalidade era muito mais importante.

    Depois de todo o preconceito que enfrentara no antigo colégio, Lucas decidiu colocar mil e uma barreiras entre ele e o resto do mundo. Fazia isso muito bem, na verdade. Pareceu, para todos os alunos, intimidador.

    Menos para Matheus.

    Apenas o fato de Matheus sem querer derrubar os cadernos de Lucas, pareceu um afronte para o garoto, que simplesmente empurrou Matheus para o outro lado do corredor. Claro que Matheus não ia deixar barato para o negro.

    Os dois foram parar na detenção.

    Era um ótimo primeiro dia de aula para Lucas, que tinha conseguido um desconto de cinquenta por cento no colégio.

    Sua mãe o mataria.

Clube dos 7 Erros [HIATUS]Where stories live. Discover now