Verdade

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Minha mão que segura o celular estremece e eu me arrependo por estar fazendo isso. Quer dizer, eu e meu pai não temos um bom relacionamento. Ele vive me ignorando e bem, eu faço o mesmo. Não que eu me importe, como vivo dizendo.

– Alô, Emily? – Ele atende com um tom confuso. Deve estar assustado pelo meu telefonema, afinal, nunca havia ligado antes. – Aconteceu alguma coisa?

– Não, está tudo bem. – Minto. – Só precisava conversar mais tarde. O que vai fazer de noite?

Ele não responde, o que me deixa ainda mais revoltada.

– Pai?

– Sim. Podemos conversar, mas tem certeza que hoje? É que eu tinha uns papéis para assinar...

– É. Hoje. – Interrompo mais uma de suas desculpas. – O espero em casa, então.

Cruzo os dedos, esperando que não cancele.

– Tudo bem. Nos vemos mais tarde. – Ele diz secamente.

E antes que possa desligar, dou uma pressionada:

– Por favor, não arrume nenhuma desculpa desta vez. É realmente importante.

Desligo, sem que ele tenha a chance de responder. Não quero ouvir mais mentiras do que já ouvi em dezesseis anos.

Nina, que já está sentada no sofá da minha casa, se anima. Jeremy também parece esperançoso. Apenas Luke é quem parece distante e entediado, como sempre.

– Deu certo?

– Sim. Só espero que ele realmente venha. – Respondo, suspirando.

***

Ouvimos alguém girar a maçaneta da porta do meu apartamento. Provavelmente é quem esperamos.

Jeremy e Nina interrompem sua animada conversa, Luke fecha o livro que estava lendo e eu me arrumo no sofá, preparando-me para o que estou prestes a fazer.

Meu pai chega na sala, vestindo seu típico terno e segurando sua maleta de sempre, e se assusta com meus convidados.

– Não sabia que teríamos visitas.

Não perco a oportunidade de dar um sorriso malicioso.

– Pois é, nós temos.

Nesse mesmo momento, os três já estão de pé esperando por uma apresentação mais formal.

– Pai, esses são Nina, Jeremy e Luke.

Meu pai força um sorriso, coisa que eu estranho, e os cumprimenta. Depois senta-se em sua poltrona e olha em seu relógio, apressado. Sinto uma leve e súbita raiva.

– Você disse que tinha que falar comigo, fale. Já sei! Você quer dinheiro para sair com seus amigos, não é? Por que não me avisou antes?! – Ele pega sua carteira e tira um cartão de crédito. – Pronto, esse é sem limites.

Se eu estava com uma leve e súbita raiva antes, então aquilo não era nada comparado ao que sinto agora. Vergonha? Talvez. Acho que é mais uma mistura dela com um certo ódio mortal.

Meu estúpido pai ainda força seu estúpido sorriso, ao estender sua estúpida mão com estúpido cartão para mim.

Quero dizer um milhão de coisas, mas faço algo que surpreende à mim mesma. Dou um tapa tão forte em sua mão, que o cartão vai parar do outro lado da sala.

Evito ao máximo olhar para Nina, Jeremy e Luke. Pois além de nervosa, estou extremamente envergonhada. A expressão de meu pai é ilegível, apesar de parecer assustado e confuso.

Opposite - Chamas IniciaisOnde histórias criam vida. Descubra agora